The Big Four: quando quatro gigantes fizeram história


Sabe quando a gente monta aqueles times dos sonhos no videogame? Aplique isso na música e o resultado é o Big 4, evento que reuniu as quatro maiores e principais bandas do thrash metal norte-americano: Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax.

Esse momento histórico foi eternizado em vídeo, é lógico. The Big Four: Live From Sofia, Bulgaria traz o show realizado dia 22 de junho de 2010 na capital búlgara. A apresentação aconteceu durante o Sonisphere Festival, no Vasil Levski National Stadium, e foi transmitido ao vivo via satélite para aproximadamente 800 cinemas, sendo 450 deles nos Estados Unidos e 350 na Europa, Canadá e América Latina.

O show em Sofia foi o quarto de uma série de mais de dez apresentações conjuntas entre as quatro bandas. O primeiro aconteceu em Varsóvia, na Polônia, no dia 16 de junho de 2010, e o último teve como palco o Yankee Stadium, em Nova York, em 14 de setembro de 2011. No total, o Big Four teve apenas quatorze shows e passou pela Polônia, Suíça, República Tcheca, Bulgária, Grécia, Romênia, Turquia, Alemanha, Suécia, Itália, Inglaterra, França e Estados Unidos. Todos os concertos seguiram a mesma ordem de apresentação das bandas: primeiro o Anthrax, seguido pelo Megadeth, Slayer, e com fechamento pelo Metallica. No final, todos os músicos se reuniam no palco para tocarem juntos uma versão antológica de “Am I Evil?”, canção do Diamond Head eternizada pelo Metallica.

O curioso é que apenas um dos dezessete músicos envolvidos no projeto não esteve no palco durante a versão conjunta de “Am I Evil?” presente no DVD do Big Four: Kerry King, guitarrista do Slayer. Em entrevista à revista norte-americana Revolver, Kerry disse que não tocou porque precisava editar o vídeo do Slayer que iria ao ar nos cinemas, mas sempre achei essa desculpa meio estranha, já que uma banda do tamanho do Slayer e um evento com o gigantismo do Big Four, certamente teriam editores profissionais para fazer o serviço, certo? Seus companheiros de banda, Tom Araya e Jeff Hanneman, estavam no palco mas não tocaram seus instrumentos. O vocalista e baixista do Slayer respondeu porque: “Só não gosto de tocar com outras pessoas. Achei legal eles terem feito isso. Eu não sei porque, mas é apenas algo que não gosto. James veio falar conosco sobre e eu disse: ‘Acho ótimo que vocês estejam fazendo isso, mas não estou afim. Vou fazer a foto, mas não é minha praia’. Ele pareceu um pouco chateado, então desculpa (risos)”.

Esse show histórico foi lançado em DVD e Blu-ray, e também em um box com a versão em vídeo e que inclui cinco CDs com os shows na íntegra das quatro bandas. Esses CDs só estão nessa versão deluxe e nunca foram lançados separadamente, o que é uma pena. No Brasil, só tivemos a edição em DVD duplo lançada pela Universal Music em 2011, que traz os shows completos das bandas e um documentário sobre o concerto realizado na Bulgária.

Ao contrário do que muitos pensam, o nome Big Four não veio dos próprios músicos, mas sim da imprensa. Charlie Benante, baterista do Anthrax, acredita que o primeiro a usar o termo para definir o Metallica, Slayer, Megadeth e o próprio Anthrax foi Don Kaye, jornalista da revista inglesa Kerrang!. Já Lars Ulrich lembra de Geoff Barton como o responsável, na época em que era editor da mesma revista. Seja como for, a certeza é que o termo foi utilizado pela primeira vez na imprensa musical na publicação inglesa.

Lars contou para a Revolver como surgiu a ideia para os shows: “Estávamos em Paris uma noite em 2009, depois de fazer alguns shows. Foi logo antes do Metallica ser introduzido no Rock and Roll Hall of Fame, em Cleveland. Biff Byford estava lá, e estávamos nos divertindo em um clima de comemoração, meio nostálgicos por causa de toda a coisa. Estávamos no processo de convidar todos os nossos amigos e todos os nossos parceiros no crime para virem para a cerimônia do RARHOF. Várias coisas aconteceram após algumas taças de vinho, começamos a celebrar a cena thrash da Bay Area e relembrar algumas daquelas bandas. Percebemos que seria divertido se tentássemos fazer algo que reunisse todo mundo. Não era algo para os negócios ou para a carreira de ninguém ou qualquer outra merda, foi apenas para diversão. Tudo nasceu de uma vibração muito orgânica e pura”.

E, como acontece com tudo que envolve bandas de heavy metal, a reação dos fãs se dividiu entre os que aproveitaram para curtir esse encontro histórico e aqueles que preferiram questionar o porque de essas serem as quatro bandas a estarem no Big Four, já que Exodus e Testament, por exemplo, poderiam estar no lugar do Anthrax, sempre o mais contestado dos nomes presentes no quarteto. Além dos motivos históricos, da influência, do pioneirismo e da originalidade dos quatro grupos, vale mencionar o reconhecimento dos músicos de outras bandas como Gary Holt, guitarrista do Exodus e Slayer, que comentou o tema em entrevista para a Classic Rock em 2011: “Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax de longe foram as bandas que mais venderam discos. Às vezes leio coisas do tipo 'Exodus, Testament, estas bandas eram seguidoras, por isso não estão no Big Four'. O Exodus fez tudo antes que o Metallica, mas a verdade é que tudo se resume às vendas. Eu não tenho problema com isso. Todos nessas bandas são formadas por grandes amigos meus”.

Hoje, o Big Four está bastante mudado. O Metallica segue mobilizando multidões como sempre fez. O Slayer encerrou as atividades em 2019, e Jeff Hanneman, que participou dos shows, faleceu três anos após os concertos, em 2013. O Megadeth passou por uma reformulação completa, e dos quatro músicos que estavam ao lado de Dave Mustaine na época – o guitarrista Chris Broderick, o baixista David Ellefson e o baterista Shawn Drover -, apenas Mustaine segue na banda. E o Anthrax perdeu Rob Caggiano, que foi para o Volbeat em 2013, e recebeu o guitarrista fundador do Shadows Fall, Jon Donais, em seu lugar.

O Big Four foi um momento marcante não apenas na história dessas quatro bandas fantásticas, mas também na trajetória do metal e da própria música. Algo que, infelizmente, nunca mais se repetiu.

 


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