Não vou mentir: quando coloquei esse disco para tocar, estranhei. Esperava um black metal agressivo, e em seu lugar surgiu uma música atmosférica e climática. Então, parei e fui pesquisar mais sobre o Wardruna para entender melhor o que chegava aos meus ouvidos. Ainda bem que fiz isso, pois a recompensa sonora ao final da audição foi gratificante.
Runaljod - Ragnarok, lançado na Europa em outubro do ano passado e que agora ganha uma edição nacional pela Heavy Metal Rock, é o terceiro disco da banda norueguesa Wardruna. Seu cérebro e principal integrante é Einar Selvik, que integrou o Gorgoroth entre 2000 e 2004 como baterista, atendendo pelo pseudônimo de Kvitrafn. O Wardruna nasceu em 2003 de uma ideia de Selvik, Gaahl (vocalista do Gorgoroth) e Lindy Fay Hella, e desde o início teve como objetivo produzir música inspirada na cultura e na tradição nórdicas, utilizando para tanto instrumentos antigos e sonoridades de séculos passados. O que temos, logicamente, está longe de soar minimamente como metal. O sai dos alto-falantes é uma música climática, cinematográfica, atmosférica e com rico conteúdo étnico. Os vocais entregam cantos enquanto o instrumental, invariavelmente marcado por tambores e berrantes, constrói arranjos crescentes e épicos. Resumindo: uma boa definição para música do Wardruna seria classificá-la como uma espécie de trilha para o seriado Vikings.
Este terceiro disco é o encerramento de uma trilogia iniciada com Runaljod - Gap Var Ginnunga (2009) e Runaljod - Yggdrasil (2013). A temática explorada por Selvik é inspirada nas vinte e quatro runas de Elder Futhark, um dos mais antigos alfabetos conhecidos e que foi utilizado por tribos germânicas e nórdicas entre o segundo e o oitavo século, e é considerado uma das raízes do idioma anglo-saxão.
O álbum traz dez músicas, em um trabalho que entrega uma beleza inegável. Não é música para ser consumida de forma casual e instantânea, longe disso. Trata-se de um trabalho de pesquisa imenso, repleto de referências histórias, transformado em um álbum que vai muito além do que se encontra, de modo geral, na música atual. É um disco que exige uma parceria do ouvinte, que precisa estar disposto e com estado de espírito para descobrir uma universo sonoro novo e diferente. Mal comparado, é como ouvir trilhas de filmes e séries que ganham uma dimensão muito maior quando acompanhadas de cenas, mas aqui surgem sem elas.
Após a estranheza inicial, devo dizer que gostei muito não apenas deste terceiro disco do Wardruna, mas da proposta da banda como um todo. Runaljod - Ragnarok é um trabalho muito rico e que vem acompanhado de um belo material gráfico na edição nacional da Heavy Metal Rock, com direito a embalagem slipcase e um longo encarte.
Permita-se desbravar o novo. A recompensa é gratificante.
O disco pode ser adquirido no site da Heavy Metal Rock.
O disco pode ser adquirido no site da Heavy Metal Rock.
Olá, só passando para comentar que você acertou em cheio quando descreveu o som de Wardruna como uma espécie de trilha sonora da série Vikings: Einar Selvik está no grupo de instrumentistas que gravam as composições da série.
ResponderExcluirE se gostou do som deles, recomendo que confira também Gjallarhorn, outra banda nos mesmos moldes de Wardruna, mas com seus próprios méritos, e que explora a sonoridade da cultura finlandesa.
Abraço, e parabéns pelo site! (cheguei aqui através do Whiplash horas atrás e estou adorando as resenhas)
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