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Tiktaalika em Gods of Pangaea (2025): Charlie Griffiths reafirma sua força criativa fora do Haken


Charlie Griffiths já havia deixado claro, no primeiro álbum de seu projeto Tiktaalika, que sua intenção era escrever uma carta de amor ao metal clássico filtrada pela visão de um guitarrista habituado às complexidades progressivas do Haken. Em Gods of Pangaea (2025), essa carta ganha nova tinta: mais direta, mais agressiva e, ao mesmo tempo, mais coesa. O disco consolida o Tiktaalika como algo muito além de um simples projeto paralelo. É um espaço em que Griffiths revisita as raízes do metal e as reconstrói com a precisão e o bom gosto de quem conhece profundamente o ofício.

O álbum surge num momento interessante da carreira do guitarrista e da própria cena progressiva. Depois de anos imersos em experimentações e técnica, músicos como Griffiths parecem dispostos a retomar o contato com a essência — riffs fortes, refrães marcantes e estruturas que, mesmo sofisticadas, não perdem o senso de impacto. Gods of Pangaea abraça esse espírito: é um disco que privilegia o riff e o gancho, sem abrir mão da inventividade. As influências transitam entre o heavy metal tradicional, o thrash e o prog moderno, com ecos de Iron Maiden, Metallica e até Dream Theater em certos arranjos. Há momentos em que o ouvinte sente o peso e a energia de um metal noventista, com o toque contemporâneo da produção cristalina e da execução impecável.

Parte da força do álbum vem do elenco de convidados. Daniël de Jongh (Textures), Rody Walker (Protest the Hero) e Tommy Rogers (Between the Buried and Me) dividem os vocais em diferentes faixas, cada um trazendo sua identidade e reforçando a ideia de que o Tiktaalika é uma celebração das múltiplas vozes do metal. O baixo de Conner Green e a bateria de Darby Todd formam uma base sólida, enquanto a mixagem — clara e potente — dá destaque a cada detalhe. O resultado é um som limpo, pesado e vibrante, que exalta a guitarra de Griffiths sem sufocar o conjunto.


O álbum mantém o equilíbrio entre ambição e acessibilidade. “Gods of Pangaea”, a faixa-título, resume bem a proposta: riffs cortantes, refrão memorável e uma alternância dinâmica entre melodia e agressividade. “Tyrannicide” é curta e certeira, com um vocal poderoso de Daniël de Jongh e um groove que convida ao headbanging. “Mesozoic Mantras” e “Fault Lines” exploram texturas mais densas, com arranjos que lembram o peso progressivo de bandas como Gojira e Mastodon. O encerramento com “Lost Continent”, cantada por Tommy Rogers, é uma viagem de quase nove minutos que costura todas as influências do álbum em uma faixa épica, repleta de variações e climas.

Gods of Pangaea é um trabalho de maturidade, em que um músico técnico e cerebral encontra prazer em escrever canções que soam naturais, pesadas e, acima de tudo, vivas. É metal tocado com inteligência e coração, um equilíbrio raro em tempos em que muitos discos se perdem entre virtuosismo e fórmulas gastas.

O álbum reafirma o talento de Charlie Griffiths como compositor e guitarrista muito além do seu trabalho no Haken, e mostra que ainda há espaço para álbuns de metal que dialogam com o passado sem parecer antiquados. É uma obra que conversa tanto com o público do prog quanto com quem busca riffs e refrães poderosos.

O novo disco do Tiktaalika desponta como um dos destaques de 2025 — um lembrete de que o metal ainda pode soar moderno, vibrante e cheio de propósito quando é feito por quem realmente entende o gênero.

O álbum foi lançado no Brasil pela Voice Music com encarte de 16 páginas com todas as letras, além da presença da faixa bônus instrumental “Chicxulub”.


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