Protest The Hero: crítica de Volition (2013)



Formado em 2001, o Protest The Hero se revelou um dos mais promissores nomes do metal canadense logo nos primeiros anos com os EPs Search for the Truth e A Calculated Use of Sound, mas principalmente graças ao trabalho de estreia, Kezia (de 2005), uma obra conceitual que impressiona até hoje pela técnica dos ainda jovens integrantes.

Oito anos depois, com um salto de popularidade notável com os lançamentos de Fortress (2008) e Scurrilous (2011) e devidamente estabelecido não apenas entre o público do metalcore, o grupo canadense se desligou da sua gravadora Underground Operations e recorreu ao crowdfunding para financiar seu quarto trabalho de estúdio.


Volition foi lançado no último dia 29 de outubro, produzido por Cameron McLellan e conta com uma série de convidados, sendo mais notável a presença de Chris Adler (Lamb of God) substituindo o baterista Moe Carlson, que deixou a banda este ano.


Com apenas alguns minutos, já é possível notar como o Protest The Hero continua em constante e desenfreada evolução: “Clarity” abre o disco trazendo todas as características que construíram a sua identidade ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que apresenta uma banda mais confortável no que diz respeito a tentar algo mais. As passagens de guitarra permanecem tipicamente mathcore e insanamente técnicas, mas com uma quebradeira rítmica mais compreensível e contida em relação às megalomaníacas faixas de Scurrilous (talvez o estilo de Adler seja determinante nisso).


Outra mudança saudável refere-se à Rody Walker, muito mais criativo, sem apelar para os esganiçados apresentados anteriormente e ainda assim criando melodias extremamente marcantes, como em “Drumhead Trial”, faixa mais acelerada e com a participação do virtuoso Ron Jarzombek (do Blotted Science) e da cantora de country Kayla Howran, que apesar da violência, deixa uma base relativamente livre para a criação das vozes. 


“Tilting Against Windmills” segue um caminho diferente, épico e com um acento voltado para o metal progressivo em seu formato mais tradicional, assim como “Without Prejudice” e o seu híbrido entre metalcore e power metal com toques extremos, que deixa a incômoda impressão de que é necessário mais do que um simples par de pulmões para acompanhá-la. Ao menos, “Yellow Teeth” e “Plato’s Tripartite” são um pouco (bem pouco) mais cadenciadas, e embora o bombardeio de notas e informações permaneça de forma impiedosa, é um momento de tranquilidade, em especial a segunda, antes que o caos volte a se instaurar.


Até mesmo porque “A Life Embossed” liberta a pancadaria em um dos momentos mais frenéticos em Volition, incluindo vocais guturais e rasgados em momentos determinantes pela primeira vez no álbum, em meio aos licks neoclássicos da dupla Tim Millar e Luke Hoskin e às incontáveis mudanças de andamento. Em outra direção, “Mist” parece ir fundo nas raízes da banda, ficando em um meio termo entre o metalcore e o post-hardcore, sem abandonar os intrincados toques de jazz, encerrando como uma música tipicamente progressiva.

Nesse momento do álbum, porém, a banda parece se repetir um pouco com “Underbite”, que cai no erro fatal de ser apenas mais uma música sem momentos exatamente marcantes, perdida em meio às grandes composições. “Animal Bones”, porém, mostra que a faixa anterior foi apenas um ligeiro escorregão no chão molhado, recolocando o fluxo nos trilhos com ideias que poderiam muito bem ter estado no álbum anterior, se este recorresse ainda mais ao progressivo clássico. Encerrando o trabalho, “Skies” é uma das grandes músicas na discografia dos canadenses, aonde eles parecem encontrar o ponto de equilíbrio entre todas as nuances de metalcore, math e prog inerentes à sua proposta musical, com um resultado completo, sem nenhuma aresta.


Este equilíbrio não é exatamente atingido em todas as faixas em Volition, mas o motivo é muito simples: não é necessariamente este o objetivo em cada uma delas. Esse dinamismo sutil e predominante é o que torna o novo trabalho alguns degraus acima de seus anteriores, mostrando como o Protest The Hero tem aplicado toda a sua experiência em composições cada vez mais definidas e completas, não se preocupando apenas em soarem apenas técnicos, mas músicos dedicados em prol da música em si, sem drásticas mudanças.


Definitivamente, quase não há espaço para respirar profundamente aqui, mas essa claustrofobia que aumenta no decorrer do álbum é um dos principais fatores que tornam a experiência tão interessante, já que, apesar de algumas ressalvas, somos submetidos a uma sucessão sem freios de melodias e letras extremamente inteligentes que irão martelar durante bom tempo na mente. Os canadenses mostraram mais uma vez por qual motivo são uma das bandas mais singulares atualmente, e que o som deles não é apenas um ponto de convergência entre diversas vertentes musicais, mas algo que pode vir a ser muito maior, como um próximo passo na evolução de certos estilos já saturados.


Nota 8,5


Faixas:
01. Clarity
02. Drumhead Trial
03. Tilting Against Windmills
04. Without Prejudice
05. Yellow Teeth
06. Plato’s Tripartite
07. A Life Embossed
08. Mist
09. Underbite
10. Animal Bones
11. Skies


Por Rodrigo Carvalho

Comentários

  1. Eu aguardava um dos melhores álbuns do ano, mas me deparei "somente" com um bom disco.
    Há músicas incríveis e bem dosadas, como a mencionada na crítica "Skies". Porém, em minha opinião, a banda deu um pequeno passo atrás em comparação ao Scurrilous, o disco mais equilibrado de sua carreira, o qual causou enorme expectivava em mim.
    Há músicas com partes típicas do tal mathcore que me soaram totalmente dispensáveis, com vocais gritados sem a menor graça, e instrumental "banalizando" a virtuosidade, algo que a banda havia resolvido no maravilhoso Scurrilous.
    Espero que o PTH passe a intencionar uma sonoridade mais pop, pois penso que, com isso, atingiriam o ápice em suas composições.

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