Diabolus in Musica (1998): o álbum mais polêmico do Slayer


Lançado em 1998, Diabolus in Musica é um dos álbuns mais polêmicos da discografia do Slayer. Com uma abordagem mais groove e experimental, o disco marcou uma mudança no som da banda, incorporando influências do nu metal e de afinações mais graves. Esse direcionamento dividiu os fãs: enquanto alguns apreciaram a variação no estilo, outros consideraram uma traição à agressividade clássica do thrash metal que definiu a banda na década de 1980.

O título Diabolus in Musica (em latim, "O Diabo na Música") faz referência ao trtono, um intervalo musical que, na Idade Média, era considerado dissonante e até mesmo demoníaco pela Igreja Católica. Esse intervalo era evitado na música sacra por sua sonoridade tensa e instável, o que reforçava sua associação com o mal e o proibido. A escolha desse nome reflete perfeitamente a estética sombria e desafiadora do Slayer, que sempre flertou com temas satânicos e anticristãos em suas letras e identidade visual.

A arte da capa também segue essa atmosfera macabra. Ela apresenta uma imagem distorcida e abstrata que, ao ser analisada mais de perto, lembra um rosto grotesco, possivelmente uma figura demoníaca ou uma entidade assombrada. Esse visual reforça a ideia de que o Slayer queria se aventurar em um território mais obscuro e pesado, tanto musicalmente quanto conceitualmente.

Ao contrário da fúria rápida e caótica de álbuns como Reign in Blood (1986) e Seasons in the Abyss (1990), Diabolus in Musica aposta em tempos mais arrastados e riffs pesados, muitas vezes com afinação mais baixa nas guitarras, o que confere um tom mais sombrio e denso às músicas. A produção de Rick Rubin e junto com a própria banda evidencia essa pegada mais moderna e comprimida, que se encaixava nas tendências do final dos anos 1990.


O álbum abre com “Bitter Peace”, que ainda mantém um pouco da velocidade clássica do Slayer, mas logo deixa claro que há algo diferente. A segunda faixa, “Death’s Head”, reforça o groove com riffs mais cadenciados e uma bateria menos frenética que o habitual. O destaque vai para “Stain of Mind”, que se tornou um dos poucos sons do disco a figurar em setlists posteriores da banda. Sua levada repetitiva e pesada exemplifica bem o flerte com o groove metal. Músicas como “Overt Enemy” e “Love to Hate” também carregam essa pegada mais densa e sombria. “Scrum” e “Point” trazem um pouco mais de agressividade, mas ainda dentro desse novo molde mais cadenciado. Já “In the Name of God” se destaca pela atmosfera mais melancólica e por uma estrutura menos convencional para os padrões do Slayer.

Diabolus in Musica foi recebido de forma mista pela crítica e pelos fãs. Embora algumas resenhas elogiassem a tentativa da banda de inovar, muitos seguidores mais puristas do Slayer consideraram o álbum um dos pontos baixos da carreira do grupo. Kerry King, guitarrista e principal compositor, chegou a admitir posteriormente que não era um dos seus discos favoritos, reconhecendo a influência das tendências da época. Apesar das críticas, Diabolus in Musica tem seu valor dentro da discografia do Slayer. Ele serviu como um experimento que ajudou a banda a se renovar antes de retornar com um som mais tradicional nos álbuns seguintes, como God Hates Us All (2001) e Christ Illusion (2006).

Embora não seja um dos álbuns mais icônicos do Slayer, Diabolus in Musica representa um momento interessante da banda, onde ela explorou sonoridades diferentes sem perder totalmente sua identidade. Se para alguns fãs foi um desvio indesejado, para outros é um disco subestimado que merece uma nova audição sem os preconceitos da época.

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