O rockeiro oco

Você conhece o tipo: o cara diz que é fã, doente pelo Led Zeppelin, e só conhece “Stairway to Heaven”, “Rock and Roll” e “Black Dog”. O indivíduo se declara apaixonado pelo Deep Purple, mas não sabe citar nenhuma canção da banda além de “Smoke on the Water” e “Highway Star”. É um fanático pelo Black Sabbath, mas não conhece nada além de “Paranoid" e “War Pigs”. É o fã do Metallica que pode escolher o que a banda irá tocar em um show, mas escolhe “Enter Sandman” e todas as de sempre pela milionésima vez. É o headbanger que tem certeza de que o heavy metal se resume a Iron Maiden, e ponto final.

Há anos o acesso à música mudou, e ficou muito mais fácil. Antigamente, era preciso comprar LPs ou qualquer outro formato, e o compartilhamento de canções de dava apenas através de outras mídias, como as fitas-cassete e os CD-Rs. Hoje, basta colocar o nome da qualquer banda no Google, no YouTube e em qualquer serviço de streaming para ter acesso instantâneo à praticamente tudo que o artista gravou.

Vai ver que a gente é que é diferente. E provavelmente seja isso mesmo. A imensa maioria das pessoas escuta música apenas de forma casual, como trilha para outras atividades. Só uma minoria se aprofunda de maneira substancial nas carreiras e trajetórias de seus ídolos.

O mais interessante disso tudo é que o estereótipo do fã de rock, a figura que está no inconsciente coletivo quando pensamos no personagem, está muita mais aliado com a imagem que o rockeiro oco citado no início do texto procura transmitir do que com o que o cara que realmente ouve música mais a fundo realmente é. Pessoas andando nas ruas com coturnos, coletes jeans e camisetas pretas do Nirvana, Legião e Raul Seixas (isso sofre apenas pequenas variações, com um Iron Maiden aqui e um Guns N’ Roses acolá) enquanto a temperatura namora os 40 graus são um clichê das ruas brasileiras, e representam com exatidão esses indivíduos.


Claro que cada um tem a sua maneira de se relacionar com a música, como já defendemos diversas vezes em outros posts aqui no site. Mas não deixa de ser estranho, e até mesmo burro e estúpido, que os doentes por Led, Sabbath e Purple ainda não tenham dado o passo além de “Stairway”, “Paranoid” e “Smoke”. E, na boa, provavelmente nunca darão …

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