MDNA: entre irregular e cativante, mas sempre Madonna


A impressão inicial ao ouvir MDNA é que trata-se de um álbum irregular, cujas canções funcionam muito melhor ao vivo do que nas versões presentes no álbum – o show da turnê, memorável e repleto de efeitos e coreografias, como convém à Madonna, reforça essa sensação (assista ao concerto completo aqui).

Décimo álbum de Madonna, MDNA foi lançado em março de 2012 e traz uma sonoridade totalmente focada na música eletrônica. O fato da dupla italiana de DJs Alle e Benny Benassi, que são primos, participarem da produção e composição, acentua esse fato. É um trabalho pop em sua essência, e que veio cercado de expectativa por ser o o primeiro álbum de Madonna em quatro anos, desde Hard Candy (2008), e pela artista vir de uma sequência de trabalhos aclamados como Ray of Light (1998), Music (2000), American Life (2003) e Confessions on a Dance Floor (2006).

Contando com doze faixas, MDNA abre de forma animadora com “Girl Gone Wild”, que deixa clara a pegada EDM do disco e possui um refrão super forte. Desde o início percebe-se Madonna cantando em tons mais agudos, priorizando as notas mais altas ao invés do espectro mais grave de seu timbre, o que imprime um clima mais acessível e menos denso para as canções. “Gang Bang” é uma das minhas preferidas, uma deliciosa gema pop feita sob medida para as pistas de dança e que contou com uma performance antológica na turnê de lançamento do álbum. “I’m Addicted” traz elementos de disco music, já explorados por Madonna em Confessions on a Dance Floor, e é uma das faixas mais fortes de MDNA, com um refrão explosivo. O clima continua no alto com “Turn up the Radio”, mais uma vez com um refrão contagiante.

Já “Give Me All Your Luvin’”, primeiro single, traz a participação de Nicki Minaj e M.I.A. e parece uma música de uma cantora teen como Britney Spears, que pertence à outra geração e foi influenciada pela própria Madonna. As intervenções das convidadas parecem muito mais uma tentativa de conversar com o público mais jovem do que qualquer outra coisa, e soam um tanto fora de tom. A letra, extremamente simplista, é a cereja do bolo. “Some Girls” vem a seguir e é bastante descartável, com nada digno de nota. “Superstar”, que foi lançada como single exclusivamente no Brasil em uma ação promovida pelo whisky Johnnie Walker e a Folha de São Paulo, é outro momento nada memorável.


“I Don’t Give A” a princípio teria tudo para seguir o mesmo caminho equivocado do trio anterior, mas acaba convencendo ao mostrar Madonna trilhando um caminho que ela nunca mais revisitou, ao levar a sua música o mais próximo possível do rap, mais uma vez com a participação de Nicki Minaj. A letra exterioriza a frustração pelo fim do relacionamento com o diretor Guy Ritchie, com quem teve um filho, Rocco, além de David, adotado pelo casal. A estrutura da canção, com andamento super marcado e vocais que conduzem o arranjo em diversos momentos – inclusive nos mais dramáticos -, é um dos pontos altos da faixa.

“I’m a Sinner” é outra que ganhou muito mais força ao ser apresentada ao vivo, muito por conta do refrão, feito na medida para ser cantado a plenos pulmões pelos fãs. “Love Spent” é genérica, apesar das intervenções acústicas que dão um certo ar étnico para a faixa. O álbum retorna aos trilhos com a bonita “Masterpiece”, balada que é uma das melhores canções gravadas por Madonna na década de 2010. “Falling Free” fecha o disco e é um exemplo do grande domínio melódico que Madonna sempre apresentou, com linhas vocais que deslizam sobre orquestrações quase minimalistas.

O tracklist irregular e o apelo descaradamente pop, intensificado pela predominância EDM das músicas, faz com MDNA transmita a sensação de ser um trabalho bastante descartável em detrimento às abordagens mais profundas exploradas em álbuns anteriores, notadamente em Ray of Light e American Life. Mas, indo além da impressão inicial e apesar dos pontos problemáticos, é um disco que possui excelentes momentos e pérolas que merecem ser revisitadas, notadamente “Gang Bang”, “I’m Addicted” e “Masterpiece”.

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