Standing on the Shoulder of Giants (2000): o disco que mudou o Oasis


Lançado em 28 de fevereiro de 2000, Standing on the Shoulder of Giants é o quarto álbum do Oasis e marca uma transição significativa na sonoridade da banda. Após o sucesso estrondoso dos anos 1990, com álbuns como Definitely Maybe (1994) e (What's the Story) Morning Glory? (1995), o grupo enfrentava mudanças internas e externas que refletiram diretamente na produção desse disco.

Antes da gravação, o Oasis passou por sua primeira grande reformulação: Paul "Bonehead" Arthurs (guitarra base) e Paul "Guigsy" McGuigan (baixo), dois dos membros originais, deixaram a banda. Isso fez com que Noel Gallagher assumisse ainda mais responsabilidades, tocando baixo em todas as faixas do álbum e centralizando a produção. Além disso, a sonoridade do britpop já não era mais a mesma – o fim da rivalidade com o Blur e o surgimento de novas tendências musicais, como o revival do garage rock e o nu metal, deixavam o estilo da banda um pouco deslocado no cenário musical.

Ao contrário do som mais direto e melódico dos discos anteriores, Standing on the Shoulder of Giants mergulha em uma atmosfera mais sombria, psicodélica e experimental. As influências do rock clássico dos anos 1960 e 1970 continuam presentes, mas agora há um toque de música eletrônica, com sintetizadores e camadas sonoras mais densas. Noel Gallagher citou que estava ouvindo muito The Chemical Brothers e Primal Scream na época, o que ajudou a moldar a estética do álbum.

O título do disco veio de uma citação de Isaac Newton: "If I have seen further, it is by standing on the shoulders of giants" (“Se eu enxerguei mais longe, foi por estar sobre os ombros de gigantes”). Noel viu a frase em uma moeda britânica e decidiu usá-la, apesar de depois admitir que o álbum não era digno de tal grandiosidade.

Vamos às faixas: a instrumental "Fuckin' in the Bushes" é um dos momentos mais ousados do álbum e abre o disco com uma batida enérgica, samples e um groove pesado. Foi usada em diversas aberturas de shows da banda. "Go Let It Out", o primeiro single, tem um riff hipnótico e uma vibe psicodélica. "Who Feels Love?" é uma das faixas mais psicodélicas do Oasis, claramente influenciada The Beatles na fase Magical Mystery Tour. "Gas Panic!" é uma das canções mais sombrias da banda, com uma progressão crescente e cheia de camadas instrumentais, trazendo um clima de paranoia e introspecção. Já "Sunday Morning Call" é uma balada melancólica cantada por Noel, com um tom mais reflexivo e intimista. "Roll It Over" encerra o álbum e traz um Oasis mais grandioso e épico, com guitarras marcantes e uma atmosfera que remete aos melhores momentos da banda.


O álbum dividiu opiniões. Apesar de estrear no primeiro lugar das paradas britânicas, a crítica e os fãs ficaram divididos. Muitos sentiram falta do som mais energético e direto dos primeiros discos, enquanto outros elogiaram a coragem da banda em experimentar novas direções. Noel Gallagher, ao longo dos anos, foi bastante crítico em relação ao álbum, chegando a dizer que não tem muito orgulho dele.

Ainda assim, Standing on the Shoulder of Giants é um marco na discografia do Oasis. Ele representa um período de transição, tanto musical quanto estrutural do grupo. Se não foi o auge criativo da banda, serviu como um divisor de águas, levando ao som mais refinado que viriam a explorar nos álbuns seguintes, como Heathen Chemistry (2002) e Don't Believe the Truth (2005).

Standing on the Shoulder of Giants pode não ser o disco mais celebrado do Oasis, mas é uma peça fundamental para entender a trajetória da banda dos irmãos Gallagher. Com uma sonoridade mais experimental, sombria e psicodélica, ele se destaca por tentar romper com a fórmula dos anos 1990, mesmo que com resultados mistos. É um álbum que merece ser revisitado, especialmente por aqueles que querem ver um lado diferente do Oasis – um lado que, mesmo entre dúvidas e mudanças, ainda mostrava a essência de uma das bandas mais icônicas do rock britânico.

 


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