O impacto e a influência do primeiro álbum do Black Sabbath são imensuráveis. O metal surgiu naquela sexta-feira, 13 de fevereiro de 1970, quando o álbum de estreia da banda formada por Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward chegou às lojas da Inglaterra.
O metal e suas infinitas variações: o doom lento e fantasmagórico introduzido pela chuva antes dos acordes em trítono da guitarra de Iommi na canção de abertura, batizada apropriadamente apenas com o nome da banda. O stoner de “The Wizard”, com a gaita de boca de Ozzy levando o instrumento, tão comum ao blues, para um terreno muito mais sombrio, pesado e pantanoso. O clima solto e a estrutura livre de “Behind the Wall of Sleep” deixando claro que aquele novo som jamais se fecharia em si mesmo e estaria sempre aberto para as mais variadas e improváveis experimentações, como a bateria jazzística de Bill mostrava aqui e mostraria muitas vezes depois. O peso monolítico de “N.I.B.” com Geezer ensinando que o epicentro da música não estava apenas na guitarra e poderia muito bem vir de um inesquecível riff de baixo.
A grudenta “Evil Woman”, cover da banda norte-americana Crow, poderia ter se transformado em um hit nas rádios se fosse trabalhada como deveria pela gravadora e mostrou que as doses maciças de peso apresentadas pelo Sabbath não tiravam o apelo dançante e popular de uma canção - pelo contrário, intensificavam esses atributos -, lição que a turma do hard rock californiano da década de 1980 aprendeu com perfeição. O início pra lá de climático de “Sleeping Village” antecipou em mais de uma década as introduções épicas que marcariam o power metal e outros gêneros do som pesado, enquanto as variações rítmicas e os longos solos e trechos instrumentais de “The Warning” (mais um cover, agora para uma canção do The Aynsley Dunbar Retaliation) mostraram o caminho para o que o prog metal faria anos mais tarde. Pra fechar, uma música que só entraria nas edições futuras do disco, “Wicked World”, retomando o caminho das melodias tétricas e hipnóticas presentes na faixas de abertura e no solo de “N.I.B.”, intercaladas com outro ingrediente marcante do som do Black Sabbath e que seria incorporado por praticamente toda banda de heavy metal nos anos seguintes: os trechos mais calmos e atmosféricos criando contraste com a fúria e a selvageria dos instrumentistas.
O impacto de um álbum vai muito além da quantidade de cópias que ele vendeu. Até porque, ao atingir determinado número de discos comercializados, um álbum deixa de conversar estritamente com o seu público e atinge também o público de massa, trazendo consigo benefícios e malefícios. Poucos discos foram e continuam sendo tão influentes e inovadores quanto a estreia do Black Sabbath, e essa percepção só aumenta a cada ano que passa.
Há mais de cinquenta anos, uma sexta-feira 13 mudou a história da música. E nós seguimos sentindo os impactos dessa mudança até hoje toda vez que colocamos um álbum do Black Sabbath para tocar ou damos play em qualquer disco ou playlist que mostre o quanto o metal significa para milhões de pessoas em todo o mundo.
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