Review: Greta Van Fleet – The Battle at Garden’s Gate (2021)


A evolução: ela chegou. O que tanto se cobrava em relação ao Greta Van Fleet, e como era previsto pelos menos afobados, aconteceu em The Battle at Garden’s Gate, segundo disco do quarteto de Michigan. E o resultado é um álbum com potencial para silenciar a legião de haters do grupo que possuam o mínimo de senso crítico – aqueles que criticam só por criticar seguirão fazendo o mesmo dentro de seus quartos enquanto suas mães trazem seu pãozinho e café com leite.

Um dos pontos que salta de imediato aos ouvidos em The Battle at Garden’s Gate é o clima mais sombrio e contemplativo do trabalho. A grande maioria das canções é densa e com letras reflexivas, segundo a banda refletindo as diferentes realidades que os músicos tiveram contato ao viajar pelo mundo durante a turnê de Anthem of a Peaceful Army (2018) – há até mesmo uma música inspirada na passagem da banda pelo Brasil e o seu contato com as favelas de nosso país, “Tears of Rain”. Uma característica que intensifica essa percepção é o andamento mais lento e cadenciado da maioria das doze músicas, além da presença constante do órgão e piano, tocados pelo baixista Samuel Kiszka. A presença de um produtor como o experiente Greg Kurstin, que possui no currículo discos de nomes como Paul McCartney, Foo Fighters e Beck, também contribuiu para o crescimento apresentado no novo álbum.

É fácil perceber o afastamento do universo do Led Zeppelin, a principal crítica que a banda recebe desde o seu surgimento. No novo disco, a sombra de Jimmy Page e companhia é mínima, e isso é um ótimo sinal. Percebe-se aqui um movimento semelhante ao que o Rival Sons fez em Head Down (2012), seu terceiro álbum, onde a banda californiana encontrou o seu som e a partir de então o evoluiu de maneira constante, gerando obras-primas do hard rock contemporâneo como Great Western Valkyrie (2014) e Feral Roots (2019). O Greta Van Fleet caminha por uma jornada semelhante, mostrando identidade própria e revelando cada vez mais a sua personalidade. Há ecos do movimento Flower Power do final dos anos 1960 e início da década de 1970, característica essa que é exemplificada pela banda até mesmo em seu figurino “hippie do século XXI”.

De modo geral, The Battle at Garden’s Gate é um álbum que acerta na grande maioria dos movimentos que faz. Grandioso e épico, não economiza em arranjos pretensiosos e na eloquência de suas composições, mas consegue fazer isso sem soar pedante e desnecessário. A energia do EP duplo From the Tires (2017) fica em segundo plano, substituída por uma maturidade até certo ponto inesperada para uma banda formada por músicos com idades que variam entre 22 e 24 anos. Até mesmo os exageros vocais de Josh Kiszka soam mais palatáveis, ainda que sigam incomodando em alguns momentos.

Entre as músicas, destaques para a bela abertura com “Heat Above”, o balanço de “My Way, Soon”, “Built by Nations”, os ecos progressivos e psicodélicos de “Age of Machine”, a ótima “Caravel”, “The Barbarins” e o encerramento com “The Weight of Dreams”, que conta com um solo de quase quatro minutos do guitarrista Jake Kiszka.

The Battle at Garden’s Gate é surpreendente não por mostrar a já esperada evolução do Greta Van Fleet, mas sim por revelar os caminhos pelos quais esse crescimento e maturidade estão conduzindo a banda. Um belo álbum de uma banda que segue mostrando talento e potencial para crescer ainda mais.


Comentários

  1. Bom...o moleque canta mal...mas até aí um tal de Geddy Lee parece um rato esganiçando e todo mundo adora. Faz parte do charme da banda.
    É uma bela banda sim e tem um belo futuro pela frente (esse descolamento do LZ já podia ser percebido no primeiro disco de verdade deles, já que o outro era uma coletanea de EPs.)
    Abc

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  2. É um puta álbum! Grandioso demais, muito ambicioso e, a não ser que o tempo prove o contrário, acertou em cheio! O Greta já é realidade.

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  3. Já gostava de Greta e continuo gostando. Mais um álbum pra colocar no favorito do meu Deezer e deixar rolar !
    Ps - também acho que uma amansada nos vocais, certas vezes incômodas, viria bem a calhar.

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  4. O sentimento que tenho é esse: Quando escuto Greta dá vontade de escutar Led Zeppelin ! Mas os guris tem seus méritos ! A mesma coisa acontece com a banda Orchid que todos dizem que soa como Black Sabbath e é isso mesmo!

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  5. No primeiro álbum , já me chamava muito a atenção a música chamada " Lover, leaver, taker , believer ," posteriormente comecei a compreender e gostar do álbum inteiro , sem apegar a esse sentimento de que tudo soava como Led Zeppelin , e considerava já o álbum a frente de seu tempo , ainda não ouvi esse novo álbum , não vejo a hora , bandas com músicos dessa faixa etária com tamanho talento tem de se tirar o chapéu

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    1. Talvez eu necessite escutar com mais frequência e sem rótulos pré-estabelecidos, vou fazer uma nova audição sem preconceitos

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  6. Achei interessante o ponto de partida de algumas canções: o início uma delas me lembrou Ecstasy of Gold, do Morricone, e outra Hotel California, do Eagles. Senti uma semelhança também de algumas melodias e vocais com o Rush. Não sei se são referências propositais ou não, mas gostei demais da forma como as músicas evoluem e se desdobram, com uma atmosfera viajante e por vezes melancólica.

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  7. Criticaram tanto o vocalista, por se parecer com o Robert Plant, que ele se perdeu. A cada disco, grita e se esganiça cada vez mais, o que prejudica as canções, que acabam ficando meio irritantes. É uma pena, pois a banda é boa. O primeiro CD (acho uma bobagem não dizerem que é o primeiro álbum só porque era a junção de dois EPs - além de confundir quem não compreende bem o que isso significa), From The Fires, ainda é o meu favorito.

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  8. Acho que com esse disco eu entendi o que muita gente critica nos vocais de Babymetal (dos quais eu aguento de boa porque sempre ouvi Jpop/ jrock), o vocalista não me desce, as composições em si são muito boas, mas os vocais...

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  9. Rapaz, não tem como, não consigo gostar desses vocais!! Mas entendo quem curte, até porque o som deles é muito bem feito mesmo. Mas aqui é puramente uma questão de gosto.

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  10. Agora são o Led Zeppelin travestidos de Queen.

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  11. Curto demais os vocais do Greta, rapaz canta muito principalmente ao vivo. Se trocar o vocal Greta acaba, na minha humilde opinião o grande diferencial da banda está exatamente aí .

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