Review: Nazareth – Hair of the Dog (1975)


Fundado em 1968 na Escócia, o Nazareth possui uma legião de fãs no Brasil – o que inclusive rendeu uma turnê pelo interior do país nos anos 2000 – e uma longa discografia. Ainda assim, raramente a banda é citada quando se fala do hard rock dos anos 1970. No entanto, ao menos um dos álbuns do quarteto merece ser colocado entre os grandes discos da história do rock pesado.

Lançado em 30 de abril de 1975, Hair of the Dog é o sexto álbum de Dan McCafferty (vocal), Manny Charlton (guitarra e sinterizador), Pete Agnew (baixo) e Darrell Sweet (bateria). Produzido pelo próprio Charlton, é um disco decisivo na carreira da banda, já que transformou o Nazareth de um sucesso local em um fenômeno de alcance mundial. Até então, a banda tinha no currículo bons trabalhos como Razamanaz (1973) e Loud ‘n’ Proud (1973), além de alguns singles de destaque como “Bad Bad Boy” e “This Flight Tonight”, cover de Joni Mitchell. Porém, ainda faltava "O" álbum na trajetória dos escoceses, e ele veio com Hair of the Dog.

A canção que dá nome ao disco abre a audição e é um dos grandes clássicos da banda e do hard rock. A introdução de bateria é seguida por um riff emblemático, e o solo central traz Manny Charlton fazendo uso do talk box. A voz de McCafferty, bastante semelhante à de Brian Johnson do AC/DC, é uma das marcas registradas da banda, sempre com muita energia e interpretações sanguíneas. “Miss Misery” traz um dos riffs mais pesados daquela primeira metade da década de 1970 e é sensacional, enquanto “Changin’ Times” vem com grandes doses de groove. O destaque é Charlton, voando alto em uma das melhores e menos comentadas músicas da banda.

O clima se mantém nas alturas com “Beggar’s Day”, com ótimo refrão e a dupla Dan e Manny à frente em uma performance arrebatadora para a canção originalmente gravada pelo Crazy Horse, uma das bandas de apoio de Neil Young. Ela se une à “Rose in the Heather”, instrumental do próprio Nazareth e que funciona como um belo epílogo. O blues dá as caras em “Whiskey Drinkin’ Woman”, enquanto a psicodélica “Please Don’t Judas Me” encerra o disco como uma espécie de spiritual transcendental.

Um fato interessante sobre o álbum é que ele deu ao mundo o maior sucesso do Nazareth, a balada “Love Hurts”, porém de maneira indireta. Pra começar, pouca gente sabe que, na verdade, “Love Hurts” é uma versão para uma canção gravada pelo duo The Everly Brothers em julho de 1960. O Nazareth gravou uma versão que foi lançada somente como single em novembro de 1974, com forma de antecipar o álbum que estava vindo, e não deu muita importância para a canção. O jogo mudou quando a A&M Records, gravadora da banda nos Estados Unidos, ouviu todas as faixas vindas das sessões de gravação e decidiu incluir “Love Hurts” no lugar de “Guilty” na edição norte-americana. A faixa foi então lançada como single nos EUA e vendeu como água, transformando-se em uma das baladas mais conhecidas do hard rock e acabou inclusive mudando o direcionamento musical do Nazareth, que desde então sempre passou a incluir uma balada mais acessível e adocicada em seus álbuns, buscando repetir o sucesso de “Love Hurts”.

Hair of the Dog ganhou reedições com o passar dos anos, sempre trazendo faixas extras. A primeira saiu em 1997 pela Castle e trouxe como bônus “Down” (o lado B do single “Love Hurts”), “Railroad Boy” e uma versão editada para “Hair of the Dog”. Em 2001 foi lançada uma edição celebrando os trinta anos do álbum e ela trouxe, além dos bônus acima, a faixa “Holy Roler” em sua gravação original e com uma mixagem alternativa (essa versão saiu no Brasil pela ST2 e é a que tenho em minha coleção). E em 2010 Hair of the Dog foi remasterizado e relançado em CD duplo com oito músicas extras, incluindo covers de Frank Zappa e do Little Feat.

Vale mencionar também que a música “Hair of the Dog” recebeu versões de diversos artistas ao longo das décadas, com destaque para a releitura feita pelo Guns N’ Roses no disco de covers The Spaghetti Incident? (1993), além de versões gravadas por Paul Di’Anno, Warrant, Britny Fox e Michael Schenker Group.

Álbum essencial do Nazareth, Hair of the Dog é discoteca básica e o registro definitivo de uma das grandes bandas da história do hard rock.


Comentários

  1. “Beggar’s Day” é realmente arrebatadora.

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  2. Grande banda sem dúvidas, fo Razamanaz ao No Mean City os caras n deviam nada a qualquer banda da época 70's, na minha opinião o grande problema era as apresentações ao vivo, o ótimo Manuel Charlton n conseguia reproduzir ao vivo oq fazia em estúdio, pegue qualquer disco da época e tente achar um timbre parecido de um álbum para outro...a banda só conseguiu soar coesa com as entradas primeiro do ótimo Zal Cleminson (SAHB) na outra guitarra no final dos anos 70's e depois com Billy Rankin e John Locke (R.I.P.) no começo dos anos 80's...aí sim a banda conseguia desenvolver e preencher os vácuos nas músicas ao vivo....

    Os anos 80's foram terríveis para a banda com discos medíocres a saída do grande Manuel Charlton e depois nos anos 90's a morte pré matura do excelente batera Darrel Sweet sepulturam a sequência....

    A decadência na voz do Dan e as entradas do horrível guitarrista Jimi Murrison (q a anos fode com riffs e solos clássicos) e do baterista quadrado e limitado Lee Agnew (filho do Pete) sepultaram de vez a qualidade dos álbuns seguintes ....e daí a esperada saída da voz da banda condenou o Nazareth ao fim...

    Pete Agnew deveria preservar o legado e mudar o nome, pq oq está aí eh um fiasco....Carl Sentace de fato eh um bom vocalista,mas nada a ver esse último disco q soltaram com o nome Nazareth....

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    1. assino embaixo. so discordo de mudar o nome. apesar de ser mesmo outra banda. o fato é nesta altura do campeonato, comecar uma banda do zero ou continuar a usar o nome ja consagrado? melhor deixar o cara ser feliz. no mais otima analise da collector room e do comentário acima

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    2. Eu gosto bastante de dois discos mais recentes deles: The Newz e Big Dogz
      No mais concordo que os dois últimos foram no máximo razoáveis e que as décadas de 80 e 90 foram bem complicadas para a banda.

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  3. Eu simplesmente amo esta banda,já ouvi a discografia completa várias vezes, e cada vez que ouço,é como se fosse a primeira vez.

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  4. Sou fã dessa banda desde criança, qdo ouvi a música star numa fm qualquer. Hoje possuo a discografia completa em cd, vinil, vídeos, etc. A melhor fase é do disco razamanaz até o disco 2xs, entrando o maravilhoso álbum snaz ao vivo. A banda diversificou seu estilo ao longo dos anos, mas se ouvirmos todos os discos com atenção, em todo eles tem músicas boas. Para mim o mais fraco de todos é o sound elixir, de 1983. Qualquer banda tem altos e baixos.

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  5. Só vi essa matéria hoje. Mas, ainda é tempo...rs. Esse disco do Nazareth é simplesmente fantástico, na minha opinião. Desde a primeira música até a apocalíptica Please Don't Judas Me. Esse eu ouço e curto desde 1975, quando foi lançado. Não cansa nunca. Tem até um vídeo com o Sean Penn sendo executado numa cadeira elétrica e a lista é exatamente Please Don't Judas Me... de arrepiar! Quanto a Beggar's Day e Love Hurts (que fez parte da versão US) são infinitamente melhores com o Nazareth...

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