A série Planeta dos Mortos apresenta um futuro distópico dentro do universo de Dylan Dog, no qual os mortos-vivos dominam o mundo e a sociedade tenta se adaptar a essa nova realidade. Criada por Alessandro Bilotta, essa saga especial foge da estrutura clássica das histórias do Investigador do Pesadelo e aposta em uma narrativa melancólica, questionadora e repleta de simbolismo.
A primeira edição, publicada originalmente em 2013 na Itália e trazida ao Brasil pela Panini em 2024, estabelece o tom da série. Dylan Dog aparece mais velho, cínico e inserido em um mundo onde os zumbis são parte do cotidiano. Ao invés de simples ameaças a serem eliminadas, os mortos-vivos são tratados como uma condição inevitável da existência, levando a questões filosóficas sobre a própria vida.
A atmosfera da HQ é de desilusão, e Dylan não é mais o investigador idealista de outrora. Ele volta a trabalhar para a Scotland Yard, chefiando uma unidade que busca controlar a expansão da praga, mas o faz sem entusiasmo. O leitor se depara com um protagonista marcado pelo peso dos anos e das derrotas, enquanto o mundo ao seu redor se desintegra entre desesperança e conformismo. A arte, com traços sombrios e cenários decadentes, reforça a sensação de colapso iminente. O ritmo da narrativa é mais cadenciado, favorecendo a imersão nesse universo opressor.
Na segunda edição, lançada pela Panini em 2025, Bilotta aprofunda a psiquê de Dylan Dog ao explorar suas memórias e o impacto emocional que o apocalipse teve sobre ele. O protagonista é confrontado com o passado e com os fantasmas (metafóricos e literais) de sua vida, trazendo uma abordagem introspectiva à história. A narrativa, aqui, se aproxima mais do horror psicológico do que da simples distopia zumbi. O conceito de "memórias assombradas" é trabalhado de maneira magistral, e Dylan se torna uma figura ainda mais trágica. O leitor percebe que, em meio ao caos, não são apenas os mortos que assombram os vivos, mas também o peso do que foi perdido. A arte continua a destacar o contraste entre a decadência do mundo exterior e os momentos de reflexão interna do protagonista. Os detalhes visuais dão vida à sensação de nostalgia e tristeza que permeiam a narrativa.
Os dois primeiros volumes de Planeta dos Mortos oferecem um olhar maduro e impactante sobre Dylan Dog e seu universo. Ao contrário das histórias tradicionais do personagem, essas edições adotam um tom mais sombrio e filosófico, transformando o horror dos mortos-vivos em um espelho da condição humana.
Para fãs de Dylan Dog, a saga representa uma experiência profunda e inovadora. Já para aqueles que procuram uma boa história de terror com camadas de significado, esses volumes são uma excelente porta de entrada para um dos universos mais ricos dos quadrinhos italianos.
Planeta dos Mortos conta atualmente com 12 volumes publicados na Itália. As duas edições lançadas pela Panini no Brasil reúnem os quatro primeiros capítulos da saga, e espera-se que a editora dê continuidade à publicação até o desfecho da história. As edições brasileiras são em capa dura e formato americano, com impressão em papel couchê, e trazem a arte original em preto e branco, com exceção do capítulo inaugural da saga, que é totalmente colorido. A tradução ficou a cargo de Júlio Schneider.
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