Nine Lives (1997): o último grande álbum do Aerosmith


Lançado em 18 de março de 1997, Nine Lives marcou o retorno do Aerosmith após o enorme sucesso comercial de Get a Grip (1993). O álbum veio com uma produção turbulenta, mudanças de produtor e conflitos internos, mas conseguiu consolidar a banda na cena do hard rock dos anos 1990.

Inicialmente, o disco estava sendo produzido por Glen Ballard (conhecido por seu trabalho com Alanis Morissette em Jagged Little Pill), mas divergências criativas levaram a banda a substituí-lo por Kevin Shirley. Essa mudança impactou a sonoridade do álbum, que equilibra um rock mais cru e pesado com faixas mais acessíveis ao grande público.

Nine Lives combina o hard rock característico do Aerosmith com influências do blues e elementos de pop rock, mantendo a pegada clássica da banda, mas com uma produção mais moderna para a época. Algumas músicas trazem experimentações interessantes, como “Taste of India”, que incorpora instrumentos e escalas orientais, algo incomum no catálogo da banda.

A faixa-título, “Nine Lives”, abre o álbum com um riff poderoso e um vocal frenético de Steven Tyler, remetendo ao Aerosmith clássico. "Falling in Love (Is Hard on the Knees)" éum dos grandes singles do disco e se tornou um enorme hit na época, com um refrão marcante e um groove cativante. "Hole in My Soul" é uma balada épica que segue a tradição da banda com hits nessa pegada, como “Dream On”, “Crazy” e “Amazing”. Uma das músicas mais inusitadas da carreira do Aerosmith, “Pink” apresenta um tom divertido e um clipe irreverente. A canção rendeu à banda um Grammy de Melhor Performance de Rock por um Duo ou Grupo. Já "Full Circle" carrega uma pegada nostálgica, com um instrumental grandioso e um refrão melódico que soa como um hino. "Ain’t That a Bitch" é outra balada forte do álbum, com letras melancólicas e uma construção instrumental que cresce ao longo da música.

Nine Lives teve uma recepção mista da crítica. Alguns elogiaram a energia e diversidade sonora do álbum, enquanto outros apontaram que a banda estava repetindo fórmulas sem grande inovação. No entanto, comercialmente, o álbum foi um sucesso, estreando em primeiro lugar na Billboard 200 e vendendo milhões de cópias ao redor do mundo.


É preciso falar também sobre a capa de Nine Lives, que gerou controvérsia. A capa original mostrava uma ilustração inspirada na arte hindu, representando uma gata com o rosto de uma humana, especificamente a deusa Kali, uma das divindades mais importantes do hinduísmo. A gata tem vários braços e está sobre várias cobras, remetendo às representações clássicas da deusa. No entanto, essa escolha gerou polêmica, pois algumas comunidades hinduístas consideraram a imagem desrespeitosa. Eles viram a combinação da gata com a figura de Kali como uma distorção da sua simbologia sagrada. Diante das reclamações e da possibilidade de boicotes, a gravadora decidiu substituir a capa pouco tempo após o lançamento. A nova arte manteve a estética colorida e detalhada, mas sem elementos religiosos. A capa revisada mostra um gato feroz no centro, em uma posição semelhante à de um acrobata de circo, dentro de um círculo decorado. O design ainda mantém um estilo meio psicodélico, mas sem referências diretas ao hinduísmo. Essa mudança da capa de Nine Lives mostra como a sensibilidade cultural pode afetar o design de um álbum, especialmente quando se trata de símbolos religiosos. Mesmo com a alteração, o álbum seguiu seu caminho de sucesso e se tornou um dos mais icônicos da fase mais comercial do Aerosmith.

Nine Lives pode ser considerado o último grande álbum do Aerosmith. Embora não tenha alcançado o mesmo status icônico de Toys in the Attic (1975), Pump (1989) e Get a Grip (1993), o disco manteve a banda relevante nos anos 1990, combinando o hard rock clássico com uma produção moderna e acessível. Além de consolidar hits como “Pink” e “Falling in Love (Is Hard on the Knees)”, Nine Lives mostrou a capacidade do Aerosmith de se reinventar sem perder sua essência. Os álbuns seguintes, como Just Push Play (2001) e Music from Another Dimension! (2012), apesar de algumas boas faixas, não conseguiram o mesmo impacto. Just Push Play apostou em uma sonoridade mais voltada ao pop rock e produções eletrônicas, mas sem a mesma autenticidade que marcou a banda. Já Music from Another Dimension! tentou resgatar a pegada clássica do Aerosmith, mas soou datado e pouco inspirado.

Nine Lives se destaca como o último trabalho realmente sólido da banda, equilibrando energia, inovação e identidade. Foi o último grande momento do Aerosmith antes de entrar em um período de lançamentos irregulares e uma carreira mais focada em turnês nostálgicas.


Comentários

  1. Parabéns pela resenha Ricardo ! eu era adolescente na época , comprei a fita cassete e quase acabou de tanto que eu ouvia esse album!! vale lembrar também , que nessa época eu trabalhava numa radio comunitária , no meu programa eu tocava quase todas as canções!!!

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  2. boa resenha mesmo, concordo e atesto o momento histórico e as informações listadas, tinha 25 anos na época de seu lançamento, inicialmente estranhei a sonoridade implantada principalmente pela produção de Shirley, bem diferente e mais crua, até um pouco tosca, comparando com os discos anteriores produzidos pelo grande e saudoso Bruce Fairbairn mas, com o tempo, vi que um dos charmes desse disco era exatamente isso, amplificado em ótimas faixas como "ain't that a bitch" e "falling off"

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  3. Discordo totalmente de quem aponta Nine Lives como o último grande disco dos outrora AeroBoys. Pra mim, o "canto de cisne" de Steven Tyler e seus amigos foi Pump (1989), e depois deste eles nunca mais fizeram discos que agradassem aos fãs do começo ao fim até o dia de sua aposentadoria recente. Isso sim é super certo em dizer!

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