Review: Mano Brown - Boogie Naipe (2016)


Mano Brown já faz parte da cultura pop brasileira. Figura central do Racionais MC’s, desde 1988 vem cantando letras afiadas, que denunciam de maneira explícita a violência policial, a desigualdade social, o preconceito racial e outros problemas infelizmente comuns à sociedade brasileira. Com álbuns já clássicos como Raio X Brasil (1993), Sobrevivendo no Inferno (1997) e Nada Como um Dia Após o Outro Dia (2002), a curta discografia do Racionais compensa a oferta limitada com a contundência e a eficiência, tanto no discurso quando no aspecto musical.

Pois bem. Nesse final de um 2016 que parece que nunca irá terminar, Mano Brown lançou o seu primeiro álbum solo. Boogie Naipe é um disco surpreendente, não pela reconhecida capacidade criativa de seu mentor, mas sim por mostrar um outro lado de Brown. O hip-hop pouco aparece no trabalho. Boogie Naipe é um trabalho que bebe na riquíssima fonte da black music brasileira, principalmente aquela produzida durante os anos 1970 e que foi a trilha sonora dos bailes que marcaram uma geração. 

Com influências que vão de Tim Maia a Banda Black Rio, passando por Cassiano, Toni Tornado, Wilson Simonal e toda a turma do funk, soul e groove setentista, Brown entrega um disco cheio de lirismo, com letras que deixam de lado a denúncia social e apostam em temas como o amor, o romantismo e o cotidiano do coração. Musicalmente, o trabalho amplia consideravelmente o espectro sonoro de Mano Brown, deixando as batidas características do rap de lado e trilhando pelo soul, pelo charm, pelo R&B e outras sonoridades mais sutis.

Bonito pra caramba, Boogie Naipe é um tributo a um passado que boa parte do público atual não conhece, mas que está aí para ser redescoberto e adorado como merece. Produzido pelo próprio Mano Brown ao lado de Lino Krizz, o trabalho conta com a participação especial de Leon Ware (parceiro de Marvin Gaye, outra das inspirações de Brown para o disco), Hyldon, Seu Jorge, Du Bronks, Helião, DJ Cia, Don Pixote, Max de Castro e outros, o que ajuda a acentuar a pluralidade de influências do álbum.

Longo, mas recompensador, Boogie Naipe demonstra a maturidade artística atingida por Mano Brown, capaz de levar um dos mais emblemáticos nomes do rap brasileiro por um caminho totalmente novo e inesperado, mas igualmente fascinante como os seus trabalhos ao lado do Racionais MC’s.

Apenas excelente!

Comentários