Review: Judas Priest – Invincible Shield (2024)


Um bom álbum pode ser um disco que experimenta novos caminhos, mas também um trabalho que é o oposto disso e entrega a sonoridade que não apenas os fãs estão esperando, mas que a própria banda domina. Seguindo esse raciocínio, uma banda veterana é incapaz de gravar um disco ruim, principalmente quando trabalha na segurança da linguagem que criou e sabe executar como poucos. Porém, se ela resolver sair da zona de conforto e experimentar novos caminhos, o risco é muito maior. O Judas Priest já se aventurou no passado alcançando tanto resultados discutíveis como Turbo (1986), desastrosos como Ram It Down (1988) e aclamados como Painkiller (1990).

Invincible Shield, décimo nono trabalho da lendária banda inglesa, aposta na segurança e segue a mesma abordagem aplicada em seu antecessor, Firepower (2018). Ou seja, uma sonoridade que bebe doses cavalares dos melhores momentos que o Judas deu ao mundo em mais de meio século de carreira, embalada com timbres atuais e produção contemporânea. Produzido novamente por Andy Sneap, que acumula também a função de guitarrista do quinteto no palco (no estúdio, Glenn Tipton, diagnosticado com Parkinson e afastado da banda desde 2018, segue tocando a sua guitarra), o álbum traz onze faixas, todas compostas pelo trio Tipton, Rob Halford e Richie Faulkner. Aliás, é preciso mencionar o quanto a entrada de Faulkner no lugar de um cansado K.K. Downing revitalizou o som do Judas Priest e segue sendo um fator determinante para a longevidade da banda.

Em relação a Firepower, percebe-se uma agressividade maior em muitas faixas, o que é notável em se tratando de uma banda com integrantes septuagenários (Halford, Tipton e o baixista Ian Hill). Aliás, a performance de Rob Halford é primorosa e desafia a passagem do tempo, não devendo nada aos discos clássicos. Isso não deveria surpreender ninguém, é claro, afinal estamos falando de uma das maiores vozes da história do rock, mas é revigorante ouvi-lo cantar tão bem do alto dos seus 72 anos. Canções como “Panic Attack”, “The Serpent and The King”, “As God is My Witness” e a música que dá nome ao trabalho entregam um nível de agressividade que não vimos no disco anterior, e que mostra que a banda ainda tem o desejo de ir para o lado mais acentuado do peso. Por outro lado, Invincible Shield mantém uma das características mais agradáveis não só de Firepower, mas da própria essência do Judas Priest, que é a presença de elementos de hard rock que tornam o som mais acessível. Músicas como “Devil in Disguise”, “Gates of Hell”, “Crown of Horns”, “Trial by Fire”, “Escape From Reality” e “Giants in the Sky” são exemplos disso.

Invincible Shield está no mesmo alto nível de Firepower, e os dois álbuns são, sem muito esforço, os melhores trabalhos do Judas Priest desde o retorno de Rob Halford. Musicalmente, ainda prefiro o disco de 2018, ainda que o novo álbum ganhe de lavada na questão estética, com uma capa absolutamente incrível criada pelo artista inglês Mark Wilkinson.

Após três álbuns medianos depois do retorno de Rob Halford – Angel of Retribution (2005), Nostradamus (2008) e Redeemer of Souls (2014) -, o Judas Priest encontrou uma sonoridade que equilibra peso, maturidade e experiência, e o resultado é um trabalho excelente como Invincible Shield, que vai totalmente ao encontro do que os fãs esperavam de um novo álbum da banda.

* A se lamentar o não lançamento do álbum no Brasil pela Sony Music e também a padronização mundial da edição em CD, que vem em uma embalagem digisleeve com aberturas laterais internas, o que não apenas dificulta a retirada tanto do disco quanto do encarte, como também pode danificar a embalagem se isso não for feito com extremo cuidado. Nesses casos, a dica é comprar um saquinho para colocar o CD e guardar o digisleeve também em um plástico de CD, para evitar o desgaste.


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