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Tex, O Grande!, de Claudio Nizzi e Guido Buzzelli (2025, Mythos Editora)


Lançado originalmente na Itália em junho de 1988, Tex, O Grande! marcou a estreia da coleção Tex Gigante — também conhecida como Texone — criada para comemorar os 40 anos do famoso ranger. A proposta da Sergio Bonelli Editore era ousada: publicar aventuras fechadas em grande formato, com arte de renomados desenhistas italianos e internacionais. A edição inaugural ficou a cargo de Claudio Nizzi no roteiro e Guido Buzzelli na arte, resultando em uma HQ singular tanto no conteúdo quanto na forma.

No Brasil, a história foi publicada pela primeira vez em 1988, pela Editora Globo. Desde então, ganhou outras edições, com destaque para a versão colorida lançada em 2014. Agora, em 2025, a Mythos Editora inicia uma elogiável republicação da coleção em papel offset, preservando o traço dos artistas com mais fidelidade e oferecendo ao público uma versão mais durável e atraente.

A trama se passa no Oregon, onde misteriosos acidentes em uma madeireira levantam suspeitas de sabotagem. Pat Mac Ryan, amigo de Tex, chama o ranger e Kit Carson para investigar os estranhos acontecimentos. O enredo de Nizzi é direto, sem grandes surpresas, mas conduz bem a história com diálogos funcionais e ritmo dinâmico, equilibrando ação e investigação em doses certeiras. É um roteiro que privilegia a ambientação e abre espaço para que a arte tenha o protagonismo.

O grande destaque da obra é a arte de Guido Buzzelli. Conhecido por seu trabalho em quadrinhos mais adultos e autorais, Buzzelli trouxe para Tex um traço carregado de expressão, movimento e dramaticidade. Seus personagens têm peso e presença física real, e as composições de página fogem ao padrão da Bonelli, com ângulos ousados e uso intenso de sombras. A arte causa impacto já nas primeiras páginas e mostra como o formato gigante foi essencial para dar vazão à força de seu estilo. Na época, a escolha de Buzzelli causou controvérsia — o próprio Sergio Bonelli teria considerado seu traço "inadequado" para o personagem —, mas o tempo mostrou que foi uma decisão acertada. Hoje, o trabalho é visto como um marco na evolução gráfica de Tex.

Tex, O Grande! foi o ponto de partida de uma coleção que redefiniu os limites visuais do personagem. A coleção se tornou uma vitrine para grandes nomes da arte sequencial e ajudou a aproximar Tex do circuito de quadrinhos autorais. A cada volume, novos artistas foram convidados para reinterpretar o universo do ranger, mantendo a tradição do western, mas com liberdade gráfica incomum na Bonelli até então.

A nova republicação pela Mythos Editora resgata com justiça esse momento histórico dos quadrinhos italianos. Ao adotar papel offset, a editora valoriza o trabalho artístico e oferece ao leitor brasileiro uma experiência de leitura mais próxima da intenção original. Trata-se de uma iniciativa editorial louvável, que reconhece o valor dessa coleção não só como entretenimento, mas como patrimônio cultural do western em quadrinhos.

Tex, O Grande! é uma HQ essencial para fãs do personagem e para qualquer leitor interessado em ver o encontro entre tradição e vanguarda nos quadrinhos. A trama é simples, mas funcional, e a arte de Buzzelli transforma o roteiro em uma obra visualmente arrebatadora. A nova edição da Mythos só reforça a relevância deste clássico absoluto.


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