O maior disco da história do pop brasileiro? Para muitos, Rádio Pirata Ao Vivo, lançado pelo RPM em 1986, ocupa esse posto, e não apenas por seu sucesso comercial estrondoso. Gravado nos dias 12 e 13 de maio daquele ano, em São Paulo, o álbum capturou uma banda no auge da popularidade, da energia e da ambição, transformando-se rapidamente em um fenômeno cultural. Com mais de 3,7 milhões de cópias vendidas, Rádio Pirata Ao Vivo é até hoje o álbum mais vendido da história do rock brasileiro.
O sucesso não surgiu do nada. Em 1985, o RPM havia lançado seu primeiro álbum, Revoluções por Minuto, que chamou atenção com sua sonoridade moderna, letras politizadas e apelo pop. Mas foi com Rádio Pirata Ao Vivo que o grupo explodiu de vez, beneficiando-se de uma estrutura de show inovadora para a época, com cenários, iluminação teatral e uma performance intensa que mesclava rock, synthpop e estética new wave.
Musicalmente, o disco é uma síntese precisa das influências que moldaram o RPM: o tecnopop britânico do Duran Duran e Ultravox, a rebeldia do The Clash, a sofisticação do Roxy Music e o espírito dançante do rock dos anos 1980. Entre os grandes momentos do álbum estão “Alvorada Voraz”, com sua crítica social cortante; “Rádio Pirata”, um hino da juventude da época; “Olhar 43”, um clássico imediato que marcou gerações; a versão para “London, London”, que apresentou a canção de Caetano Veloso para uma nova geração; e a instrumental “Naja”, que explicitou o bom gosto e a técnica musical do quarteto.
Apesar da consagração, os bastidores já mostravam rachaduras. O sucesso repentino, os egos inflados e o envolvimento com drogas acabaram afetando a coesão da banda. O RPM nunca mais repetiria o mesmo impacto artístico e comercial. O álbum seguinte, RPM (1988), conhecido como Quatro Coiotes, fracassou em comparação, e o grupo se dissolveria pouco depois. Tentativas de retorno aconteceram nos anos 2000, com diferentes formações, mas sem o brilho dos tempos áureos.
Rádio Pirata Ao Vivo segue, porém, como um marco incontestável. É o retrato de um momento em que o rock nacional dominava as paradas, os palcos e os corações — e o RPM, mesmo que por pouco tempo, foi o rei absoluto desse cenário.
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