Review: Wardruna - Runaljod - Ragnarok (2016)


Não vou mentir: quando coloquei esse disco para tocar, estranhei. Esperava um black metal agressivo, e em seu lugar surgiu uma música atmosférica e climática. Então, parei e fui pesquisar mais sobre o Wardruna para entender melhor o que chegava aos meus ouvidos. Ainda bem que fiz isso, pois a recompensa sonora ao final da audição foi gratificante.

Runaljod - Ragnarok, lançado na Europa em outubro do ano passado e que agora ganha uma edição nacional pela Heavy Metal Rock, é o terceiro disco da banda norueguesa Wardruna. Seu cérebro e principal integrante é Einar Selvik, que integrou o Gorgoroth entre 2000 e 2004 como baterista, atendendo pelo pseudônimo de Kvitrafn. O Wardruna nasceu em 2003 de uma ideia de Selvik, Gaahl (vocalista do Gorgoroth) e Lindy Fay Hella, e desde o início teve como objetivo produzir música inspirada na cultura e na tradição nórdicas, utilizando para tanto instrumentos antigos e sonoridades de séculos passados. O que temos, logicamente, está longe de soar minimamente como metal. O sai dos alto-falantes é uma música climática, cinematográfica, atmosférica e com rico conteúdo étnico. Os vocais entregam cantos enquanto o instrumental, invariavelmente marcado por tambores e berrantes, constrói arranjos crescentes e épicos. Resumindo: uma boa definição para música do Wardruna seria classificá-la como uma espécie de trilha para o seriado Vikings.


Este terceiro disco é o encerramento de uma trilogia iniciada com Runaljod - Gap Var Ginnunga (2009) e Runaljod - Yggdrasil (2013). A temática explorada por Selvik é inspirada nas vinte e quatro runas de Elder Futhark, um dos mais antigos alfabetos conhecidos e que foi utilizado por tribos germânicas e nórdicas entre o segundo e o oitavo século, e é considerado uma das raízes do idioma anglo-saxão.

O álbum traz dez músicas, em um trabalho que entrega uma beleza inegável. Não é música para ser consumida de forma casual e instantânea, longe disso. Trata-se de um trabalho de pesquisa imenso, repleto de referências histórias, transformado em um álbum que vai muito além do que se encontra, de modo geral, na música atual. É um disco que exige uma parceria do ouvinte, que precisa estar disposto e com estado de espírito para descobrir uma universo sonoro novo e diferente. Mal comparado, é como ouvir trilhas de filmes e séries que ganham uma dimensão muito maior quando acompanhadas de cenas, mas aqui surgem sem elas.

Após a estranheza inicial, devo dizer que gostei muito não apenas deste terceiro disco do Wardruna, mas da proposta da banda como um todo. Runaljod - Ragnarok é um trabalho muito rico e que vem acompanhado de um belo material gráfico na edição nacional da Heavy Metal Rock, com direito a embalagem slipcase e um longo encarte.

Permita-se desbravar o novo. A recompensa é gratificante.

O disco pode ser adquirido no site da Heavy Metal Rock.

Comentários

  1. Olá, só passando para comentar que você acertou em cheio quando descreveu o som de Wardruna como uma espécie de trilha sonora da série Vikings: Einar Selvik está no grupo de instrumentistas que gravam as composições da série.

    E se gostou do som deles, recomendo que confira também Gjallarhorn, outra banda nos mesmos moldes de Wardruna, mas com seus próprios méritos, e que explora a sonoridade da cultura finlandesa.

    Abraço, e parabéns pelo site! (cheguei aqui através do Whiplash horas atrás e estou adorando as resenhas)

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