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Nem cópia, nem continuação: como A Day at the Races (1976) consolidou o Queen após “Bohemian Rhapsody”


Lançado em 10 de dezembro de 1976, A Day at the Races marcou o momento em que o Queen deixou de ser uma banda em ascensão e passou a operar com a confiança de quem acabara de lançar um dos álbuns mais importantes da década, o monumental A Night at the Opera (1975). A pressão era inevitável: todo mundo queria saber qual seria o próximo passo depois de “Bohemian Rhapsody”. A resposta veio com um disco que não tenta reinventar a roda, mas a faz girar com classe, precisão e ambição.

Gravado entre julho e novembro de 1976, o álbum mantém a estética grandiosa que já era característica do Queen na época. Camadas de vozes, arranjos expansivos, guitarras com a assinatura inconfundível de Brian May e uma produção pensada para soar enorme em qualquer sistema de som. Se por um lado isso levou parte da crítica da época a acusar o quarteto de repetir a fórmula de seu trabalho anterior, o tempo tratou de reposicionar A Day at the Races como um dos discos mais consistentes do catálogo da banda.

O álbum abre com o peso direto de “Tie Your Mother Down”, faixa que se tornou presença obrigatória nos shows e mostra o quanto o Queen dominava o hard rock quando queria. Na sequência, Freddie Mercury entrega uma das performances vocais mais emocionantes de sua carreira em “You Take My Breath Away”, construção minimalista e envolvente, quase hipnótica. Já “The Millionaire Waltz” retoma o lado operístico do grupo, alternando climas, ritmos e densidades em uma faixa que, sim, ecoa a ousadia de “Bohemian Rhapsody”, mas com personalidade própria.


O ponto alto do disco e o motivo de seu legado permanecer tão firme é “Somebody to Love”, single que levou a abordagem vocal do Queen ao universo do gospel, com sobreposições impressionantes e uma interpretação que mostra por que Mercury se tornou uma das vozes mais icônicas da história do rock. A música é um capítulo à parte dentro da discografia da banda.

O que faz A Day at the Races funcionar tão bem é a combinação entre ambição e unidade. Mesmo sem a carga revolucionária de seu predecessor, o disco é sólido, repleto de grandes composições e com um senso de identidade marcante. Não há um movimento brusco, uma virada estética arriscada. O Queen refina aquilo que havia apresentado no ano anterior e entrega um álbum que envelheceu melhor do que suas primeiras reações críticas sugeriam.

A Day at the Races permanece como um trabalho que equilibra peso, emoção, técnica e teatralidade, reafirmando o Queen como uma força criativa que sabia exatamente o que estava fazendo. Não é A Night at the Opera, mas nunca precisou ser. A Day at the Races vive muito bem por conta própria.


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