E se Chuck Schuldiner tivesse vivido mais tempo? Essa pergunta assombra os fãs de metal progressivo e extremo desde que o gênio por trás do Death nos deixou, em 2001, com apenas 34 anos, vítima de um câncer. The Fragile Art of Existence, lançado em 1999 sob o nome Control Denied, foi o último álbum gravado por Schuldiner e um testamento cristalino de sua evolução musical, mostrando que seu talento transcendia rótulos como death metal, thrash ou progressivo. Uma herança poderosa e o momento em que o criador do death metal técnico olha para frente e entrega sua obra mais sofisticada, melódica e ousada.
Após anos redefinindo o metal extremo com o Death — especialmente com os álbuns Human (1991), Individual Thought Patterns (1993), Symbolic (1995) e The Sound of Perseverance (1998) —, Chuck buscava novos caminhos. O Control Denied foi a resposta: um projeto que unia a complexidade do metal progressivo, a intensidade do metal tradicional e a agressividade precisa do death metal técnico, mas com vocais limpos. Para dar voz a essa nova etapa, Schuldiner recrutou o então desconhecido Tim Aymar, um vocalista poderoso e expressivo, que unia o feeling de Ronnie James Dio à energia de Rob Halford.
Ao lado de Chuck e Tim, uma formação impecável: Richard Christy na bateria (que já havia tocado no Death), Steve DiGiorgio no baixo (presente em Human e Individual Thought Patterns) e Shannon Hamm (também com passagem pelo Death) na guitarra base. Cada integrante brilha intensamente. Richard Christy alterna técnica brutal e sutileza progressiva com fluidez espantosa. Steve DiGiorgio transforma o baixo em instrumento protagonista, com linhas melódicas e grooves intrincados. Shannon Hamm oferece peso e complexidade nas bases, dando sustentação perfeita à guitarra principal de Schuldiner. Tim Aymar, com seu alcance e emoção, é a ponte entre a fúria e a beleza da música. E Chuck Schuldiner, por fim, está em estado de graça: riffs cortantes, solos emocionais, arranjos impecáveis e letras que refletem sua busca por sentido, arte e transcendência.
As faixas mesclam agressividade e lirismo. “Consumed” abre com técnica e urgência, “Breaking the Broken” é densa e emotiva, enquanto “What If…?” e a faixa-título exploram o existencialismo com melodias arrebatadoras. “Cut Down”, por sua vez, soa quase como um desabafo antecipado, carregada de raiva e frustração.
The Fragile Art of Existence não é apenas a culminação de tudo que Chuck Schuldiner construiu — é também o prenúncio de um futuro brilhante que jamais se concretizou. Seu legado está em cada nota, cada letra e cada mudança de andamento. É a prova definitiva de que o cérebro do Death e um dos criadores do death metal era, antes de tudo, um músico visionário.
Esse álbum não encerra uma carreira. Ele abre uma porta que, infelizmente, foi fechada cedo demais.
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