Edu Falaschi fez um movimento certeiro ao se reinventar e abraçar o power metal sem restrições em Vera Cruz (2021), álbum que, por mais que tenha gerado algumas críticas negativas (e é bom frisar que elas vieram, em grande parte, de quem não consome o chamado “metal melódico”, termo pelo qual o power metal fico conhecido no Brasil durante os anos 1990 e 2000), trouxe o ex-vocalista do Angra novamente para os holofotes e relançou sua carreira após um período conturbado e cheio de problemas pessoais.
Eldorado, novo álbum de Falaschi, vai na mesma linha, mas dá um passo além. Acompanhado pela mesma excelente banda que gravou o disco anterior – os guitarristas Roberto Barros e Diogo Mafra, o baixista Raphael Dafras, o tecladista Fábio Laguna e o baterista Aquiles Priester -, Edu entrega a segunda parte de uma trilogia de discos conceituais que fala sobre o “descobrimento” e exploração da América Latina. Enquanto Vera Cruz apresentou a história e foi ambientado no Brasil dos anos 1500, Eldorado leva a trama para o México da mesma época. E essa mudança temática não acontece apenas no roteiro, mas também se reflete na parte musical, como deixa claro já a primeira canção, “Señores Del Mar (Wield the Sword)”, cuja introdução conta com violões flamencos e letra cantada em espanhol por José Andrëa, ex-vocalista da banda espanhola Mägo de Oz, para depois evoluir em um power metal sensacional.
A evolução percebida em Eldorado em relação à Vera Cruz fica clara através de uma sonoridade mais orgânica, menos acelerada e menos mecânica, robótica e fria da que foi apresentada em alguns momentos do álbum anterior, notadamente na música de abertura do disco de 2021, a rapidíssima “The Ancestry”. O power metal extremo de Vera Cruz soa bem menos extremo em Eldorado, e este é o principal acerto, pois Eldorado possui muitas qualidades para cativar ouvintes que, por ventura, tenham se afastado do disco anterior justamente por esses exageros técnicos, notadamente na onipresença de fritação nas guitarras. Em Eldorado, as seis cordas soam mais melódicas e com mais feeling, principalmente nos solos de Diogo Mafra, músico excepcional e que foi deixado meio de lado devido às discussões envolvendo seu parceiro de instrumento, Roberto Barros, que mesmo sendo um adepto dos solos rapidíssimos, também consegue entregar mais emoção no novo álbum e não apenas escalas na velocidade da luz como fez em Vera Cruz.
A grande estrela do disco é Edu Falaschi, sem dúvida. A principal qualidade do vocalista é o domínio excepcional da melodia, que no seu caso é aplicado em um trabalho de composição muito acima da média. Edu sabe fazer música, sejam elas rápidas, cadenciadas ou baladas, e isso fica evidente mais uma vez em Eldorado. Todas as faixas são cativantes e formam um conjunto de canções mais fortes, na minha opinião, do que o presente em Vera Cruz. Os destaques são muitos: a abertura com a dobradinha “Señores Del Mar (Wield the Sword)”, a grudenta “Sacrifice”, “Tenochtitlán” (a única a trazer a sonoridade mais extrema e rápida na linha de Vera Cruz), o excepcional power metal quebradeira da música título (que chega a lembrar Dream Theater), a dobradinha arrepiante formada por “Q'equ'm” (com linda participação da cantora guatemalteca Sara Curruchich) e “Reign of Bones”, além de “Wings of Light”, que poderia fechar o disco. Há escorregadas, notadamente no excesso de glicose da balada “Empty Shell”, que se equilibra entre o piegas e o meloso, mas elas não comprometem o resultado final.
Disponibilizado em duas edições – digibook em capa dura e CD slipcase -, o álbum agradará em cheio quem gostou de Vera Cruz e também uma parcela daqueles que se afastaram do álbum anterior pelas questões já levantadas neste texto. A edição que tenho em mãos é a slipcase, que traz um pôster com artes diferentes em cada um dos lados, encarte de dezesseis páginas com todas as letras e uma música bônus, “Vem A Mi”, que é uma versão em espanhol da balada “Suddenly”.
Mais um grande álbum de um dos melhores músicos do metal brasileiro. E que venha a parte final da trilogia!
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