Review: Megadeth – The Sick, The Dying ... and The Dead! (2022)


Quando o brasileiro Kiko Loureiro entrou no Megadeth, lá em 2015, muitos afirmaram que ele duraria pouco tempo na banda devido ao seu histórico de ser uma pessoa bastante difícil, isso somado ao mesmo histórico do chefão Dave Mustaine. Para surpresa de muitos, essa junção já dura sete anos. E mais: das doze faixas do décimo sexto e recém lançado álbum The Sick, The Dying ... and The Dead!, Kiko aparece como co-autor de oito, mostrando que a parceria está sólida e mais forte do que nunca.

Contando com o time mais tecnicamente capaz desde os tempos da formação Mustaine/Friedman/Ellefson/Menza, o álbum é o primeiro a trazer a bateria de Dirk Verbeuren (ex-Soilwork e Devin Townsend Project). Além de incorporar levadas rápidas e precisas, Dirk faz parceria com o chefe na composição de “Life in Hell”. O refrão é direto: “Sou uma doença e estou viciado em mim … vou viver e morrer no inferno”. Já o estilo de composição de Kiko pode ser notado facilmente em faixas como “Dogs of Chernobyl” e “Sacrifice”, desviando sutilmente a sonoridade da banda para caminhos jamais percorridos. Vale lembrar que quando o brasileiro ingressou no Megadeth, o álbum Dystopia (2016) já estava praticamente todo pronto, restando ao guitarrista apenas a criação de pequenos riffs e alguns solos. Completando a banda temos James LoMenzo (ex-White Lion e Black Label Society) no baixo, porém no álbum o instrumento foi executado pelo fenomenal Steve DiGiorgio (atual Testament, ex-Death), depois da já conhecida polêmica que resultou a demissão de David Ellefson.

A faixa que dá nome ao disco abre os trabalhos e traz a fala “Bring out your deeeeeead”, de um personagem interpretado pelo ator Eric Idle no clássico e hilário filme Monty Python e o Cálice Sagrado, de 1975. A levada lembra bastante a de “Dystopia”, música que batizou o álbum antecessor.

A participação do rapper Ice-T em “Night Stalkers” é bem dispensável. Faixa longa, com intermináveis 6:38 mas que poderiam ter no máximo 4:00. Uma presença que aparenta apenas retribuir um favor depois que Mustaine participou do álbum Bloodlust, do Body Count, lançado em 2017.

Previamente lançada como single e com um vídeo bem legal, “Soldier On!” tem um refrão grudento e uma letra inspirada pelo período da pandemia, que fala sobre lutar cada batalha apesar das adversidades e da destruição lenta da humanidade. A atual falta de destreza do vocalista em cantar as notas altas do passado faz Mustaine buscar linhas vocais nas regiões mais graves, como em “Mission to Mars” e “Junkie”. Isso tem se tornado cada vez mais presente nos álbuns recentes e possibilita uma eventual execução melhor dessas canções ao vivo.

O CD encerra com a rápida e excelente “We’ll Be Back”, que evoca os tempos do aclamado Rust in Peace ( 1990). A versão digital ainda traz dois covers: um de “Police Truck,” do Dead Kennedys, e o outro de “This Planet’s on Fire”, de Sammy Hagar, que conta com o próprio dividindo os vocais com Mustaine.

Por fim, podemos afirmar que, além de superar um câncer de garganta, Dave Mustaine conseguiu entregar um trabalho ainda melhor que Dystopia, e isso nos dá a esperança de que ele possa seguir gravando álbuns desse nível por mais alguns anos. É difícil manter-se atualizado e relevante com quase quarenta anos de carreira e uma discografia com dezesseis álbuns de estúdio, mas o Megadeth continua digno enquanto segue sua jornada.

Por Diego Colombo


Comentários

  1. Discos como esse despertam em mim sentimentos ambivalentes. THE SICK... se deixa ouvir sem maiores percalços, a questão principal é que ele definitivamente pertence ao passado. Se o metal se tornou um reduto de "tiozões reacionários", não será um disco como esse que mudará as coisas, pelo contrário, ele as reafirmará. Tenho 2 filhos adolescentes e enquanto eu ouvia o novo disco do MEGADETH era nítida a indiferença deles com aquilo. E olha que eles até ouvem metal, só que com influências mais modernas, aquelas influências odiadas pelos "true", e não o som "das antigas" desse album. Será que o conflito de gerações colocará o metal clássico em um gueto, se é que já não colocou?

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    1. 'Será que o conflito de gerações colocará o metal clássico em um gueto, se é que já não colocou?''

      Pegando um gancho nesse comentário de indiferença dos jovens em relação a musica, ouvi um comentário recentemente de um canal no youtube que dizia os jovens de hoje estão acostumados em consumir musica e não apreciá-la, isso é reflexo de muitas coisas, desde a falência da indústria musical que entregou os pontos e foi tomada de assalto por completos idiotas, até o avanço massivo do streaming.

      E outra vamos e convenhamos a geração atual não teve a capacidade de criar um movimento arrasa quarteirão como o Punk por exemplo, o máximo que conseguiram foi o movimento do New Metal que durou 10 anos e depois foi sepultado pelo pop enlatado das grandes gravadoras, logo não é de se espantar nem um pouco a apatia dos jovens de hoje com relação a sons clássicos do passado, é puro desinteresse mesmo, acham cafona ou coisa de ''tiozão'' como voce colocou. Agora aposto que a reação deles seria diferente se o que estivesse tocando fosse um Opeth ou Paradise Lost por exemplo...

      '

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