Clássicos do Kiss relançados no Brasil


No primeiro semestre de 2022, a Universal Music surpreendeu ao lançar em nosso país a edição de 45 anos do clássico Destroyer (1976), considerado por muitos como o melhor álbum do Kiss. E neste final de ano repetiu a dose colocando no mercado a edição de 40 anos de Creatures of the Night (1982), o disco mais celebrado pelos fãs brasileiros e o trabalho responsável por apresentar o Kiss para toda uma geração de ouvintes através da turnê que o promoveu, e que marcou a primeira passagem da banda por aqui.

Esses lançamentos são surpreendentes porque existe uma enorme carência de edições nacionais, notadamente em CD, dos álbuns da banda norte-americana. Carência essa que, se pararmos para pensar, é inexplicável, pois o Kiss não apenas é uma das bandas de rock mais populares entre o público brasileiro como também teve papel central na formação de novos ouvintes ao longo dos anos. Segundos os dados do Discogs, Creatures of the Night, por exemplo, teve a sua única edição em CD nacional lançada em 1996 com uma capa alternativa mostrando a banda sem maquiagem, e só agora voltou a estar disponível no formato para o público brasileiro. Já Destroyer saiu em 1994 e foi relançado em 2009 em CD por aqui, porém em uma versão com encarte pra lá de simples. Ainda de acordo com o banco de dados do Discogs, maior fonte planetária quando falamos do colecionismo musical, clássicos como Alive! (1975), Rock and Roll Over (1976), Love Gun (1977), Lick It Up (1983) e outros jamais foram disponibilizados em CD por aqui. E mesmo os que foram, como é o caso de Revenge (1992), Alive III (1993) e MTV Unplugged (1996) - só pra ficar em títulos mais populares -, tiveram suas últimas edições nacionais no formato disponibilizadas respectivamente em 1992 (no caso de Revenge, a única vez que o disco saiu em CD aqui) e 2002 (Alive II e MTV Unplugged). Não faço ideia do motivo de isso acontecer, mas que é lamentável quando olhamos o impacto do Kiss no Brasil, isso é.

Por todo esse contexto, os relançamentos de Destroyer e Creatures of the Night são surpreendentes e devem não apenas ser celebrados, mas também aproveitados. Eu peguei ambos para substituir as edições simples que já tinha na minha coleção, e recomendo. Os títulos vêm em edições duplas com um disco extra dedicado ao material bônus, que traz gravações inéditas nos dois casos. A embalagem é um digipack gordo que se assemelha a um box, e os encartes vêm com 24 páginas com textos contando a história dos discos e com depoimentos inéditos dos músicos e produtores.


Vamos começar por Destroyer. A lista de músicas do álbum inclui alguns dos maiores clássicos da história do Kiss como “Detroit Rock City”, “God of Thunder”, “Shout It Out Loud”, “Beth” e “Do You Love Me?”, todos muito conhecidos pelos fãs. O material extra presente no segundo CD é composto por seis versões demos, cinco versões alternativas e quatro faixas gravadas ao vivo em 1976, durante a turnê de lançamento de Destroyer. Entre todas essas músicas, o grande destaque é a versão inicial de “God of Thunder” com os vocais de Paul Stanley e um arranjo diferente, com direito a coros safados após o refrão. As gravações ao vivo possuem valor histórico por capturarem o Kiss em um momento de transição, e a qualidade sonora é satisfatória.

Creatures of the Night foi o último disco da fase mascarada da banda, que após a turnê abandonou as maquiagens e começou a se apresentar de cara limpa. Essa decisão foi tomada devido à queda de popularidade do Kiss nos Estados Unidos, onde o quarteto estava se apresentando em locais cada vez menores. Os shows no Brasil, no entanto, contrastaram com essa realidade, com a banda tocando em estádios no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, com o público beirando as 200 mil pessoas no Maracanã, maior show da tour. Os próprios músicos fazem questão de mencionar isso no encarte dessa nova edição, com depoimentos de Gene Simmons e Paul Stanley sobre a passagem pelo Brasil.


O álbum traz um Kiss muito mais pesado do que o habitual, musicalmente beirando o heavy metal tão popular no início da década de 1980. A mão pesada de Eric Carr na bateria, que havia estreado no álbum anterior, o controverso Music From The Elder (1981), contribui muito para isso. Entre as músicas estão algumas das músicas preferidas dos fãs como a faixa título, a pesadíssima “Rock and Roll Hell” (com a linha de baixo de Simmons formando um trio de irmãs siamesas com “Heaven and Hell” do Black Sabbath e “Stranger in a Strange Land” do Iron Maiden), o hit “I Love It Loud” (talvez a música mais conhecida do Kiss aqui no Brasil), a excelente balada “I Still Love You” e o encerramento em alto nível com a pedrada “War Machine”. Vale mencionar que Ace Frehley, apesar de aparecer na capa e ser creditado no disco, não tocou no álbum. Vinnie Vincent, que seria efetivado no álbum seguinte, assumiu a maior parte da função, mas nomes como Robben Ford, Steve Farris e Adam Mitchell também tocaram guitarra no disco.

O segundo CD da edição de quarenta anos de Creatures of the Night traz dezesseis faixas extras, sendo nove delas versões alternativas e raridades, e as outras sete gravações ao vivo realizadas entre 1982 e 1983 durante a turnê de lançamento pelos Estados Unidos. Entre as raridades, o destaque vai para as ótimas versões demos de canções que nunca viram a luz do dia ou acabariam sendo lançadas em outros momentos como “Deadly Weapon”, “Betrayed”, “I’m A Legend Tonight” (incluída na compilação Killers, que saiu em junho de 1982, quatro meses antes de Creatures of the Night), “Nowhere to Run” (também presente em Killers) e “Not Fot the Innocent” (que entraria em Lick It Up, de 1983). As gravações ao vivo, mais uma vez, valem pelo registro histórico e apresentam qualidade de áudio apenas mediana.

Tanto pelo acabamento gráfico quanto pelo valor artístico, essas versões especiais de Destroyer e Creatures of the Night valem muito a pena. Ambas foram lançadas pela Universal Music com uma tiragem inicial de apenas 1 mil unidades e, com base na realidade atual do mercado fonográfico brasileiro, não devem ganhar novas edições. Ou seja: se você está a procura desses álbuns não deixe passar essa oportunidade. E nos resta torcer para que outros discos da banda, seja em edições comemorativas ou não, também ganhem, finalmente, edições nacionais.

Comentários

  1. Eu nunca consegui compreender os parametros utilizados pelas majors para lançar ou não determinado album no Brasil. E isso vem bem antes da crise do CD. Tudo parece tão aleatório.

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    1. Simples, falta vontade das distribuidoras, para uma banda do tamanho do Kiss seria quase que obrigação cobrir toda a a fase áurea da banda.

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