Livro: Wind of Change – A História do Scorpions, de Martin Popoff (2022, Estética Torta)


Vamos deixar claro desde o início: Wind of Change é o livro mais completo já publicado no Brasil sobre o Scorpions. Escrito pela lenda do jornalismo metálico Martin Popoff, a obra ganhou edição nacional pelas mãos da Estética Torta em duas versões, uma com capa dura e outra com acabamento brochura, ambas com o mesmo conteúdo. São ao todo 400 páginas, com capa exclusiva para a edição nacional feita por Ale Santos e tradução de Gus Monsanto, vocalista brasileiro com longa carreira internacional e que trabalhou também em outra obra sobre a banda alemã publicada por aqui, a autobiografia do baterista Herman Rarebell.

Popoff estruturou o livro em 23 capítulos, mais uma introdução falando dos primórdios da banda e a parte final destinada à discografia do grupo. A edição brasileira vem com um capítulo exclusivo dedicado ao último álbum do quinteto, Rock Believer, que na época da publicação original de Popoff ainda não havia sido lançado. Esse capítulo extra foi escrito por David Araújo, do site Scorpions Brazil, e traz novas entrevistas com os músicos. Vale lembrar que David publicou também um livro sobre a sua experiência com a banda.

Wind of Change – A História do Scorpions tem um problema, e ele fica claro logo na introdução. Martin Popoff não esconde que pensa como uma parcela considerável dos fãs e prefere o som do Scorpions até o clássico Blackout (1982), e afirma não ter acompanhado a banda com atenção a partir do igualmente clássico Love At First Sting (1984), e que isso, em suas palavras, dificultou a escrita do livro. Não há problemas em ter uma preferência pessoal por uma fase ou outra de um artista, mas isso me incomodou porque, realmente, fica claro que Popoff não tem muito interesse na produção da banda a partir da metade da década de 1980, o que é um problema quando estamos falando de alguém que se dispõe a escrever um livro que conta toda a história de um artista. Editorialmente, isso se traduz em capítulos menores e mais corridos sobre os discos lançados após Love At First Sting, com uma clara falta de aprofundamento sobre esses álbuns. Um ponto em específico vale ser citado para exemplificar essa característica da obra: quando fala de “Wind of Change”, Popoff menospreza artisticamente a canção afirmando que ela “não é muito mais do que uma power ballad”. E, para contextualizar o leitor, vale resgatar os fatos: “Wind of Change” é apenas a maior música da carreira do Scorpions e teve sua inspiração após a banda tocar duas vezes na então União Soviética. A letra fala dos ventos da mudança que trazem novas oportunidades para o mundo, e a canção se transformou em um hino para a queda do Muro de Berlim e o fim a URSS. Definitivamente, é muito mais que apenas uma power ballad ...

Todas essas questões envolvendo a abordagem de Popoff são fatores que estão fora do alcance da editora brasileira, que fez um ótimo trabalho, com destaque para a inclusão de uma guarda com a icônica foto de Matthias Jabs no Rock in Rio de 1985, tocando com uma guitarra pintada com dezenas de bandeiras do Brasil. Outro ponto que mostra o cuidado editorial está no uso da fonte do logo do Scorpions nos títulos de todos os capítulos, proporcionando uma sensação de imersão ainda mais para o leitor.




A parte inicial da história da banda, notadamente a fase setentista, é abordada com paixão pelo autor e despeja dezenas de informações, indo desde os primórdios e pouco conhecidos passos iniciais do grupo até chegar ao ápice com o genial Uli Jon Roth, guitarrista que foi fundamental, junto com Rudolf Schenker, para a criação de álbuns ótimos e adorados pelos fãs como In Trance (1975), Virgin Killer (1976) e Taken by Force (1977), além do ao vivo Tokyo Tapes (1978). As controversas capas desses discos e de outros lançados após a saída de Roth, como Lovedrive (1979) e Animal Magnetism (1980) – e, notadamente, a equivocada foto que estampa a capa de Virgin Killer -, também são debatidas pelos músicos, além, é claro, de pormenores, bastidores e curiosidades sobre a composição das músicas e a gravação dos álbuns.

Herman Rarebell, baterista que entrou no Scorpions em 1977 e saiu em 1996, tem grande participação na obra, pois Popoff utiliza inúmeros trechos de entrevistas para ajudar a contar a história da banda, e sua principal fonte, pelo menos no que tange ao ápice comercial do grupo durante os anos 1980, é Rarebell. E aqui vai uma crítica ao autor, pois fica claro para quem já leu o livro de Herman ou algumas de suas entrevistas de que ele é bastante afeito a cometer certos exageros e se colocar como o grande condutor criativo da banda, o que, convenhamos, não está muito próximo da verdade. Ainda que seja o autor das letras dos maiores clássicos lançados pelo grupo durante a década de 1980 e tenha composto também algumas dessas músicas, a grande alma do Scorpions e o motor criativo do quinteto sempre foi a guitarra - e os riffs inesquecíveis - de Rudolf Schenker.

O auge de popularidade do grupo durante os anos 1980 é relatado em detalhes por Martin Popoff, e, ainda que os capítulos dedicados aos álbuns a partir de Savage Amusement (1988) transmitam a sensação de terem deixado de lado aspectos importantes sobre a concepção desses discos, é bastante informativo ler sobre o quanto a banda lutou para continuar relevante e se adaptar às novas tendências do rock durante década de 1990. Essa jornada gerou álbuns subestimados como o pesadíssimo Face the Heat (1993) e também experimentações que não foram bem sucedidas como Eye II Eye (1999), mas demonstram o quanto o Scorpions jamais ficou acomodado artisticamente.

Um outro ponto envolve outro baterista do grupo, neste caso o norte-americano James Kottak, que tocou durante vinte anos no Scorpions. A publicação original do livro de Martin Popoff foi em 2016, mesmo ano em que Kottak foi demitido da banda devido a seus problemas com álcool, porém, com exceção de sua saída mencionada rapidamente no capítulo exclusivo da edição brasileira, não há maiores detalhes sobre o estado de Kottak na época. Vale lembrar que ele foi o baterista que permaneceu por mais tempo no Scorpions, tocando com a banda durante duas décadas e dez álbuns, então seria importante que essa lacuna tivesse sido preenchida com mais informações sobre os episódios que levaram à sua saída do grupo.

Wind of Change – A História do Scorpions, apesar dos aspectos relatados, é sem dúvida e mais completa obra sobre a banda alemã já publicada no Brasil. Um livro recomendado para todos os fãs do Scorpions, e que proporciona uma excelente experiência de leitura. O Scorpions sempre foi, desde o seu primeiro show no Brasil na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, uma das bandas mais populares entre o público brasileiro, e essa multidão de fãs tem em Wind of Change uma obra para saber (quase) tudo a respeito de sua banda favorita.

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