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Aurora Consurgens (2006): a despedida da formação que mudou a história do Angra


Aurora Consurgens
(2006) marcou o fim de um ciclo na história do Angra. Foi o último disco gravado com a formação que reuniu Edu Falaschi, Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Felipe Andreoli e Aquiles Priester — um quinteto que redefiniu o metal brasileiro nos anos 2000 e levou o nome da banda a um novo patamar de popularidade e reconhecimento internacional. Se Rebirth (2001) simbolizou o renascimento após a saída de Andre Matos, e Temple of Shadows (2004) consolidou uma identidade mais madura e progressiva, Aurora Consurgens trouxe um Angra mais sombrio, direto e introspectivo.

O álbum foi inspirado em escritos medievais atribuídos a Santo Tomás de Aquino e mergulha em temas ligados à psicologia humana — depressão, loucura, ira, luxúria — refletindo conflitos internos e o peso da mente no mundo moderno. A sonoridade acompanha esse clima: o virtuosismo continua presente, mas em vez de soar épico e iluminado como antes, aqui o Angra explora texturas mais densas, com riffs pesados, timbres escuros e arranjos menos neoclássicos. A produção, assinada por Dennis Ward, é polida, mas permite que a energia crua da banda respire.

Musicalmente, Aurora Consurgens tem momentos de pura excelência. “The Course of Nature” abre o álbum com uma introdução climática que se transforma em um dos riffs mais intensos da discografia do grupo. “Ego Painted Grey” e “Breaking Ties” misturam técnica e emoção, com melodias marcantes e performances inspiradas de Falaschi. “Salvation: Suicide” é uma das faixas mais ousadas — pesada, quase desesperada, com uma entrega vocal impressionante. Já “The Voice Commanding You” traz uma agressividade quase thrash, enquanto “Window to Nowhere” e “So Near So Far” equilibram peso e melodia com inteligência. O encerramento com “Abandoned Fate” é melancólico e simbólico, como se anunciasse o fim de uma era.


Embora não tenha alcançado o mesmo impacto imediato de Temple of Shadows, Aurora Consurgens é um trabalho corajoso, que desafia expectativas e mostra um Angra mais humano e vulnerável. Ele antecipa, de certa forma, as tensões internas que culminariam nas saídas de Edu e Aquiles (este é o último disco com o baterista, enquanto o vocalista ainda gravaria Aqua, de 2010), mas também prova o quanto a banda era capaz de se reinventar sem perder sua essência.

Com o passar do tempo, o disco ganhou o status de obra subestimada — um capítulo denso e emocional, que mostra o Angra lidando com suas próprias sombras. Aurora Consurgens soa como o último suspiro de uma formação que atingiu a perfeição técnica e artística, mas que já sentia as rachaduras da convivência e das pressões da estrada. É o crepúsculo de uma era — belo, tenso e inesquecível.


Comentários

  1. um bom album, dentro de uma carreira recheada de bons a ótimos albuns, minha visão sobre meus albuns preferidos da carreira do angra difere um pouco da sua, até hoje, sem dúvida, meu preferido é angels cry, seguido de temple of shadows (aí concordamos), em terceiro lugar coloco a fantástica demo reaching horizons, uma das melhores domo tapes já feitas por uma banda metal, bem gravada, com performances marcantes e, em minha modesta visão, a maior performance vocal da carreira do andré na faixa título da demo, uma canção belíssima com linhas melódicas emocionantes e interpretação divina, não sendo superada nem pela regravação dela no ep freedom call. seguindo, em quarto lugar, holy land e, em quinto rebirth, sendo este meu top five da banda.

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