Quadrinhos: Noturno, de Salvador Sanz (2023, Zarabatana Books)


O medo que alguns sentem de pássaros encontrou uma tradução perfeita em Os Pássaros (1963), de Alfred Hitchcock, filme que talvez seja o grande responsável pela imagem hostil que temos dessas aves. Se você já nutria certa aversão a elas, essa sensação provavelmente se intensificará após a leitura de Noturno, HQ escrita e desenhada por Salvador Sanz, publicada no Brasil pela Zarabatana em uma edição de 144 páginas, papel couchê, capa brochura e formato 20,8x27,8 cm, com tradução de Delfin.

Conhecido por seu trabalho voltado para o terror e o horror, Sanz tem em seu currículo obras como Legião e Mega, também publicadas pela Zarabatana. Sua principal característica é criar histórias com seres peculiares, ilustrados de forma extremamente imaginativa. A arte, nessas obras, tem um único propósito: assustar. E cumpre essa função com maestria. Combinando influências que remetem a uma fusão entre H.R. Giger e Salvador Dalí, Sanz impressiona pelo detalhamento e a complexidade das criaturas, subvertendo o conceito tradicional de ilustração bela.

Ambientada em Buenos Aires (cenário recorrente em suas obras, o que facilita a conexão com a trama), Noturno acompanha Lúcia e Lúcio, jovens que se conhecem durante um número de mágica. A partir desse encontro, suas vidas se transformam radicalmente. De pessoas comuns, ambos se tornam metamorfos, com seus corpos drasticamente alterados em transformações que ocorrem nas madrugadas. Essa premissa evoca outro clássico do cinema, o perturbador A Mosca (1986), de David Cronenberg, com o qual Noturno compartilha a eficaz exploração do horror corporal.


O roteiro se desenvolve em ritmo moderado, revelando gradualmente os elementos da história. A arte de Sanz alterna entre páginas magníficas, com criaturas incrivelmente detalhadas, e momentos focados nos aspectos humanos da narrativa. Neste ponto, em minha opinião, as expressões dos personagens poderiam ser mais aprimoradas. Senti um contraste notável entre as ilustrações das pessoas, que não são ruins, mas poderiam ser melhores, e as das criaturas, que são verdadeiramente impressionantes.

Noturno é um trabalho interessante de um quadrinista com uma carreira promissora. A edição da Zarabatana valoriza a obra de Salvador Sanz e é impecável, com um preço acessível.

Para fãs de horror e apreciadores de uma boa arte gráfica (sem fobia a pássaros!), Noturno é uma excelente recomendação.


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