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Long Road - Pearl Jam e a Trilha Sonora de uma Geração: a trajetória emocional de uma banda que desafiou o tempo (Steven Hyden, 2025, Belas Letras)


O Pearl Jam é, sem dúvida, um dos nomes mais emblemáticos do rock das últimas três décadas. Com uma discografia extensa, milhares de bootlegs e uma postura que muitas vezes desafiou a lógica da indústria musical, a banda formada em Seattle sobreviveu a ondas, crises e mudanças sem nunca abandonar sua essência. É essa caminhada, marcada por integridade artística e uma relação quase religiosa com os fãs, que o jornalista e crítico musical Steven Hyden tenta capturar no livro Long Road: Pearl Jam e a Trilha Sonora de uma Geração.

Publicado em 2022 nos EUA e lançado no Brasil em 2025 pela Belas Letras em edições em capa dura e brochura, Long Road não é uma biografia tradicional. Hyden não entrevista os integrantes do grupo nem pretende fazer uma análise técnica da obra. Em vez disso, estrutura o livro como se fosse uma mixtape emocional, com cada capítulo girando em torno de uma música específica. A proposta é usar essas faixas como pontos de entrada para refletir sobre momentos cruciais da trajetória do Pearl Jam – desde o impacto do videoclipe de “Jeremy” até a maratona de bootlegs da turnê de 2000.

O grande trunfo de Long Road está justamente na sua abordagem pessoal. Hyden escreve como um fã experiente, que cresceu ouvindo a banda e acompanhando suas transformações – da explosão grunge à maturidade introspectiva dos últimos álbuns. Ao longo do texto, ele oferece um olhar afetivo e honesto sobre os altos e baixos do grupo, sempre contextualizando sua música dentro do cenário cultural mais amplo.

Para leitores da Collectors Room – muitos dos quais certamente têm CDs, LPs e edições raras do Pearl Jam nas estantes –, o livro funciona como uma viagem nostálgica e reflexiva. Ao comentar sobre lados B, performances ao vivo, decisões controversas e a forma como a banda se manteve relevante, Hyden desperta aquela vontade de revisitar a discografia completa com ouvidos renovados.


Apesar da paixão evidente, Long Road não é uma unanimidade. A subjetividade do autor pode incomodar em alguns momentos, o fato de o livro não trazer entrevistas e depoimentos dos membros da banda pode frustrar aqueles que esperam informações inéditas ou bastidores mais aprofundados. Outro ponto é que a leitura pode parecer arrastada em determinados momentos, especialmente para quem não compartilha da mesma conexão emocional com o Pearl Jam que o autor demonstra. Para quem busca uma biografia mais tradicional, com cronologia precisa e entrevistas exclusivas, títulos como Pearl Jam Twenty (publicado pela editora Best Seller) e Pearl Jam: Vivendo no Presente (publicado pela Estética Torta) podem ser opções mais indicadas.

Mas a leitura de Long Road: Pearl Jam e a Trilha Sonora de uma Geração vale sim a pena, especialmente se você é fã do Pearl Jam e curte livros que falam de música como experiência de vida, não apenas como produto. Long Road é menos sobre fatos e mais sobre sentimentos – e, nesse aspecto, cumpre bem sua proposta.

É o tipo de leitura que te faz querer colocar um CD da banda pra tocar e lembrar de como certas músicas se tornaram trilhas sonoras de fases importantes da vida. E isso, convenhamos, é o que torna o rock tão poderoso.


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