Review: Linkin Park – From Zero (2024)


Nunca fui um apreciador do Linkin Park. Apesar de a banda ser um fenômeno que traduziu perfeitamente os anseios, desejos e medos de toda uma geração, talvez esse mesmo fator geracional tenha sido o que me impediu de me conectar com o grupo. Tanto que em minha coleção há apenas um título do grupo, a compilação Papercuts, lançada este ano. Porém, o retorno da banda norte-americana com Emily Armstrong no lugar do falecido Chester Bennington atiçou a minha curiosidade, principalmente por bandas com vocais femininos serem algumas das minhas favoritas.

From Zero é o primeiro álbum de canções inéditas do Linkin Park desde One More Light (2017) e também o primeiro do grupo sem a voz marcante de Chester. De cara já chama a atenção o retorno de uma sonoridade mais agressiva e alinhada com os dois primeiros álbuns, Hybrid Theory (2000) e Meteora (2003), contrastando com a pegada mais pop e eletrônica dos últimos trabalhos com Bennington. Este é um fator muito positivo, pois a banda volta a soar cheia de energia. A voz de Emily é poderosa e renova o som do grupo, com suas interações com Mike Shinoda (fundador do grupo e responsável pelos vocais rapeados, teclado e guitarra) funcionando muito bem. Musicalmente o grupo não revoluciona nada, preferindo apostar em receitas já testadas e aprovadas, o que me parece uma decisão acertada para um trabalho de renascimento como From Zero, em que o sexteto teve que recomeçar, com o perdão do trocadilho, praticamente do zero após a morte de Chester.

Produzido pelo próprio Shinoda, o disco tem pouco mais de trinta minutos e é extremamente coeso. Além de Emily, o álbum marca também a estreia do baterista Colin Brittain. As onze faixas (a primeira é apenas uma pequena intro) são fortíssimas e muito bem desenvolvidas, e foram construídas dentro dos parâmetros que a banda domina, mas também dando um grande destaque para a poderosa e agradável voz de Emily Armstrong. Vinda do Dead Sara, uma das bandas mais legais e menos faladas do rock alternativo norte-americano, ela canta muito e possui um enorme alcance, com variações interessantes e uma capacidade de interpretação digna de nota, o que confere bastante emoção e pegada às composições, algo fundamental na receita musical do Linkin Park.

Entre as canções, destaque imediato para “The Emptiness Machine”, que abre o disco após a breve intro. A faixa é redonda do início ao fim, com Shinoda preparando o terreno para a estreia da voz de Emily, que só entra depois do primeiro minuto e já mostra de cara o seu poder, variando entre um timbre doce nos versos e um canto mais rasgado e agressivo no refrão. Uma pedrada com cara de hit e potencial para se tornar um novo clássico do grupo. “Cut the Bridge” vai na mesma pegada, apostando no peso e em um refrão pra lá de contagiante. O alto nível se mantém com “Heavy is the Crown”, que mais uma vez, como nas duas anteriores, vem com grande interação entre Shinoda e Armstrong, além de melodias grudentas e explosões sonoras.

A banda sai da fórmula em “Over Each Other”, espécie de power ballad para os padrões do Linkin Park, e que entrega uma das melhores performances de Emily Armstrong em todo o disco. Pode-se gostar ou não de sua escolha e até mesmo do retorno da banda, mas é impossível não concordar que ela é uma ótima vocalista. No outro lado do espectro musical, “Casuality” mostra Emily explorando um vocal gutural, o que era raro até mesmo com Chester (lembro apenas de “Faint”). A canção é rápida e a mais agressiva, com um refrão que deve abrir rodas durante os shows.

O rap, sempre presente no universo do Linkin Park, dá o tom de “Overflow”, uma canção mais introspectiva e com batidas pesadas e densas, onde mais uma vez Emily mostra a versatilidade de sua voz, enquanto Shinoda assume o comando e conduz tudo. A pesada “Two Faced” retorna à sonoridade clássica do nu metal dos anos 2000 e parece ter sido feita sob medida para os fãs das antigas.

O destaque final vai para a poderosíssima “IGYEIH” – cujo título significa “I Give You Everything I Have”, em tradução literal “Eu te dou tudo o que tenho”) – uma das melhores canções do disco e com uma performance incrível de Emily Armstrong, enquanto a banda explora mais uma vez a pegada dos primeiros álbuns.

É normal que os fãs, principalmente os mais dedicados, se sintam no direito de exigir o fim das atividades de uma banda após a perda de um integrante emblemático como Chester Bennington. Com o Linkin Park não foi diferente e não foram poucas as reações negativas ao retorno do grupo e à chegada da nova vocalista. Porém, por mais que o fã acredite que o seu amor e dedicação à uma banda lhe dá o direito de decidir o seu destino, ele não possui influência nenhuma nisso. Este poder é dos integrantes, e só deles. Se Mike Shinoda e os demais músicos do Linkin Park se sentem bem e com algo ainda a dizer e mostrar, estão no pleno direito de seguir em frente. A morte de Chester Bennington foi traumática e ele foi uma das maiores vozes de sua geração, mas a vida continua. E essa continuação tem em Emily Armstrong o seu grande combustível e inspiração. Sua performance em From Zero é excelente e aponta para um futuro onde o Linkin Park seguirá presente, além de colocar novamente os holofotes sobre a banda, uma das mais populares do rock do século XXI. A chegada de Emily tem potencial inclusive para atrair novos fãs para o Linkin Park, como é o caso deste que voz escreve.

Belo retorno. Belo disco. A contagem recomeçou do zero, e uma nova história está sendo vivida pelo Linkin Park.


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