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Mostrando postagens de maio, 2025

Megalex: a distopia digital de Jodorowsky como prenúncio da era da inteligência artificial (Alejandro Jodorowsky e Fred Beltran, 2025, Pipoca & Nanquim)

Publicado originalmente entre 1999 e 2008, Megalex é uma obra que parecia, à época, uma ficção científica lisérgica e exagerada. Hoje, porém, sua leitura soa quase como uma profecia sombria. Criada por Alejandro Jodorowsky e ilustrada por Fred Beltran, a HQ mergulha em uma distopia onde a natureza foi banida, a cidade se tornou um organismo maquinal totalitário, e a individualidade é anulada em nome da eficiência sistêmica. A trama se passa em Megalex, uma megalópole-Estado onde tudo é artificial: corpos são modificados desde o nascimento para se encaixarem em padrões pré-estabelecidos de produtividade e beleza; a natureza é considerada ilegal; e a população é mantida sob controle através de tecnologia, drogas e manipulação de dados — um reflexo brutal das tendências atuais de vigilância e dependência digital. O protagonista é um "mutante", uma anomalia nascida fora dos padrões impostos. Ele representa o erro do sistema, a falha que revela a verdade: que há algo de profu...

As 20 canções de rock com mais execuções no Spotify: uma radiografia dos maiores clássicos do gênero

O rock é um dos gêneros musicais mais influentes e celebrados da história da música, capaz de atravessar gerações e se reinventar ao longo das décadas. Com o avanço das plataformas digitais, como o Spotify, temos uma nova ferramenta poderosa para medir a popularidade das canções e bandas, através das execuções de streaming. A lista das 20 canções de rock mais tocadas no Spotify aponta para os maiores hits – ou podemos dizer, verdadeiros clássicos – que continuam conquistando fãs e ouvintes pelo mundo todo, mesmo décadas após seus lançamentos originais. Um dos destaques mais claros da lista é a presença marcante do Queen , que figura com quatro músicas: "Bohemian Rhapsody" lidera a lista com quase 2,8 bilhões de execuções, seguida por “Don’t Stop Me Now”, “Another One Bites the Dust” e “Under Pressure”. Isso demonstra como a banda britânica, que marcou o rock com sua versatilidade e estilo único, mantém uma base de fãs muito sólida e que suas músicas continuam relevantes e am...

Lightning Strikes (1986) e a era de ouro do Loudness

Lançado em 25 de julho de 1986, Lightning Strikes é o sexto álbum de estúdio da banda japonesa Loudness e marca um dos momentos mais importantes da carreira do grupo. Com esse disco, o Loudness consolidou sua tentativa de conquistar o mercado norte-americano, expandindo sua influência para além da Ásia e da Europa, onde já começava a ganhar notoriedade. O álbum é um marco tanto pelo som quanto pelo contexto em que foi lançado, representando um dos ápices da presença japonesa no heavy metal tradicional dos anos 1980. O Loudness foi formado em 1981 por dois ex-integrantes da banda Lazy: o guitarrista virtuoso Akira Takasaki e o baterista Munetaka Higuchi. Após três álbuns em japonês que obtiveram sucesso local, o grupo começou a lançar discos em inglês, mirando o mercado internacional. Essa guinada culminou em Thunder in the East (1985), o primeiro álbum da banda a ser lançado nos Estados Unidos com apoio da Atlantic Records. O disco teve boa recepção, e o single “Crazy Nights” alcan...

Entre o céu e o inferno: Iced Earth e a jornada de Spawn em The Dark Saga (1996)

The Dark Saga (1996) é o quarto álbum da banda americana Iced Earth e marca um ponto de transição significativo em sua sonoridade. Com uma abordagem mais melódica e concisa do que os discos anteriores, o trabalho é também um marco conceitual, inspirado no personagem Spawn, criado por Todd McFarlane e publicado pela Image Comics. A fusão entre quadrinhos e heavy metal nunca foi tão direta e sombria. O álbum gira em torno da trajetória de Al Simmons, um ex-agente do governo que é traído e morto, renascendo como o anti-herói Spawn em um pacto com o demônio Malebolgia. Condenado a vagar entre o céu e o inferno, Spawn busca redenção enquanto é consumido pela dor de não poder mais viver ao lado de sua esposa, Wanda. Essa dualidade — redenção e danação — é a essência emocional que pulsa em cada faixa de The Dark Saga . Jon Schaffer, guitarrista e mente criativa por trás do Iced Earth, constrói uma narrativa coesa, onde letras e riffs ecoam o desespero, a raiva e a esperança trágica do p...

Nova fase, mesmo impacto: Arch Enemy acerta em cheio com Blood Dynasty (2025)

O Arch Enemy chega ao seu 12º álbum de estúdio com Blood Dynasty , lançado mundialmente em 28 de março e que no Brasil ganhou uma edição em CD com slipcase pela Rock Brigade Records. Este é o quarto trabalho da banda com Alissa White-Gluz nos vocais, e segue a linha dos três discos anteriores, incorporando ainda mais momentos em que a vocalista utiliza seu timbre limpo ao lado dos característicos vocais guturais. Essa alternância, longe de suavizar o som, intensifica a dinâmica das composições e, em muitos casos, torna a música do quinteto ainda mais impactante. O álbum também marca a estreia do guitarrista Joey Concepcion , que assume o posto deixado por Jeff Loomis após uma década na banda. A integração de Concepcion com Michael Amott é imediata, e a dupla entrega riffs e solos com química impressionante, confirmando a escolha como certeira. O tracklist é sólido e entrega exatamente o que os fãs esperam do Arch Enemy. A explosiva “ Dream Stealer ” abre o disco de forma intensa...

Kiss em Revenge (1992): a vingança como renascimento

Lançado em 19 de maio de 1992, Revenge chegou num momento crucial da carreira do Kiss. A banda vinha de uma década marcada por altos e baixos criativos e comerciais durante os anos 1980, especialmente após a retirada das maquiagens em 1983. Após sucessos como Lick It Up (1983) e Animalize (1984), o grupo viu seu impacto diminuir progressivamente na segunda metade da década, afundando em fórmulas cada vez mais genéricas do hard rock oitentista. A morte do baterista Eric Carr, em novembro de 1991, vítima de um câncer no coração, foi um baque emocional e simbólico para Paul Stanley e Gene Simmons. Carr era querido pelos fãs e havia dado sangue novo à banda desde que entrou, em 1980. Revenge seria o primeiro álbum lançado após sua morte e marcou uma tentativa clara do Kiss de se reconectar com sua essência, mas sob uma estética mais sombria, pesada e moderna. A banda trouxe de volta o produtor Bob Ezrin, o mesmo de Destroyer (1976), para dar peso, coerência e identidade ao projeto. T...

Stria: a linha tênue entre a lembrança e o pesadelo (Gigi Simeone, 2025, Editora 85)

Stria , HQ do italiano Gigi Simeoni publicada no Brasil pela Editora 85, é um quadrinho marcante que combina horror psicológico com uma narrativa densa e profundamente humana. Com roteiro e arte do próprio Simeoni, a HQ mergulha o leitor em um enredo onde o mistério, o passado e os traumas se entrelaçam de forma inquietante. A trama acompanha Chiara e Fabio, amigos inseparáveis na infância que se afastaram após um evento traumático. Anos depois, na vida adulta, eles se reencontram por acaso — sem lembrar um do outro, mas sentindo uma conexão imediata. A partir daí, passam a investigar o que aconteceu em seu passado, desenterrando segredos e dores enterradas na memória. Simeoni conta uma história sobre traumas infantis e seu impacto na idade adulta, explorando a fragilidade da mente humana e os limites da memória. A lenda da Stria, uma figura mítica do folclore europeu semelhante a uma bruxa ancestral, surge como um símbolo desses medos reprimidos e da culpa que atravessa gerações. ...

Old Boy Vol. 2: o peso do passado e os rostos que esquecemos (Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi, 2025, Comix Zone)

No segundo volume de Old Boy , a trama de Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi aprofunda o mistério que envolve o protagonista, Gotô, preso por dez anos sem explicação e agora solto em busca de respostas. Mas, à medida que ele se aproxima de descobrir quem foi o responsável por destruir sua vida, Old Boy nos arrasta para uma dimensão emocional menos óbvia: a da memória afetiva e da efemeridade das conexões humanas. Este volume intensifica o clima de tensão psicológica, mas também dá espaço para o protagonista lidar com fragmentos de lembranças, pistas que não são apenas sobre seu cárcere, mas sobre sua própria identidade. Em um momento crucial, ele percebe que há rostos e nomes que sumiram da sua mente — pessoas que, embora tenham sido significativas em algum ponto, foram apagadas pela força do tempo, da dor e do trauma. Aqui nasce a conexão mais tocante com o nosso próprio cotidiano. Quem nunca se deu conta, em um instante aleatório, de alguém que foi vital em um determinado moment...

Ronnie James Dio: 15 anos de saudade de uma das maiores vozes do heavy metal

Em 16 de maio de 2010, o heavy metal perdeu uma de suas vozes mais marcantes. Ronnie James Dio faleceu aos 67 anos, vítima de um câncer no estômago. Quinze anos depois, seu legado permanece mais vivo do que nunca — sua voz ainda ressoa nos clássicos que gravou, em discos que moldaram o metal como o conhecemos hoje, e em um público que o reverencia como um dos maiores vocalistas de todos os tempos. Início da jornada: Elf Antes da fama, Dio liderou o Elf, banda que misturava hard rock e boogie e chamou atenção de ninguém menos que Ritchie Blackmore, guitarrista do Deep Purple. A voz potente e carismática de Dio já se destacava nos três álbuns lançados pelo grupo: Elf (1972), Carolina County Ball (1974) e Trying to Burn the Sun (1975). Rainbow: o nascimento do épico no hard rock Impressionado com o talento de Dio, Blackmore o convidou para formar o Rainbow. Juntos, criaram alguns dos álbuns mais importantes do hard rock dos anos 1970. A sonoridade do Rainbow com Dio era épica, ...

Como Piece of Mind (1983) forjou o legado do Iron Maiden

Lançado em 16 de maio de 1983, Piece of Mind é o quarto álbum do Iron Maiden e marca um ponto crucial na consolidação do som, da formação clássica e da identidade artística da banda. Com ele, o Iron Maiden deu um passo além na complexidade das composições, nas letras e na sonoridade, se firmando como uma das bandas mais importantes da história do heavy metal. Após o sucesso estrondoso de The Number of the Beast (1982), que introduziu Bruce Dickinson como vocalista e levou a banda ao estrelato mundial, o Iron Maiden entrou em estúdio sob intensa pressão para manter o nível de excelência. A principal mudança foi a entrada do baterista Nicko McBrain, substituindo Clive Burr. Sua chegada completou aquela que é considerada a formação clássica da banda: Bruce Dickinson (vocais), Dave Murray e Adrian Smith (guitarras), Steve Harris (baixo) e Nicko McBrain (bateria). O Iron Maiden já havia conquistado a Europa e começava a se firmar nos Estados Unidos. Piece of Mind foi gravado nas Baha...

35 Anos de Bloodletting (1990): a obra-prima sombria do Concrete Blonde

Lançado em 15 de maio de 1990, Bloodletting é o terceiro álbum do Concrete Blonde e, sem dúvida, o ponto mais alto da carreira da banda liderada pela vocalista e baixista Johnette Napolitano. Um disco sombrio, introspectivo e carregado de emoção, Bloodletting mergulha em atmosferas góticas e letras confessionais, refletindo a dor, o desejo e a angústia de forma visceral – tudo isso amarrado por uma sonoridade que equilibra o rock alternativo com ecos do pós-punk e do gothic rock. Enquanto os dois primeiros álbuns da banda (o homônimo Concrete Blonde , de 1986, e Free , de 1989) já mostravam uma sonoridade alternativa interessante, foi com Bloodletting que o Concrete Blonde encontrou sua identidade definitiva. A produção – a cargo de Chris Tsangarides e da própria banda – trouxe uma atmosfera mais densa, influenciada pelo rock gótico britânico, mas com o peso emocional característico da cena alternativa americana. O álbum abre com a faixa-título, “Bloodletting (The Vampire Song)”...

Dr. Feelgood (1989), o auge do Mötley Crüe

Lançado em 1º de setembro de 1989, Dr. Feelgood é o quinto álbum do Mötley Crüe e marca um ponto de virada na trajetória da banda. Após anos de excessos que quase destruíram seus integrantes, o grupo finalmente buscou sobriedade — ao menos temporária — e focou em entregar o disco mais profissional de sua carreira. O resultado? Um sucesso comercial estrondoso e um dos registros mais emblemáticos do hard rock oitentista. Produzido por Bob Rock, que mais tarde trabalharia com nomes como Metallica e The Cult, Dr. Feelgood é um salto de qualidade em relação aos discos anteriores do Crüe. Bob impôs disciplina em estúdio, chegou a gravar os músicos separadamente para evitar conflitos e extrair o melhor de cada um. O som é denso, coeso e limpo, sem perder o peso e a energia característica do grupo. O álbum soa grande, com guitarras poderosas, vocais em camadas e uma bateria que pulsa com precisão. Mick Mars entrega alguns de seus melhores riffs, enquanto Tommy Lee mostra um domínio total...

A Torre do Elefante: Conan pelas lentes sul-americanas (Claudio Álvarez e Enrique Alcatena, 2025, Pipoca & Nanquim)

Publicado no Brasil pela Pipoca & Nanquim, A Torre do Elefante é uma adaptação impactante e respeitosa de um dos contos mais celebrados de Robert E. Howard, criador de Conan, o Bárbaro. Escrita pelo chileno Claudio Álvarez e ilustrada pelo argentino Enrique Alcatena, esta versão sul-americana do clássico mergulha o leitor numa experiência estética e narrativa singular, sem abrir mão da fidelidade ao material original. O conto original, publicado em 1933, é uma história curta, mas cheia de atmosferas densas, violência crua e elementos místicos e — tudo aquilo que define o melhor do universo de Conan -, além de inesperados elementos que remetem ao estilo de H.P. Lovecraft. Claudio Álvarez entende isso e constrói um roteiro enxuto, direto, que respeita os diálogos e as motivações do personagem de Howard, sem diluir sua brutalidade nem sua honra selvagem. Ao mesmo tempo, a HQ não se limita a copiar: ela apresenta uma cadência própria. A narrativa flui com ritmo quase cinematográfi...

Dire Straits e a revolução digital do rock com Brothers in Arms (1985)

Lançado em 13 de maio de 1985, Brothers in Arms é um dos álbuns mais emblemáticos da década de 1980 e o maior sucesso da carreira do Dire Straits. Combinando sofisticação técnica, produção de ponta e composições maduras, o disco solidificou a posição da banda liderada por Mark Knopfler como uma das mais respeitadas daquele período. Mais do que um simples sucesso comercial, Brothers in Arms influenciou o rumo do rock na era do CD e marcou uma virada na forma como os álbuns eram produzidos e consumidos. Brothers in Arms foi um dos primeiros álbuns de rock a ser gravado totalmente em tecnologia digital, o que o tornou uma referência em qualidade de som. A versão em CD foi um divisor de águas: enquanto os LPs e cassetes ainda dominavam, o álbum ajudou a impulsionar o formato digital no mercado fonográfico. O som cristalino e detalhado, principalmente nas baladas atmosféricas como "Your Latest Trick" e "Why Worry", demonstrava o potencial dos novos recursos tecnológ...