Review: Uganga – Libre! (2022)


O Uganga é uma das bandas mais inquietas da cena pesada brasileira. Falo isso com a experiência e admiração de quem acompanha praticamente toda a carreira do quinteto mineiro, pois estou de olho no trabalho dos caras desde 2009, ano em que lançaram Vol. 3: Caos, Carma e Conceito.

Libre!, que saiu em 2022, é o sexto disco do Uganga e mantém a evolução da banda liderada pelo vocalista Manu Joker (que, épocas atrás, foi baterista do Sarcófago). O crossover segue dando o tom, assim como a falta de pudor dos músicos em se prenderem a algum rótulo. Há metal e também há vários outros gêneros, como a espécie de fusão entre hip-hop e dub– ou seria trap? - da curtinha “Alguidar”. Para os ouvidos mais ortodoxos, “Retrovisor” é a música certa e traz um riff bem tradicional, e essa pegada mais violenta está também em “Terra dos Ventos”, que abre o disco com uma pancadaria contagiante, e na excelente “Mal Vinda Morte dos Teus Sonhos”.

“Libre”, além de batizar o disco e ser uma das grandes canções do trabalho, é uma espécie de carta de intenções da banda, que apesar de ter a sua base no metal, sempre foi além dos limites do estilo. A nova versão de “ISO 666”, presente originalmente no já citado álbum de 2009, traz letra atualizada e soa ainda mais forte. E o encerramento, com a ótima “Depois do Dub”, reafirma a liberdade criativa que sempre permeou o quinteto.

As letras seguem fortes e inteligentes, e não só abordam temas que fazem parte do cotidiano de um país dividido politicamente como é o Brasil atual, mas também vão muito além do discurso presente na maioria das bandas brasileiras e incluem citações a religiões de origem afro e outros elementos enriquecedores, com direito inclusive a samplers de falas de figuras tão contrastantes como Dona Ivone Lara e Monja Cohen. Merece menção também a linda capa, de autoria de Artur Fontenelle ao lado de Manu e do baterista Marco Henriques. A edição em CD, lançada pela parceria Xaninho Discos e Voice Music, também é muito bonita, com slipcase e encarte de dezesseis páginas com todas as letras.

Se vale uma crítica, ela vai para a produção. Assinada por Joker, aposta na crueza mas acaba deixando os instrumentos meio abafados. Nada que chegue a prejudicar o álbum, mas é um ponto que chama a atenção em relação aos discos anteriores.

O Uganga segue competente e, acima de tudo, coerente com a sua própria história em Libre!. Um disco forte e que, apesar de bastante curto (a duração total mal supera trinta minutos), mostra que a banda mineira continua na luta cantando seus ideais e propagando aquilo que acredita.


Comentários