Redescobrindo o Winger: o brilho técnico de In the Heart of the Young (1990)


In the Heart of the Young
(1990) é o segundo álbum da banda americana Winger, e marca um momento crucial da cena hard rock/glam metal, às vésperas do declínio comercial do estilo com a ascensão do grunge no início dos anos 1990. Produzido por Beau Hill, o disco é uma evolução do debut de 1988, trazendo composições mais refinadas e uma execução ainda mais precisa, apoiada por uma banda tecnicamente sólida e entrosada.

O Winger é frequentemente subestimado por causa de sua associação com o visual glam da época, mas a formação da banda é composta por músicos altamente qualificados, e isso fica evidente neste álbum. Kip Winger (vocais, baixo, teclados), além de ser um frontman carismático, é o cérebro criativo por trás da banda. Seus vocais poderosos e melódicos conduzem o disco com segurança, e suas linhas de baixo são sólidas e bem articuladas. Kip também contribui bastante nos arranjos e harmonias vocais. As guitarras de Reb Beach mesclam peso e virtuosismo, com solos sempre melódicos e bem construídos. Beach é um dos grandes guitarristas do hard rock oitentista, e neste disco ele brilha com gosto — especialmente em faixas como "Rainbow in the Rose" e "You Are the Saint, I Am the Sinner". 

Com um background em jazz fusion vindo dos seus anos no Dixie Dregs, Rog Morgenstein traz um toque sofisticado à bateria do Winger. Seus grooves são criativos, cheios de nuances rítmicas, e fogem do padrão quadrado do glam metal. A musicalidade que ele adiciona ao álbum é um diferencial técnico de peso. E Paul Taylor (teclados, guitarra rítmica) é o arquiteto dos climas e texturas do álbum. Seus teclados preenchem o som de forma sutil, mas essencial, especialmente nas baladas e nas faixas mais elaboradas como "Rainbow in the Rose". Ele também contribui com vocais de apoio e com guitarras base que sustentam os arranjos com firmeza. Essa formação torna o Winger uma das bandas mais musicalmente competentes do hard rock daquela geração — algo que nem sempre era comum no universo do glam metal.


O som de In the Heart of the Young trafega entre o hard rock melódico, o AOR e pitadas de metal leve. A produção é limpa, com camadas bem definidas e arranjos cuidadosos. Há também ecos de bandas como Journey, Kansas e Van Halen, mas com uma personalidade própria, muito graças à mistura de técnica e feeling dos integrantes. "Can't Get Enuff" é um hino radiofônico com riff poderoso e refrão marcante, que abre o álbum com força total e evidencia o virtuosismo da banda. "Easy Come Easy Go" tem um groove contagiante e melodias bem construídas. Uma das faixas mais diretas e eficazes do disco. "Miles Away" é a balada do álbum, com clima introspectivo e melodia cativante. Foi um grande sucesso na época e se tornou o maior hit da carreira da banda. Já "Rainbow in the Rose" é uma faixa com clima mais atmosférico e arranjos ousados, apontando para um lado quase progressivo. E "In the Day We'll Never See" é uma composição mais soturna e melódica, com um toque dramático que amplia a paleta emocional do álbum.

O disco vendeu mais de um milhão de cópias e consolidou o Winger como um dos nomes fortes do final da era glam. A banda saiu em turnê com gigantes como Scorpions e Kiss, vivendo seu auge comercial. Porém, o lançamento coincidiu com a chegada iminente do grunge, que em poucos meses mudaria completamente o cenário musical. Apesar disso, o álbum continua sendo lembrado como um dos últimos grandes registros do hard rock melódico clássico antes da virada dos anos 1990. Seu legado persiste entre fãs e músicos que valorizam a técnica e a musicalidade dentro do rock mais acessível.

In the Heart of the Young é um álbum que vai além da estética glam. É um trabalho maduro, técnico e ao mesmo tempo acessível, que mostra uma banda em sua melhor forma. Equilibrando hits pegajosos, baladas emocionantes e arranjos elaborados, o disco é uma joia do hard rock tardio. Se você gosta de rock com melodia, peso e virtuosismo, este é um daqueles discos que envelheceram bem — e merecem ser redescobertos.

No Brasil, o álbum havia sido lançado apenas em LP em 1990, e a primeira edição em CD deu as caras somente em 2024, através da parceria entre a Warner, Wikimetal, Kanto do Artista e Oporto da Música, em uma versão com luva protetora (slipcase).

 


Comentários

  1. otima resenha, bem profunda e informativa, apesar de não concordar inteiramente pois, apesar da evolução tecnica da banda, ainda prefiro o debut de 1988, mais cru, focado e direto, bem como prefiro o, esse sim realmente maduro musicalmente, excelente album "Pull" de 1993, pra muitos o auge artístico da banda, na minha visão o pontapé inicial da grande banda de hard' n heavy que o winger iria se tornar com os lançamentos posteriores, já no século XXI, após seu retorno.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.