Blood Ceremony: crítica de The Eldritch Dark (2013)

Você já ouviu falar do Jethro Tull. É, aquela banda inglesa do cara cabeludo que toca flauta. Os caras de “Aqualung”, lembra? Os autores de “Cross-Eyed Mary”, que o Iron Maiden regravou na década de 1980. A banda que venceu o Metallica na categoria heavy metal em uma das edições do Grammy. O grupo que tem aquele disco com capa de jornal e uma música de cada lado. Lembrou?

E o Coven, você sabe quem é? Era uma banda norte-americana que lançou um disco clássico em 1969 chamado Witchcraft Destroys Minds & Reap Souls, que tinha uma foto de um ritual com uma mulher nua cercada de caveiras e velas no seu encarte. Que tinha uma loira como vocalista, que, dizem, mergulhou valendo no ocultismo e nunca mais foi vista. Sem o Coven e seu primeiro álbum, toda essa cena de occult rock que vemos hoje em dia com nomes como Ghost, Year of the Goat, The Devil’s Blood e mais um monte de gente, provavelmente não existiria.

E o Blood Ceremony, já ouviu falar? Eu conto. Eles são do Canadá e estão na ativa desde 2006. A banda é formada por Alia O’Brien (vocal, flauta e órgão), Sean Kennedy (guitarra), Lucas Gadke (baixo) e Michael Carrillo (bateria). Eles já gravaram três discos. A estreia batizada apenas com o nome saiu em 2008. Em 2011 foi a vez de Living with the Ancients. E o mais recente, The Eldritch Dark, saiu no final de maio pela Rise Above e pela Metal Blade.

O que essas três bandas têm em comum? Muito. O Blood Ceremony é o ponto de intersecção entre o Jethro Tull e o Coven. Do primeiro, pegou uma boa parcela da sonoridade, o flerte com o folk e, claro, a presença da flauta. Do segundo, traz laços fortes com a temática das letras, sempre falando sobre temas sombrios, soturnos, ocultos. Em suma: pactos, sacrifícios e rituais embalados em uma música agradável, cheia de melodia e guiada por uma flauta doce hipnótica. O Blood Ceremony é o filho que o Jethro Tull e o Coven tiveram em seu primeiro encontro.

Tendo na vocalista e flautista Alia O’Brien a sua figura principal, o Blood Ceremony chama a atenção pela capacidade de criar canções cativantes e com belos arranjos. Optando por uma estética bem setentista, com timbres que remetem ao início daquela década, a banda proporciona uma viagem no tempo. A flauta de Alia marca presença em todas as composições, dando um toque único à uma sonoridade por si só já interessante. É a cereja do bolo. E uma cereja da qual conhecemos o gosto, já que os trechos instrumentais parecem saídos diretamente de algum disco perdido do Jethro Tull. A forte presença do órgão também colabora para evidenciar ainda mais esse tempero vintage, trazendo à tona influências como Uriah Heep e Deep Purple.

Com categoria e talento, o Blood Ceremony entrega outra vez um disco muito bom, gostoso de ouvir e agradável em sua totalidade. Um disco que não nasceu com a pretensão de mudar nada, apenas proporcionar boa música. E nesse quesito, que é o que importa, The Eldritch Dark é bastante pródigo. “Witchwood” abre o play com um riff saído das catacumbas e é uma das melhores músicas do disco. A atmosférica “Lord Summerisle” parece um outtake do clássico The Magician’s Birthday, disco de 1972 do Uriah Heep. “Ballad of the Weird Sisters” desenvolve-se sem pressa, com belas linhas vocais e passagens instrumentais bastante ricas. “Faunus” é uma espécie de folk blues instrumental onde a flauta de O’Brien reclama o seu protagonismo. E a coisa toda segue com um desfile de fortes canções, em um conjunto homogêneo onde é difícil apontar destaques individuais.

Se você nunca ouviu falar do Blood Ceremony, chegou a hora de conhecer a banda. Ouça The Eldritch Dark e descubra um dos nomes mais singulares do occult rock. E aproveite a ocasião para ir atrás também do Coven e seu clássico Witchcraft Destroys Minds & Reap Souls (1969) e para redescobrir a sensacional discografia do Jethro Tull, repleta de pérolas perdidas em discos que fazem parte do guia prático de como o rock deve soar.

Discão!

Nota 8

Faixas:
1 Witchwood
2 Goodbye Gemini
3 Lord Summerisle
4 Ballad of the Weird Sisters
5 Eldritch Dark
6 Drawing Down the Moon
7 Faunus
8 The Magician

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Já havia escutado umas 2 ou 3 músicas desse disco e achado interessate. Tô devendo ouvir o disco inteiro, porque deve valer a pena.

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  2. O disco é bom, mas na minha opinião é bem inferior ao "Living with the Ancients". Pra falar a verdade, o "Living..." é um dos melhores álbuns pós-2000 que eu ouvi.

    Blood Ceremony é uma excelente banda.

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  3. Boa resenha cara, esse revival vem crescendo por aqui e tem alguns caras que entendem do assunto fazendo valer o lance, com um alcance pequeno, mas sem baixar a cabeça.
    Se quiser conhecer um pouco da minha correria pelo Stoner, Doom e afins nacional, dá uma sacada aqui - https://www.facebook.com/pages/Stoned-Union-Doomed/674475515904441 - e nisso aqui também - http://arrastadoedesacelerado.blogspot.com.br/ - Valeu.

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