Review: Luis Mariutti – Unholy (2023)


A música instrumental, por suas próprias características, ergue uma barreira automática em alguns ouvintes, que se sentem incapazes de apreciar algo sem vocais. Pessoalmente, isso nunca foi problema para mim e sempre curti trabalhos instrumentais, desde discos emblemáticos como Surfing with the Alien, de Joe Satriani, até obras-primas atemporais como Kind of Blue, de Miles Davis.

Unholy, estreia solo de Luis Mariutti, não é um álbum exclusivamente instrumental. Três das oito faixas trazem os vocais de Thiago Bianchi, coprodutor junto com Hugo Mariutti, que toca a guitarra no álbum. A bateria ficou com Henrique Pucci, colega de Bianchi no Noturnall. Mas, ainda que não se encaixe completamente na categoria, trata-se de um trabalho bastante hermético por trazer o baixo como instrumento principal e, sobretudo, pela abordagem mais sombria que apresenta.

Um dos maiores nomes e referência do instrumento no Brasil, Luis Mariutti fez seu nome no Angra e no Shaman, e atualmente toca versões para canções de ambas as bandas no ShamAngra. Sua presença online é bastante marcante, fato que foi essencial para o manter em evidência através de iniciativas como o zine Mariutti Team e o festival Mariutti Fest, todos concebidos junto com sua esposa Fernanda, também sua manager.

É legal ouvir um trabalho inédito de Mariutti, afinal estamos falando de um músico fenomenal, porém Unholy soa apenas mediano. Entre as canções cantadas, a melhor de todas é “The Eye of Evil”, e o destaque vai para Bianchi, que interpreta a letra de maneira bem agressiva, mostrando a amplitude de sua voz. Nas instrumentais, o grande momento está em “Dangerous Life”, com o baixo conduzindo tudo em um groove torto. As demais, no entanto, soam ou genéricas em demasia (como a música que intitula o trabalho) ou esquecíveis, como “Journey” e “Fema”, essa última feita para a esposa. A faixa que encerra o disco, “Illustrious Nobody”, traz batidas eletrônicas e uma pegada pós-punk que seria melhor aproveitada nos trabalhos solo de Hugo Mariutti caso fosse melhor desenvolvida, já que aqui soa apenas repetitiva.

Unholy é um álbum indicado apenas para fãs do Angra, Shaman e Luis Mariutti, daqueles que querem ter tudo que seus ídolos produzem. O resultado final não chama a atenção, o que é uma pena, porque Luis Mariutti, por toda a história que possui, tem capacidade de entregar algo muito mais cativante, convincente e, principalmente, mais criativo do que o que mostrou em sua estreia solo.

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