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Pink Floyd sem Roger Waters: o impacto de A Momentary Lapse of Reason (1987)


O primeiro álbum do Pink Floyd sem Roger Waters sempre foi um ponto de divisão entre fãs. A Momentary Lapse of Reason, lançado em 7 de setembro de 1987, carrega em si tanto a tentativa de manter viva a chama de uma das maiores bandas da história quanto as marcas de um período conturbado. Com Waters fora após anos de brigas internas, David Gilmour assumiu o volante, contando com Nick Mason e Richard Wright em papéis reduzidos.

O rock progressivo já não dominava os anos 1980. O Pink Floyd vinha de The Final Cut (1983), praticamente um disco solo de Waters, sombrio e sem coesão de banda. Gilmour sabia que precisava reconquistar o público e provar que a marca Pink Floyd ainda tinha relevância. O resultado foi um álbum que mistura o DNA da banda com a estética grandiosa e polida da década, recheado de timbres de sintetizadores, bateria eletrônica e arranjos que, por vezes, soam datados hoje.

As influências recaem tanto sobre o passado da própria banda – há momentos em que Gilmour recria atmosferas de Wish You Were Here (1975) e Animals (1977) – quanto sobre o rock de arena dos anos 1980, mais preocupado com impacto sonoro do que com sutileza. O produtor Bob Ezrin, que já havia trabalhado em The Wall (1979), ajudou a dar esse acabamento épico, pensando em como as faixas funcionariam ao vivo.


Entre as músicas, “Learning to Fly” se tornou um hino, com clima espacial e um refrão que traduzia bem o momento de renascimento do grupo. “On the Turning Away” traz a carga emotiva que sempre foi a especialidade de Gilmour, uma canção que envelheceu bem e ainda é lembrada com carinho pelos fãs. “Sorrow” encerra o disco de forma poderosa, com um riff denso que apontava para um Pink Floyd mais pesado e atmosférico. Já faixas como “Dogs of War” refletem o flerte com o rock de arena da época e dividem opiniões.

A Momentary Lapse of Reason é um disco paradoxal. Para muitos, ele soa como um disco solo de David Gilmour maquiado com o nome Pink Floyd. Para outros, foi a prova de que a banda podia existir sem Waters, preparando terreno para o monumental The Division Bell (1994). Comercialmente, foi um sucesso estrondoso: levou a banda novamente às arenas e resultou na gigantesca turnê que gerou o ao vivo Delicate Sound of Thunder (1988).

No fim das contas, o álbum funciona como um retrato de época: a reinvenção de uma lenda sob as condições de um tempo em que o rock progressivo já não ditava tendências. A Momentary Lapse of Reason pode não estar no mesmo patamar dos clássicos dos anos 1970, mas cumpriu sua função de garantir que o Pink Floyd seguisse vivo – e, só por isso, já ocupa um lugar importante na discografia do grupo.


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