Seventh Star (1986): um testemunho da resiliência de Tony Iommi


Seventh Star
, lançado em 28 de janeiro de 1986, marca um momento peculiar na carreira do Black Sabbath. Originalmente concebido como um álbum solo de Tony Iommi, foi lançado sob o nome da banda devido a pressões da gravadora. Este contexto molda a identidade do disco, que se distancia do som clássico do Sabbath e abraça elementos mais próximos do hard rock e do blues rock, típicos da cena dos anos 1980.

O vocalista Glenn Hughes, ex-Trapeze e Deep Purple, imprimiu ao álbum um tom melódico e cheio de soul, marcando uma ruptura significativa com os estilos mais sombrios e ásperos de Ozzy Osbourne e Ronnie James Dio. A formação da banda nesta fase era transitória, com Tony Iommi como o único membro original do Black Sabbath, ao lado de Geoff Nicholls (teclados), Dave Spitz (baixo) e Eric Singer (bateria, que mais tarde entraria no Kiss, banda onde está até hoje).

O álbum foi produzido por Jeff Glixman, trazendo uma sonoridade mais limpa e polida. Musicalmente, incorpora riffs característicos de Iommi, mas explora territórios menos pesados, muitas vezes com um toque de AOR. 


"In for the Kill" é uma abertura pesada e dinâmica, com riffs marcantes. Glenn Hughes entrega vocais poderosos, mesclando agressividade e melodia. A balada "No Stranger to Love", com uma vibe mais emotiva e melódica, é centrada no vocal de Hughes e no solo expressivo de Iommi. Teve até um videoclipe que reflete a estética dos anos 1980. "Turn to Stone" é uma canção energética e direta, com uma pegada mais típica do hard rock. O trabalho de guitarra de Iommi brilha aqui. "Seventh Star", a faixa-título, é uma das mais próximas do estilo tradicional do Black Sabbath, com uma atmosfera sombria e riffs pesados. Rápida e com uma pegada quase metálica, "Danger Zone" destaca-se pelo ritmo acelerado e pelas linhas de bateria de Eric Singer. E "Heart Like a Wheel" é uma fusão interessante entre blues e hard rock, mostrando o alcance estilístico de Hughes e a versatilidade de Iommi.

Embora Seventh Star seja um álbum divisivo entre os fãs do Black Sabbath, recebeu elogios pelo desempenho marcante de Glenn Hughes e pela habilidade de Tony Iommi em explorar novas direções musicais. Frequentemente considerado uma anomalia na discografia da banda, o álbum possui um valor significativo como testemunho da capacidade de reinvenção de Iommi, que soube equilibrar inovação e sua identidade artística em um momento de transição.

A turnê de Seventh Star foi marcada por turbulências que refletiam os desafios internos enfrentados pela banda. Glenn Hughes, cuja voz potente foi um dos destaques do álbum, enfrentava sérios problemas de saúde agravados pelo abuso de substâncias, o que impactou diretamente seu desempenho nos primeiros shows. Sua capacidade vocal, embora inegavelmente brilhante no estúdio, estava comprometida ao vivo, causando preocupação tanto na banda quanto entre os fãs.

Após algumas apresentações problemáticas, Hughes foi substituído por Ray Gillen, um jovem e talentoso vocalista que trouxe nova energia para a turnê. A entrada de Gillen ajudou a estabilizar os shows, mas também evidenciou as dificuldades enfrentadas pela formação transitória da banda. Essa mudança repentina reforçou a percepção de que o Seventh Star era, essencialmente, um projeto de Tony Iommi cercado por músicos convidados, ao invés de um esforço colaborativo típico do Black Sabbath.

Seventh Star não é um álbum clássico do Black Sabbath no sentido tradicional, mas é um trabalho digno de apreciação por suas composições e pela ousadia de experimentar novas direções musicais. Ele reflete um momento de transição e incertezas para a banda, mas também é um testemunho da resiliência de Tony Iommi como um dos maiores e mais inovadores guitarrista de todos os tempos.


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