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Blues Breakers with Eric Clapton (1966): o disco que fez Clapton se tornar deus


Em 1966, Blues Breakers with Eric Clapton — também conhecido como The Beano Album — não apenas consolidou a reputação de John Mayall como uma figura central do renascimento do blues britânico, mas, principalmente, transformou Eric Clapton em uma lenda viva da guitarra. Foi a partir deste disco que pichações como “Clapton is God” começaram a aparecer pelos muros de Londres, e não era exagero: ali nascia um novo padrão de excelência no blues elétrico.

O álbum surgiu em um momento de efervescência musical no Reino Unido. Jovens músicos ingleses estavam redescobrindo o blues norte-americano e o reinventando com intensidade e volume. Após sua saída precoce dos Yardbirds — por considerar a banda comercial demais —, Clapton mergulhou no blues puro ao lado de John Mayall, e o resultado foi explosivo. Com a produção de Mike Vernon e o apoio da Decca Records, Blues Breakers with Eric Clapton foi gravado em poucas sessões, mas o impacto foi duradouro.

A grande inovação de Clapton no álbum está no timbre: ele usou uma guitarra Gibson Les Paul plugada em um amplificador Marshall combo — no volume máximo. Esse casamento entre instrumento e amplificador gerou um som encorpado, distorcido e poderoso, que viria a se tornar a base do blues rock e do hard rock. O "woman tone", como ficaria conhecido mais tarde, nasceu ali. A escolha de Clapton de usar um overdrive natural do amp — ao invés de pedais — conferiu uma crueza visceral ao seu som, influenciando gerações inteiras de guitarristas.


O repertório mistura composições próprias e reinterpretações de clássicos do blues. Músicas como “All Your Love” (de Otis Rush), “Hideaway” (instrumental de Freddie King) e a visceral “Double Crossing Time” (com solo arrasador de Clapton) são destaques absolutos. Já a versão de “Have You Heard” mostra o domínio emocional do guitarrista, enquanto “Ramblin’ on My Mind” marca a estreia de Clapton como vocalista em uma gravação.

Blues Breakers é considerado um dos pilares do blues britânico, influenciando não apenas guitarristas como Jimmy Page, Peter Green, Mick Taylor e Gary Moore, mas também moldando o som de bandas como Fleetwood Mac, Cream e Led Zeppelin. Foi o disco que mostrou que o blues podia ser reinventado com energia elétrica e identidade própria, mesmo a um oceano de distância do Mississippi.

Mais do que uma colaboração de ocasião, Blues Breakers with Eric Clapton é o marco zero de uma revolução guitarrística. É o momento em que Eric Clapton deixou de ser um promissor guitarrista britânico e se tornou, para muitos, o próprio Deus da guitarra.


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