Lançado em 15 de março de 1976, Destroyer redefiniu a carreira do Kiss. Produzido por Bob Ezrin, conhecido por seu trabalho com Alice Cooper, o disco trouxe uma abordagem mais ambiciosa e experimental, elevando a sonoridade do grupo a um novo patamar. Combinando elementos de rock de arena, ópera rock e até música clássica, Destroyer provou que o Kiss não era apenas uma banda de showbiz e maquiagem, mas também tinha a capacidade de criar álbuns conceitualmente e musicalmente sofisticados. Embora a recepção inicial tenha sido mista, o disco posteriormente se tornou um dos mais influentes da história do hard rock, consolidando o Kiss como um dos maiores nomes da música mundial.
Antes de Destroyer, o Kiss já havia conquistado uma base sólida de fãs graças a seus álbuns anteriores - Kiss (1974), Hotter Than Hell (1974) e Dressed to Kill (1975) - e principalmente ao disco ao vivo Alive! (1975), que capturou a energia explosiva de suas apresentações e transformou a banda em um fenômeno. No entanto, os primeiros álbuns de estúdio tinham uma produção relativamente simples e crua, algo que a banda queria mudar com seu novo trabalho.
Para isso, Bob Ezrin trouxe uma abordagem inovadora. Inspirado por técnicas de gravação cinematográficas e orquestrais, ele expandiu os limites da sonoridade do Kiss, adicionando efeitos sonoros, corais infantis, sintetizadores, pianos e arranjos grandiosos. Além disso, Ezrin teve um papel fundamental na estruturação das músicas, incentivando os integrantes a explorarem novas ideias e técnicas, chegando até a tratá-los como alunos em um ambiente escolar, com direito a "lições de casa" e exigências rígidas de performance. O resultado foi um disco com um som mais polido e dramático, que contrastava com a pegada direta dos álbuns anteriores. Pela primeira vez, o Kiss parecia não apenas uma banda de rock explosiva, mas também um grupo capaz de criar uma obra com profundidade musical e conceitual.
Abrindo o álbum com uma introdução inovadora, “Detroit Rock City” começa com efeitos sonoros de um motorista ouvindo rádio e dirigindo antes de sofrer um acidente, criando uma atmosfera cinematográfica única para a época. Quando a faixa realmente começa, ela se revela um hino do hard rock, com riffs icônicos e uma letra que celebra a energia da cena musical de Detroit. Sua estrutura dinâmica e épica a transformou em uma das canções mais emblemáticas do Kiss. “King of the Night Time World” mantém o alto nível de energia, com uma sonoridade vibrante e um tom de celebração à vida noturna. Originalmente composta por Kim Fowley e Mark Anthony, foi reformulada por Paul Stanley e Bob Ezrin para se encaixar melhor na identidade da banda. Já “God of Thunder” foi inicialmente escrita por Paul Stanley, mas Bob Ezrin percebeu que a música teria mais impacto na voz de Gene Simmons. O resultado foi uma das faixas mais pesadas do Kiss, com um tom sombrio e cavernoso, repleto de efeitos sinistros e até sons de crianças ao fundo, reforçando a aura quase demoníaca do personagem de Simmons no palco. A música se tornou o hino do baixista e um dos momentos mais poderosos dos shows do Kiss. Fechando o lado A do vinil, “Great Expectations” é uma das canções mais experimentais do álbum e se destaca pelo uso de um coro infantil e uma linha melódica inspirada na “Sonata para Piano nº 8”, de Beethoven, algo bastante inusitado para uma banda de hard rock. Sua letra aborda o desejo de fama e reconhecimento, refletindo a crescente popularidade do Kiss.
Com um espírito rebelde e uma pegada hard rock enérgica, “Flaming Youth” reflete a juventude dos anos 1970, que se identificava com o estilo de vida rockstar do Kiss. Curiosamente, foi uma das músicas que Ezrin ajudou a montar unindo pedaços de diferentes ideias trazidas pelos membros da banda. Com um riff marcante e uma pegada um pouco mais bluesy, “Sweet Pain” traz Gene Simmons nos vocais, explorando temas de dominação e sedução. A versão original incluía um solo de guitarra diferente do que foi lançado, e a versão alternativa só foi divulgada muitos anos depois em edições especiais.
A parte final do álbum é marcada por um desfile de canções emblemáticas e que se tornaram clássicos da banda. “Shout It Out Loud” segue a tradição dos grandes hinos de rock, com um refrão poderoso e um clima festivo. Foi um dos singles de maior sucesso do disco, sendo frequentemente tocada em shows. A seguir vem “Beth”, a grande surpresa do álbum. Uma balada fortemente emocional, diferente de tudo que o Kiss já havia feito. Cantada pelo baterista Peter Criss, foi inspirada em experiências reais de relacionamentos conturbados entre músicos e suas esposas. Com um arranjo orquestral e sem guitarras pesadas, a música se tornou um grande hit, ajudando o álbum a alcançar platina e provando que o Kiss podia emocionar além do rock explosivo. Encerrando o álbum, “Do You Love Me” questiona a sinceridade do amor das fãs, explorando os dilemas da fama e da idolatria. Sua melodia envolvente e o refrão marcante a tornaram um ótimo fechamento para a jornada sonora de Destroyer.
A arte da capa de Destroyer foi criada pelo renomado artista Ken Kelly, conhecido por suas ilustrações épicas e detalhadas. O resultado foi tão bom que ele foi novamente requisitado pela banda para a criação da icônica capa do álbum seguinte do Kiss, Love Gun (1977). A versão original da ilustração de Destroyer foi rejeitada pela gravadora, que a considerou excessivamente violenta devido à presença de escombros e chamas. Além disso, nessa primeira versão, os integrantes do Kiss apareciam vestindo os figurinos usados no álbum Alive! (1975). Na arte final, o grupo é retratado caminhando triunfalmente sobre uma pilha de destroços, com um cenário apocalíptico ao fundo, onde edifícios destruídos e envoltos em fogo reforçam a atmosfera dramática da ilustração. A contracapa apresenta uma variação dessa cena, com ainda mais construções em chamas. O encarte do álbum também trazia detalhes especiais: na parte interna, um lado exibia um grande logotipo do Kiss junto à letra de “Detroit Rock City”, enquanto o outro apresentava a letra de “Shout It Out Loud”, além de um anúncio do famoso fã-clube Kiss Army.
Ao contrário do que se espera de um clássico, Destroyer não teve um sucesso imediato. Suas vendas iniciais foram modestas e muitas críticas foram negativas, com jornalistas da época acusando a banda de ter perdido sua essência ao adotar uma produção mais sofisticada. O jogo virou quando “Beth” começou a tocar massivamente nas rádios. A balada inesperada se tornou um dos maiores sucessos da banda, impulsionando as vendas do álbum e garantindo ao Kiss seu primeiro disco de platina nos Estados Unidos.
Hoje, Destroyer é amplamente reconhecido como um dos melhores álbuns de rock da história, sendo frequentemente listado entre os melhores discos de todos os tempos em rankings especializados. Seu impacto influenciou bandas de hard rock e heavy metal das gerações seguintes, e muitas das suas faixas continuam sendo presença garantida nos shows da banda.
Se antes de Destroyer o Kiss era conhecido principalmente por seus shows extravagantes, foi esse disco que provou que a banda também tinha um lado artístico e inovador. Com uma produção ambiciosa, faixas icônicas e um impacto duradouro na cena do rock, Destroyer é mais do que um álbum clássico: sua influência segue viva, mostrando que a mistura entre espetáculo, rebeldia e musicalidade pode criar algo verdadeiramente atemporal.
sou um fã da banda que não tem esse disco entre seus preferidos, o julgo um pouco instável, com "altos muito altos e baixos bem baixos", digamos assim, além da gravação original bem ruim, que tirou peso e crueza do som da banda, em nome de um apuro tecnico que apenas em alguns temas se justificou. vejo detroit..., god of thunder, beth ou o magistral cover de king of the night... como das mais brilhantes coisas que o kiss fez em sua carreira, em contraponto a coisas até constrangedoras, em minha visão, como sweet pain (meu deus!!!), flaming youth e do you love me, entre os piores temas da história da banda. a remixagem dele feita em 2012, com subtítulo "ressurected", melhorou bastante a sonoridade, até favorecendo um pouco alguns desses temas que não aprecio, mas nada que mude sobremaneira minha análise sobre esse bom, apenas bom, disco, com algumas músicas realmente bastante superiores
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