Brasil (1989): o clássico do Ratos de Porão que definiu o crossover thrash brasileiro


Lançado em 1989, Brasil é um dos álbuns mais icônicos do Ratos de Porão e um clássico incontestável do crossover thrash brasileiro. O disco consolidou a sonoridade agressiva do grupo, misturando hardcore punk e thrash metal, além de apresentar uma forte crítica social e política ao Brasil da época.

No final dos anos 1980, o Brasil vivia um momento de transição política com o fim da ditadura militar e o início da Nova República, mas os problemas sociais, como desigualdade, violência e corrupção, continuavam intensos. O Ratos de Porão capturou essa realidade com letras ácidas e agressivas, que abordam desde repressão policial até o descaso com a população pobre.

Musicalmente, Brasil mostra uma evolução técnica da banda, com João Gordo afiando seus vocais raivosos, Jão entregando riffs rápidos e pesados, e a cozinha formada por Jabá (baixo) e Spaghetti (bateria) mantendo a brutalidade do som. A influência do thrash metal, que já aparecia em Cada Dia Mais Sujo e Agressivo (1987), se torna ainda mais evidente, aproximando o RDP de bandas como Slayer, D.R.I. e Suicidal Tendencies.

O álbum abre com "Amazônia Nunca Mais", uma denúncia contra a destruição ambiental e a exploração da floresta. "Aids, Pop, Repressão" critica a hipocrisia da sociedade frente à epidemia da AIDS, enquanto "Beber Até Morrer" se tornou um hino do underground punk/metal brasileiro. Outras faixas como "Farsa Nacionalista", que desmascara o ufanismo cego, e "Vida Animal", que expressa o desespero diante da realidade social, reforçam o tom pessimista e combativo do disco.


A produção ficou a cargo de Harris Johns, que já havia trabalhado com bandas como Kreator e Sodom. Isso garantiu um som mais encorpado e polido, sem perder a agressividade crua que caracteriza o Ratos de Porão.

Brasil é considerado um dos melhores álbuns de crossover thrash já lançados fora dos EUA e ajudou o RDP a ganhar reconhecimento internacional. O álbum teve uma versão em inglês, algo incomum para bandas brasileiras da época, permitindo que atingisse um público ainda maior.

Mais de 35 anos após seu lançamento, Brasil continua atual tanto em sua sonoridade brutal quanto nas suas críticas sociais, provando que a música pesada pode ser um veículo poderoso de contestação. Para fãs de hardcore, thrash metal e música engajada, este disco segue essencial.


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