Discoteca Básica Bizz #193: Faith No More - The Real Thing (1989)


Na transição da avalanche do Guns N' Roses para a devastação do Nirvana, a biosfera pop foi assolada pela febre Faith No More. A década de 1990 engatinhava quando o grupo californiano sugeriu uma opção viável - artística, estética e comercialmente - ao modelo personificado por Axl Rose. Antes de Kurt Cobain dominar a paisagem, Mike Patton tornou-se o cara a ser imitado e The Real Thing o som a ser perseguido.

Era o terceiro disco de uma banda que ameaçava decolar desde a boa receptividade do single "We Care a Lot", de Introduce Yourself (1987). Para Patton, a estreia em uma formação que, por muito menos do que ele fazia à frente de seu outro grupo, Mr. Bungle, já havia expulsado o ex-vocalista, Chuck Mosely.

Segundo uma divindade do rock é rock mesmo, no mínimo duas dessas três condições têm de estar rolando para uma banda se manter unida: os integrantes serem muito amigos, gostarem muito da música que fazem ou estarem ganhando muito dinheiro. Patton não era amigo de ninguém ali. Mas o barulho que compunham segurou a onda até a grana começar a rolar.

Do choque entre o vocalista e um baixista mandão (Billy Gould), um tecladista new wave (Roddy Bottum), um guitarrista heavy (Jim Martin) e um baterista tentacular (Mike Bordin) resultou uma sonoridade alérgica a rótulos. Funk metal, simplificou a coisa, escorado pelo peso quebrado de "Falling to Pieces", "From Out to Nowhere"e "Epic".


Mas o menu de The Real Thing oferece outros sabores. A versatilidade de Patton - ora debochado, melódico, feroz, ora canastrão -, desafia e é desafiada pelos demais integrantes em "Underwater Love", "Surprise! You're Dead" ou "Zombie Eaters". Funk, se possível. Pop, se necessário. Metal, de preferência.

Na época, Patton dizia imaginar o futuro mais com a cara de "Easy" (Commodores) do que da versão de "War Pigs" (Black Sabbath), gravada em The Real Thing. Não foi o que se ouviu no disco seguinte. Igualmente brilhante e difícil, Angel Dust (1992) fincou os pilares para a construção do nu metal.

Para o Faith No More, quanto mais pesado, maior o tombo.

Texto escrito por Emerson Gasperin e publicado na Bizz #193, de setembro de 2005

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