Amoral: Crítica de Fallen Leaves & Dead Sparrows (2014)


Mesmo estando na ativa desde 1997, há de se admitir que os holofotes voltaram-se para os finlandeses do Amoral apenas em 2008, quando anunciaram que o seu novo vocalista seria Ari Koivunen, o jovem vencedor do programa “Ídolos” em seu pais (e coincidentemente um dos artistas que mais vendeu discos na história da Finlândia). Até aí tudo bem, mas o que realmente chamou a atenção foi como a banda, que até então era praticante de um técnico death/thrash metal em seus três primeiros álbuns, mudou drasticamente o seu som para aquele power metal de formato padrão, causando revolta entre seus seguidores extremos.

Desde então, com Show Your Colors (2009) e Beneath (2011), o Amoral transitou de forma um tanto quanto genérica (mas bem intencionada) entre as escolas finlandesas e alemãs do estilo, sendo massacrado mundo afora por aqueles que julgavam essa nova fase da banda apenas como um bando de moleques tocando músicas questionáveis. E para os menos propícios ao novo rumo da banda, Fallen Leaves & Dead Sparrows pode não agradar completamente. Mas a realidade é que em seu sexto disco, lançado novamente pela Imperial Cassette, o quinteto amadureceu de forma mais do que notável – algo evidente desde os títulos das músicas, até a espetacular arte.

Apesar do sugestivo início a la metalcore americano, bastam alguns segundos para o riff de “On The Other Side Pt. I” dar passagem a um power metal mais gélido, cadenciado e climático. Interessante notar que o Amoral se afasta um pouco da bem humorada personificação germânica do estilo, presente nos dois discos anteriores, ao mesmo tempo em que tenta inserir pequenos detalhes no instrumental com o intuito de não tornar os sete minutos da faixa de abertura uma experiência maçante e interminável como o caminhar sobre uma planície tomada pela neve. Aliado a isso, Koivunen opta por um direcionamento mais contido, limpo e melódico, que se causa certa estranheza no início, termina perfeitamente casado com o tom lírico sério e com a veia mais progressiva e atmosférica da banda no novo trabalho.

“No Familiar Faces” pode ter um riff guia meio híbrido entre power metal e melodic death, mas segue bem parecida com a faixa anterior, apenas mais solta e agressiva, uma escalada que atinge o seu ápice na surpreendente “Prolong A Stay”. Alternando entre momentos diretos que beiram o hardcore e outros de puro symphonic metal, o Amoral acerta novamente em não estabelecer limites a sua música, principalmente ao abrir espaço até para os contrastantes blastbeats sob uma sonoridade quase contemplativa, triunfando aonde até muitas bandas extremas perdem a mão.

A balada “Blueprints”, porém, mesmo tendo flerte com o blues e um clima meio setentista, quebra o desenvolvimento do disco de forma brutal, que volta a se recuperar em ritmos ainda lentos e ponderadamente só com “If Not Here, Where?”: uma cadenciada correnteza de mais de nove minutos que atravessa águas ora límpidas e tranquilas o suficiente para observar a paisagem, ora salobras e tempestuosas cortadas por pedras e corredeiras mortais, até a confusão de “The Storm Arrives”, um belo instrumental, mas que parece alongar-se mais do que deveria.

O mesmo ocorre com a balada “See This Through” e o seu código genético savatagiano, mas que se perde em um mar de melodias e timbres cafonas unidos de forma forçada em determinados momentos. É salvo do afogamento apenas por “On The Other Side Pt. II” e a injeção de oxigênio proporcionada pelo equilíbrio entre o prog metal e o melodeath, uma espécie de faixa colaborativa entre o Dream Theater pós-Octavarium e o Amorphis de Tomi Joutsen, ditada por um sentimento épico que se mostra inteligentemente manifestado para encerrar o álbum.

Há de fato um amadurecimento em Fallen Leaves & Dead Sparrows. Por mais que o Amoral ainda arrisque de forma contida, o fato de darem o primeiro passo para longe da estagnação de seus discos anteriores (e veja bem, isso cabe para a fase death metal também) e tentar um novo direcionamento, novas ideias, é digno de respeito. A criatividade e capacidade de composição dos músicos não é algo que precisava ser colocada à prova, mas se manifesta aqui de forma mais experimental, livre e, principalmente, unindo vários elementos que apareciam apenas de forma dispersa anteriormente.

E são exatamente nestes momentos mais progressivos e dinâmicos que a banda demonstra como evoluiu consideravelmente, deixando para trás a simplicidade e conceitos vazios de outrora para construir uma experiência musical interessante o suficiente para, mais uma vez, talvez impressionar parcela de seus admiradores com algo que não se esperava. Claro, este disco representa apenas o primeiro passo, ainda desequilibrado em certas partes, escorregando em outras – as incompletas “The Storm Arrives” e “See This Through”, principalmente – mas ávido por manter-se em pé enquanto o fluxo passa por ele de forma vertiginosa e cada vez mais violenta. 

Nota 7

Faixas:
1. On The Other Side Pt. I
2. No Familiar Faces
3. Prolong A Stay
4. Blueprints
5. If Not Here, Where
6. The Storm Arrives
7. See This Through
8. On The Other Side Pt. II


Por Rodrigo Carvalho

Comentários

  1. Poxa...ótima crítica, tbm tive o mesmo pensamento do disco, mas discordo do que disse de "See This Through" acho a balada bem feita e profunda, só não achei que o timbre do Ari se encaixou nas notas mais baixas, tbm achei que a " The Storm Arrives" foi desnecessariamente alongada (muito do mesmo), não curto gutural e por isso não curti muito a "If Not Here Where" mas admito que a versatilidade dos vocais é surpreendente, "On The Other Side part 1" tem o início liiindo com guitarras liiiindas, "Prolong a Stay" também, "Blueprints" para mim foi a estrela do disco (se eu pudesse achar o disco para comprar certamente já tinha furado de tanto ouví-la).

    Enfim... acho que o Amoral só tem a ganhar com toda essa evolução, conheci a banda justamente pela troca do vocalista, e foi uma ótima escolha de fato, eles provaram que não tem medo de mudanças e rumo e go ahead! :)

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