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Rush em Hold Your Fire (1987): a elegância do trio canadenses em sua fase mais sofisticada e controversa


Lançado em 8 de setembro de 1987, Hold Your Fire marca um dos momentos mais refinados e, ao mesmo tempo, mais controversos da carreira do Rush. O álbum é o ápice da fase sintetizada do trio canadense, período em que Alex Lifeson, Geddy Lee e Neil Peart mergulharam de cabeça nos timbres eletrônicos, samples e programações, deixando a guitarra em segundo plano para dar espaço a climas atmosféricos e arranjos de pop progressivo.

O disco chegou às lojas em um cenário de mudanças. O rock dos anos 1980 vivia o auge do hard rock festivo e das bandas de arena, enquanto a estética sintetizada dominava tanto o pop quanto o rock alternativo. O Rush, que desde Signals (1982) vinha explorando essa sonoridade, aqui levou a fórmula ao extremo, abraçando influências de bandas como The Police e Talking Heads, além da sofisticação pop de Peter Gabriel e Sting.

Entre os destaques, Hold Your Fire entrega algumas das composições mais melódicas da carreira do grupo. “Time Stand Still” é uma joia atemporal, com Aimee Mann dividindo os vocais com Geddy Lee em uma das músicas mais emocionantes já feitas pelo trio, falando sobre o desejo de congelar momentos especiais. “Force Ten” abre o álbum com energia, sintetizadores pulsantes e uma letra motivacional típica da pena de Neil Peart. “Mission” é um hino à persistência criativa, enquanto “Turn the Page” e “Prime Mover” carregam uma vibe inspiradora, muito conectada à atmosfera otimista dos anos 1980. Já “Lock and Key” traz uma crítica social mais sombria, lembrando que, por trás da civilização, ainda existem instintos primitivos.


Do ponto de vista musical, este é o álbum em que Geddy Lee mais se afasta do baixo como protagonista, explorando texturas e camadas de teclados. Alex Lifeson, muitas vezes acusado de estar apagado nesta fase, trabalha mais nos climas e ambiências do que em riffs diretos, enquanto Neil Peart mantém sua precisão rítmica impecável, mas adaptada a arranjos mais enxutos e eletrônicos.

Para muitos, Hold Your Fire representa o excesso da fase sintetizada, com o Rush soando pop demais e distante da potência progressiva e hard rock de seus anos 1970. Para outros, é um registro de maturidade, mostrando como a banda soube dialogar com o seu tempo sem perder a identidade. Mesmo não estando entre os álbuns mais lembrados da discografia, ele guarda músicas que resistiram ao tempo e continuam emocionando, especialmente “Time Stand Still” e “Mission”.

Mais de três décadas após o seu lançamento, Hold Your Fire permanece como um documento sonoro da ousadia do Rush em sempre seguir em frente, mesmo que isso significasse se afastar das expectativas de parte de seus seguidores. É, acima de tudo, um álbum que mostra três músicos no auge da criatividade, experimentando, arriscando e se recusando a repetir fórmulas.

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