Review: Satyricon - Deep Calleth Upon Deep (2017)


Uma das mais tradicionais bandas de black metal da Noruega, o Satyricon segue na ativa e, mais importante, mostrando criatividade. Fundado em 1991 e com pelo menos um clássico na bagagem - o incrível Nemesis Divina (1996) -, o hoje duo habitado por Satyr (vocal, guitarra, baixo e teclado) e Frost (bateria) lançou em setembro de 2017 o seu nono álbum, Deep Calleth Upon Deep. O disco saiu este ano no Brasil pela Hellion Records.

Realçando uma característica que sempre esteve presente no som do Satyricon, Deep Calleth Upon Deep traz muitos elementos de metal tradicional, que dividem espaço com a conhecida sonoridade black. Diria até que o metal tradicional é o principal elemento deste disco, o que faz com que as oito faixas do álbum levem a música do Satyricon para um ambiente próximo do occult rock e de nomes como o Tribulation. A massa sonora característica do black metal sai de cena para dar lugar a uma produção mais simples e discreta, mas também sem a crueza proposital que muitas vezes encontramos nos discos das bandas norueguesas nascidas no início da década de 1990.

A capa traz a uma ilustração obscura do artista Edvard Munch, autor do icômico O Grito, intitulada Todeskuss (em português, O Beijo da Morte). Munch a produziu em 1899. 

O processo de composição de Deep Calleth Upon Deep começou em 2015, mas precisou ser interrompido após Satyr ser diagnosticado com um tumor no cérebro. O músico foi submetido a um tratamento não cirúrgico, passou meses se recuperando e só então retomou o trabalho. Anders Odden, que toca baixo nos shows da banda, participou da gravação, assim como o saxofonista de jazz Hakon Kornstad e alguns músicos da Orquestra Filarmônica de Oslo. 

O interessante é que, mesmo explorando um universo onde o black metal divide espaço com o metal tradicional e até mesmo com elementos de post-rock, Deep Calleth Upon Deep consegue manter o ar hipnótico do típico black metal norueguês. Muito disso vem dos riffs de guitarra que se mantém na escola norueguesa, com aqueles típicos acordes cíclicos alternados com passagens instrumentais que transbordam melodia. Ainda que não alcance o nível de Nemesis Divina, este novo álbum mostra uma banda ainda inquieta e que segue evoluindo. Não à toa, o disco venceu a categoria de Best Metal Album na edição de 2017 do Spellemannprisen, o Grammy norueguês.

Caso você nunca tenha se aventurado pela polêmica geração de bandas norueguesas dos anos 1990, que muitas vezes são comentadas apenas pelos atos polêmicos que levaram à queima de igrejas históricas, os vários suicídios de músicos e pelos crimes que cometeram (como o assassinato de Euronymous por Varg Vikernes em 1993), essa versão mais suavizada do Satyricon pode ser uma ótima porta de entrada. A banda consegue manter o ar de misticismo de seus colegas de geração, e é uma sobrevivente orgulhosa de um dos períodos mais criativos e controversos do metal extremo.



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