Theory of Mind é o sexto álbum solo de Kiko Loureiro e o primeiro lançamento do guitarrista brasileiro após a sua saída do Megadeth. O disco explora o conceito da Teoria da Mente, que é a habilidade de compreender e atribuir estados mentais como crenças, emoções e intenções a si mesmo e aos outros, colaborando assim para a predição de comportamentos. Kiko parece querer, com isso, explorar os seus sentimentos em relação à tudo o que viveu após a saída do Megadeth.
Como todos os seus discos, Theory of Mind é instrumental. Aqui temos Kiko acompanhado pelos ex-colegas de Angra Felipe Andreoli no baixo e Bruno Valverde na bateria, mais a sua esposa, Maria Ilmoniemi, no teclado. A produção foi assinada pelo próprio guitarrista junto com Adair Daufembach. O álbum traz onze faixas e é o sucessor de Open Source (2020). A linda arte da capa foi criada pelo artista brasileiro Gustavo Sazes.
Kiko explora os elementos que o tornaram uma referência na guitarra, como o altíssimo nível de técnica e a habilidade para compor melodias envolventes e riffs marcantes. Em relação a seus outros trabalhos, minha percepção é de que Theory of Mind soa mais pesado, talvez uma herança dos seus anos ao lado de Dave Mustaine. Há uma profusão de passagens super intrincadas que irão fazer a alegria dos fãs, e não só dos apreciadores de guitarra, mas também de quem curte o trabalho de Andreoli e Valverde, que parecem ter nascido para tocar juntos.
É um tanto difícil atribuir significado a canções sem letras, não dá para decifrar claramente o que Kiko quis dizer em cada uma das composições, ainda que elas estejam dentro do guarda-chuva da Teoria da Mente explorado pelo álbum. Alguns títulos como “Borderliner”, “Mind Rise”, “Talking Dreams” e “The Other Side of Fear” ajudam nesse ponto, mas a percepção pode variar de pessoa para pessoa.
Entre as canções, gostei muito de “Raveled”, que alterna momentos acústicos com a guitarra única de Kiko. “Borderliner” abre o álbum com um riff e um andamento torto que me cativaram de imediato. Alguns riffs dão a impressão de que foram compostos nos tempos do Megadeth e, não aproveitados nos discos da banda, foram desenvolvidos e vieram para cá. É o caso de “Lost in Seconds” e “Point of No Return”. “Out of Nothing”, “Mind Rise” e “Talking Dreams” são excelentes e exploram grooves complexos que farão a alegria de quem gosta de música instrumental. Já “The Other Side of Fear” tem um riff que nos faz imaginar o que Kiko estaria fazendo se ainda estivesse no Angra.
Os álbuns solo de Kiko Loureiro são sempre trabalhos acima da média e mostram o guitarrista explorando possibilidades que, muitas vezes, são inviáveis em suas bandas principais. Essa sempre foi a ideia do guitarrista, e em Theory of Mind não é diferente. No entanto, essa abordagem pode afastar uma parcela dos fãs mais ortodoxos, principalmente os brasileiros, que ainda esperam ouvir algo relacionado ao power metal em um trabalho de Kiko em pleno 2024.
Se você está habituado a ouvir música instrumental, Theory of Mind se revela um álbum forte e intenso, que cresce a cada audição e vai construindo uma conexão entre a mente criativa de Kiko Loureiro e a de quem está ouvindo o disco. A conexão se desenvolve de maneira natural, mas para isso acontecer penso que você precisa ser aquele tipo de ouvinte que explora novos sons e sabe que a música vai muito além dos limites atribuídos aos gêneros musicais. Agora, se você espera uma nova “Nothing to Say”, o álbum não terá realmente nada a dizer para você.
Fico com a primeira opção.
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