De tempos em tempos surgem lançamentos, relançamentos ou novos itens que mostram ao mundo, de forma clara e muitas vezes chocante, o fenômeno único que foram os Beatles. A mais recente dessas revelações foi Get Back, série documental dividida em três capítulos que apresentou o Fab Four compondo e gravando o álbum Let It Be (1970). Dirigida por Peter Jackson (da triologia O Senhor dos Aneis), a série foi aclamada de forma unânime, e é um dos exemplos mais claros da genialidade do quarteto formado por Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr.
The Beatles: Get Back está disponível no Disney+ e foi lançada também em formato físico, em edições triplas tanto em DVD quanto Blu-ray, que, logicamente, não foram disponibilizadas no mercado brasileiro. O documentário ganhou também um livro com o mesmo título, este sim publicado no Brasil, e em uma linda edição. The Beatles: Get Back é uma obra em formato grande (25x30), capa dura com cinta trazendo as clássicas fotos da capa de Let It Be, acabamento luxuoso e vem com 240 páginas impressas em papel couchê. Um item que complementa a experiência de assistir ao documentário e é um must have para os fãs, uma espécie de tratado escrito sobre as sessões de Let It Be, com uma impressionante galeria de imagens do período. A obra foi publicada no Brasil pela Estética Torta em uma edição caprichadíssima e idêntica à versão gringa. A tradução é de Marcelo Vieira.
O livro abre com um prefácio de Peter Jackson, onde o diretor fala sobre a sua relação com os discos e a obra dos Beatles, e a seguir conta com uma elucidativa introdução do roteirista Hanif Kureishi, que dá contexto para o período em que o álbum foi gravado, localizando o leitor historicamente em uma das épocas mais efervescentes da cultura popular. A partir de então, mergulhamos em uma espécie de diário das gravações do álbum, com a transcrição dos diálogos do documentário e centenas de fotos dos músicos e de todos os envolvidos na concepção de Let It Be, imagens essas feitas por Ethan A. Russell, fotógrafo convidado pela própria banda para registrar as sessões e cujas fotos foram usadas na capa do disco, e por Linda Eastman, a futura esposa de Paul. A maioria dessas imagens são inéditas, e o livro também apresenta muitos frames em alta resolução, tirados diretamente das filmagens utilizadas por Jackson para a construção do documentário. Pra fechar, importante mencionar que The Beatles: Get Back é o primeiro livro oficial dos Beatles desde a publicação de The Beatles Anthology, em 2000.
O principal ponto que tanto o documentário quanto o livro deixam claros é que o clima entre Paul, John, George e Ringo não era tão pesado quanto o filme homônimo ao álbum, dirigido por Michael Lindsay-Hogg e lançado em maio de 1970, mostrou ao mundo. É claro que o distanciamento histórico somado ao sentimento de perda pelas mortes de John Lennon (assassinado em dezembro de 1980) e George Harrison (vítima de câncer em novembro de 2001) e o entendimento da importância singular do quarteto, proporcionado e evidenciado a cada ano desde o anúncio do seu fim, em abril de 1970, proporcionaram um novo olhar sobre o período final da banda mais importante da história da música, e esse sentimento fica muito claro em todo o projeto Get Back. O mergulho sem filtro no cotidiano do grupo e no processo de composição dos músicos entrega uma imersão inimaginável para quem viveu a época, e mostra o quanto os quatro integrantes conseguiram não apenas compor um álbum incrível em Let It Be como, em uma escala maior, entregar motivos de sobra a cada passo de sua trajetória para serem eternizados na história da música.
Get Back é um livro literalmente sensacional e exuberante. Assim como sua contraparte televisiva, não há como economizar nos elogios. É uma obra singular e que mostra, mais uma vez, a genialidade de uma banda sem igual, movida pela união de duas mentes criativas inquietas e contrastantes – John e Paul -, um músico discreto e genial – George – e um integrante subestimado porém dono de uma personalidade contagiante e fundamental para o funcionamento do grupo – Ringo.
Nunca houve nada igual aos Beatles. E não há nada igual ao que você encontrará nesse livro. Se você é fã do Fab Four, delicie-se e visite o paraíso através de sua leitura. Spoiler: essa foi a minha sensação a cada virada de página.
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