Permitam-me a liberdade de uma crítica impressionista (e, no cenário da crítica musical brasileira, uma análise mais rigorosa sobre o rock aqui feito nas últimas décadas seria muito bem-vinda, embora eu não tenha condições de empreendê-la agora). As linhas de força do rock brasileiro da década de 2010, mas, em alguma medida, também dos anos 2000, certo apelo folk e indie, alguma atmosfera altamente pretensiosa – penso aqui, sobretudo, na linhagem de bandas que surgiram à esteira da delicadeza pop de nomes como o Vanguart e A Banda Mais Bonita da Cidade –, carregam consigo o que considero uma higienização do estilo. Explico: em termos do que se passou no mainstream, os anos 1990 elevaram a voltagem lírica do rock nacional a um patamar de choque ou adesão, de atração e repulsa, e isto para o bem e para o mal. Da crítica social em bandas como Nação Zumbi e O Rappa à defesa incondicional da legalização da maconha no Planet Hemp, passando pela crônica machista ou, melhor dizendo, p...