Out of Time (1991) marcou um ponto de virada na carreira do R.E.M., transformando a banda de ícones do rock alternativo em um fenômeno global. Com uma abordagem mais eclética e melódica, o álbum afastou-se das raízes jangle pop (gênero com guitarras estridentes e melodias pop, fortemente influenciado por Bob Dylan) do grupo nos anos 1980 e trouxe uma sonoridade mais acessível, sem perder a identidade que o quarteto construiu ao longo da década anterior. O disco se destaca não apenas pelos sucessos comerciais que gerou, mas também pela experimentação musical e lirismo sofisticado, consolidando-se como um dos álbuns mais emblemáticos da banda e da música alternativa dos anos 1990.
Em Out of Time, o R.E.M. ousou ampliar sua paleta sonora, incorporando instrumentos pouco utilizados em seus trabalhos anteriores, como bandolim, órgão, cordas e até mesmo influências de hip-hop. Esse direcionamento resultou em um álbum variado, no qual a banda explorou novas possibilidades musicais sem perder a essência. A faixa de abertura, "Radio Song", já deixa clara essa experimentação, com um groove inesperado e a participação do rapper KRS-One (do Boogie Down Productions), algo incomum para uma banda de rock alternativo da época. A mistura entre guitarras, teclas e o vocal melancólico de Michael Stipe contrasta com a energia do rap, mostrando a disposição da banda em testar novos territórios sonoros.
Por outro lado, a icônica "Losing My Religion", com seu inconfundível riff de bandolim, tornou-se um dos maiores sucessos da carreira da banda e ajudou a consolidar a cena alternativa no mainstream. A canção é um exemplo de como Out of Time se afastou da sonoridade tradicional do R.E.M., apostando em arranjos mais refinados e letras introspectivas. Outra faixa que chama a atenção é "Shiny Happy People", uma canção pop vibrante que conta com a participação de Kate Pierson, do B-52’s. Com uma melodia pegajosa e uma atmosfera quase infantil, a música representa um dos momentos mais leves e alegres da discografia do R.E.M.. Embora tenha sido um hit, a banda posteriormente demonstrou certo desconforto com a faixa, raramente a incluindo em setlists de shows. Enquanto isso, "Near Wild Heaven" e "Half a World Away" exploram harmonias vocais e arranjos mais suaves, remetendo a um folk mais refinado. Já "Country Feedback" se destaca como uma das canções mais emocionais do álbum, com versos quase improvisados e uma melodia densa que reforça o tom melancólico do disco.
Ao contrário dos álbuns anteriores, nos quais o R.E.M. frequentemente abordava questões políticas e sociais, Out of Time foca em temas mais pessoais e introspectivos. O vocalista Michael Stipe, conhecido por sua abordagem lírica enigmática, entrega composições que falam sobre amor, perda, arrependimento e alienação, muitas vezes deixando espaço para múltiplas interpretações. "Losing My Religion", por exemplo, apesar do título, não é uma canção sobre religião, mas sim sobre desejo, obsessão e insegurança emocional. Stipe já declarou que a expressão "losing my religion" vem de uma gíria do sul dos Estados Unidos, que significa algo como "perder as esperanças" ou "chegar ao limite". A música se tornou um dos maiores hinos da década, muito impulsionada pelo videoclipe icônico.
Outra faixa que se destaca liricamente é "Country Feedback", com versos que parecem escritos de forma improvisada, transmitindo uma emoção crua e dolorosa. A própria banda considera essa uma das melhores músicas que já gravaram, com Stipe frequentemente se emocionando ao cantá-la ao vivo. Já "Me in Honey", que encerra o álbum, traz uma perspectiva curiosa sobre relacionamentos e arrependimentos, contando novamente com os vocais de Kate Pierson, que adicionam uma textura única à canção.
Out of Time foi um enorme sucesso comercial e de crítica. O álbum vendeu mais de 18 milhões de cópias mundialmente e rendeu ao R.E.M. três prêmios Grammy, incluindo Melhor Álbum de Música Alternativa. Além disso, a banda levou o Grammy de Melhor Performance Vocal de Duo ou Grupo e Melhor Vídeo Musical por “Losing My Religion”.
Mais do que apenas um sucesso de vendas, o disco ajudou a pavimentar o caminho para o rock alternativo se tornar o gênero dominante da década de 1990. Antes de Out of Time, bandas como o R.E.M. ainda eram consideradas parte de uma cena mais underground, mas após o lançamento, a música alternativa ganhou força e preparou o terreno para grupos como Nirvana, Pearl Jam e Radiohead.
Mesmo dentro da discografia da banda, Out of Time ocupa um lugar único. Enquanto alguns fãs preferem os trabalhos mais crus e energéticos do R.E.M. nos anos 1980, outros consideram este álbum um dos pontos altos da carreira da banda, justamente por sua ousadia em experimentar novos estilos. O legado do disco continua forte até hoje, com canções como "Losing My Religion", "Shiny Happy People" e "Country Feedback" sendo frequentemente revisitadas por novos públicos. O álbum é um testemunho do talento da banda em se reinventar sem perder sua essência, consolidando o R.E.M. como uma das bandas mais importantes da história do rock alternativo.
Com uma sonoridade diversificada, letras introspectivas e uma abordagem inovadora, Out of Time não apenas redefiniu o R.E.M., mas também ajudou a moldar a cena musical da década de 1990. Seu impacto vai além dos números e premiações, pois representa um momento crucial em que a música alternativa cruzou a linha entre o underground e o mainstream sem perder sua autenticidade.
Out of Time é um clássico atemporal, que ainda emociona e inspira novas gerações.
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