Pular para o conteúdo principal

Além dos anos 1970: o Aerosmith no auge da sobrevivência em A Little South of Sanity (1998)


A Little South of Sanity
é o retrato de uma banda que sobreviveu a todas as tempestades e emergiu das cinzas com fome de palco. Lançado em outubro de 1998, o álbum duplo ao vivo registra apresentações das turnês Get a Grip (1993–94) e Nine Lives (1997–98), condensando uma era de renascimento artístico e comercial para o Aerosmith — uma das mais improváveis segundas vidas do rock.

Nos anos 1970, o grupo foi o equivalente americano dos Rolling Stones, misturando blues, sexualidade e caos com perfeição. Mas o colapso causado pelas drogas, as brigas internas e a decadência nos anos 1980 quase acabaram com tudo. O retorno com Permanent Vacation (1987), Pump (1989) e Get a Grip (1993) colocou a banda novamente no topo, abraçando o hard rock de arena e as baladas formatadas para tocar à exaustão nas rádios FM e na MTV, e abrindo portas para uma nova geração de fãs. A Little South of Sanity captura essa fase madura, quando Steven Tyler e Joe Perry já tinham passado pelo inferno e voltado para contar a história, com o carisma intacto e a energia redobrada.

O repertório mistura clássicos setentistas e hits da era MTV. “Mama Kin”, “Sweet Emotion” e “Dream On” trazem o peso e o groove das origens, enquanto “Love in an Elevator”, “Cryin’”, “Livin’ on the Edge” e “Amazing” representam o lado pop que dominou as rádios nos anos 1990. A gravação mantém o equilíbrio entre espontaneidade e perfeição técnica, mostrando o Aerosmith como uma engrenagem precisa, mas ainda pulsante.


Steven Tyler está em plena forma, sua voz rasgando com autoridade e teatralidade, enquanto Joe Perry alterna riffs sujos e solos melódicos com a naturalidade de quem nasceu com uma guitarra nas mãos. O trio Tom Hamilton, Brad Whitford e Joey Kramer sustenta tudo com uma firmeza quase invisível, o tipo de coesão que só décadas de estrada produzem.

Com mais de 1 milhões de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos, A Little South of Sanity marca o fim de um ciclo: o último grande suspiro da fase clássica antes da banda mergulhar nos excessos pop de Just Push Play (2001). É um álbum que mostra o Aerosmith no auge técnico e emocional, consciente de sua própria lenda, mas ainda com a urgência de provar algo.

A Little South of Sanity soa como uma cápsula do tempo de uma era em que o rock mainstream ainda dominava arenas e rádios. Um lembrete de que, apesar de todas as modas, o Aerosmith sempre foi — e continua sendo — uma das últimas bandas de hard rock capazes de transformar decadência em espetáculo.

Comentários