Review: Vespas Mandarinas - Daqui pro Futuro (2017)


Mudanças de sonoridade fazem parte da história do rock. Um sem número de grandes bandas experimentou novos rumos ao longo de sua história, com resultados tanto bons quanto ruins. Um dos maiores exemplos é o U2: do som messiânico e épico dos primeiros discos que conquistou milhões de fãs em clássicos como The Joshua Tree (1987), o grupo se reinventou de maneira sublime em Achtung Baby (1991), experimentou até não poder mais em Zooropa (1993) e Pop (1997) e retomou o caminho do pop no espetacular All That You Can’t Leave Behind (2000).

O Vespas Mandarinas obviamente não é o U2, e isso faz uma grande diferença. Em seu segundo álbum, a banda de Chuck Hipolitho e Thadeu Meneghini deixa totalmente de lado o rock cheio de energia e cativante do ótimo disco de estreia, Animal Nacional (2013), e entrega um som descaradamente pop e insosso. Não temos mais riffs, não temos mais refrãos chicletes, não temos mais nada de interessante. O que surge é uma música que traz influências de MPB, uns toques de Skank, umas influências de indie descabidas, tudo sem identidade e carregado com uma pretensão artística que vai do nada a lugar nenhum.

Pra piorar, a banda posa embalada para consumo imediato, com Chuck, outrora uma das referências do novo rock BR, em fotos sem camisa como um sub-Justin Bieber, enquanto Meneghini quer ser Devo mas só parece um hipster abestalhado.

Daqui pro Futuro é constrangedoramente ruim, e não sou apenas eu que digo isso. Leia abaixo trechos de alguns reviews publicadas na imprensa especializada brasileira:

Daqui pro Futuro é um disco que não honra seu título, o talento dos convidados envolvidos ou a música brasileira atual. Se tanto, tem valor como prova documental da cegueira das grandes gravadoras para o segmento pop rock. Decididamente, um dos álbuns mais equivocados dos últimos 10 anos. (Scream & Yell)

Daqui Pro Futuro é um trabalho bastante confuso que traça caminhos incertos para Vespas Mandarinas. Com muitas dúvidas e poucas certezas, é possível encarar o disco como uma espécie de ensaio, onde a banda arrisca novas formas de experimentar e compor - o que, de qualquer forma, é extremamente válido. Ficamos no aguardo para saber se isto foi apenas um deslize ou o início de uma trágica tendência. (Monkey Buzz)

A higienização no rock também representa riscos e o Vespas Mandarinas caminha nessa corda: pode perder parte dos fãs que sustenta suas bases e não conseguir chegar aos novos ouvidos. Ou pode chegar aos novos ouvidos e ficar preso a eles e a uma sonoridade de teto baixo. Sua música não está simplesmente mais leve ou mais pop, mas mais pobre e menos criativa. Vale a pena pagar o preço? (Estadão)

É muito ruim ver uma banda regredir como eles fizeram. Animal Nacional já não era lá essas coisas, agora a atual formação vem com essa patacoada em forma de disco. E a principal questão aqui não é eles quererem atingir um novo público – eles têm direito de fazer e escolher o caminho que bem desejarem para suas carreiras. Problema é saber fazê-lo, o que não é o caso aqui. É um álbum descartável para um Vespas Mandarinas de potencial, mas jogado no lixo por escolher o caminho mais fácil. (Music on the Run)

Não há problema algum em inovar e buscar novos caminhos sonoros, e quem acompanha o site sabe que aprecio pra caramba quem tem a coragem de fazer isso. No entanto, também sou um apreciador da antológica frase de Miles Davis: “existem apenas dois tipos de música: a boa e a ruim”. E o novo disco do Vespas Mandarinas é um caso exemplar onde a exploração de novas sonoridades, além de detonar a identidade que a banda estava construindo, não funciona em nenhum aspecto. É música ruim em seu melhor estado - e isso está longo de ser um elogio.

Comentários