Quadrinhos: Eu, Lixeiro, de Derf Backderf (2021, Darkside)


O lixo é um dos maiores problemas do mundo. Sempre foi, e continua sendo. Eu, Lixeiro, HQ escrita e desenhada por Derf Backderf, autor da ótima Meu Amigo Dahmer, deixa isso ainda mais claro. Inspirado na breve experiência como lixeiro que teve entre 1979 e 1980, Derf conta uma história que alia humor, leveza e muita – mais muita mesmo - informação. O quadrinho foi publicado nos Estados Unidos em 2015 e chegou ao Brasil no final de 2021 pela Darkside em uma edição em capa dura com 256 páginas e tradução de Érico Assis, tudo com a qualidade editorial e gráfica características da editora.

A narrativa de Backderf é, como já dita, leve e bem humorada. A HQ conta a história de J.B., que aceita o emprego após abandonar a faculdade, e mostra a sua transformação com o passar dos meses, indo do nojo inicial até a mais absoluta descrença no ser humano. Dizem que dá pra conhecer uma pessoa analisando o lixo que ela produz, certo? J.B. descobre que dá mesmo.

O ponto forte do quadrinho são as dezenas de informações, extremamente úteis e alarmantes, que o autor insere no roteiro. Com elas, ficamos sabendo coisas básicas que escolhemos ignorar – afinal de contas, o que é feito com o nosso lixo? – até dados assustadores como a quantidade de lixo que produzimos. Um norte-americano, por exemplo, produz aproximadamente 2 quilos de lixo por dia de acordo com as estimativas mais otimistas, o que faz com que o país tenha um total de quase 270 milhões de toneladas de lixo doméstico todos os anos, que é descartado em lixões e aterros sanitários gigantescos e que não param de crescer de tamanho. E isso que os dados sobre o lixo industrial não entraram na conta! No Brasil, a estimativa é que cada cidadão produza em média 1 quilo de lixo todos os dias, o que dá um total de quase 80 milhões de toneladas anualmente no país.


O descarte de toda essa sujeira não é feita, em sua maioria, de forma adequada. Ainda que acreditemos que trocar os canudos de plástico por canudos de papel irá mudar o mundo, isso está longe da verdade. A quantidade de lixo reciclado é ínfima, os dejetos são despejados em locais com proporções gigantescas e impactam de forma profunda – literalmente, pois existem aterros e lixões com mais de 120 metros de profundidade em diversos pontos dos Estados Unidos – a natureza e o meio ambiente, e, por consequência, nossa saúde.

Eu, Lixeiro é o retrato de uma sociedade pautada pela cultura do consumo desenfreado e individualista, que não se preocupa com nada além de si própria e do seu prazer instantâneo. O que essa mentalidade gera é varrido pra debaixo do tapete. E, ainda que nós, brasileiros, não estejamos tão próximos dos níveis que Derf apresenta sobre a produção de lixo em seu terra natal, não temos muitos motivos para orgulho, já que a tendência é que sigamos pelo mesmo caminho.

Uma leitura para todas as idades, e um exemplo de como as HQs podem ter um papel social e ajudar a mudar o mundo.

 


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