Filmes sobre Música: Alta Fidelidade (2000)


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Estréia aqui mais uma sessão fixa da Collector´s Room. Esse espaço será dedicado aqueles filmes que abordam a nossa principal paixão, seja como prato principal ou como pano de fundo. Se você tiver sugestões sobre os títulos que quer ver nessa sessão, mande um email pra gente. 


Para nós, colecionadores, "Alta Fidelidade" é o filme definitivo. Não conheço ninguém que não se enxergue no personagem Rob Gordon e em sua paixão pelos discos.

Baseado no livro do escritor inglês Nick Hornby, lançado originalmente  em 1995, a obra ganhou a sua versão cinematográfica em 2000. Dirigido por Stephen Frears, o filme tem o excelente John Cusack no papel de Rob Fleming (no filme o sobrenome do personagem principal foi alterado em relação ao livro, onde ele é apresentado como Rob Gordon), um colecionador inveterado, dono de uma loja de discos ( a Championship Vinyl), que está enfrentando uma crise no relacionamento com sua esposa-namorada-noiva Laura (Iben Hjejle). O pano de fundo para tudo isso é um delicioso mundo repleto de referências pop, todas centradas no assunto que nós amamos: a música. 


Gordon tem o hábito, como muitos de nós, de definir e separar as fases de sua vida pela sua coleção de discos. Na Championship Vinyl, onde trabalha ao lado do introspectivo Dick (Todd Louiso) e do espalhafatoso Barry (Jack Black), Rob passa os dias ouvindo música e elaborando listas ao lado da dupla. Aliás, esse é um dos aspectos mais legais do filme, já que a gente, do outro lado da tela, concorda e discorda com as escolhas do trio, mas não passa imune a elas.

São inúmeros top#5 em todo o filme, mas alguns dos mais legais são esses:



Singles Favoritos:
1. Marvin Gaye - Let´s Get it On (Julho de 1973)
2. Aretha Franklin - The House that Jack Built (Julho de 1968)
3. Chuck Berry - Back in the USA (Junho de 1959)
4. The Clash - (White Man) In Hammersmith Palais (Junho de 1978)
5. Al Green - Tired of Being Alone (Julho de 1971) 



Top#5 Melhores Aberturas de Discos:
1. Janie Jones - Do álbum "The Clash" (1977), do Clash
2. Thunder Road - Do "Born to Run" (1975), de Bruce Springsteen
3. Smells Like Teen Spirit - Do "Nevermind" (1991), do Nirvana
4. Let´s Get it On - Do disco homônimo (1973), de Marvin Gaye
5. Return of the Grievous Angel - Do "Grievous Angel" (1974), de Gram Parsons

Top#5 Emprego dos Sonhos:
1. Jornalista da New Musical Express entre 1976-1979
2. Produtor da Atlantic Records entre 1964-1971
3. Músico (exceto de rap ou música clássica)
4. Diretor de Cinema (de qualquer gênero, menos cinema alemão)
5. Arquiteto



Na verdade, Rob Gordon é o alter ego de Nick Hornby, que, além de escritor, também é um colecionador de discos inveterado. As infinitas citações presentes em "Alta Fidelidade" saíram de sua mente, e mostram a enorme paixão de Hornby pela cultura pop.

Tanto o cartaz do filme quanto a capa de sua trilha sonora são uma referência à clássica arte da capa do álbum "A Hard Day´s Night", lançado pelos Beatles em 1964. Ainda sobre a trilha, por se tratar de um filme não só sobre música, mas sobretudo sobre colecionadores, ela contém quinze verdadeiros petiscos escolhidos a dedo em mais de cinquenta anos de música pop. Confira o track list e comprove:


1. The Thirteenth Floor Elevators - You're Gonna Miss Me 
2. The Kinks - Everybody's Gonna Be Happy 
3. John Wesley Harding - I'm Wrong About Everything 
4. The Velvet Underground - Oh! Sweet Nuthin' 
5. Love - Always See Your Face 
6. Bob Dylan - Most of the Time 
7. Sheila Nicholls - Fallen for You 
8. The Beta Band - Dry the Rain 
9. Elvis Costello & The Attractions - Shipbuilding 

10. Smog - Cold Blooded Old Times 
11. Jack Black - Let's Get It On 
12. Stereolab - Lo Boob Oscillator 
13. Royal Trux - Inside Game 
14. The Velvet Underground - Who Loves the Sun 
15. Stevie Wonder - I Believe (When I Fall in Love It Will Be Forever) 


Uma das passagens mais legais do livro, e que acabou ficando de fora da versão cinematográfica de "Alta Fidelidade" apesar de constar nas cenas extras do DVD, acontece quando Rob Gordon recebe um telefonema de uma mulher que acabou de descobrir que seu marido a está traindo com outra. Enfurecida, ela decide se livrar do que o marido mais gosta, e, sabendo da sua paixão pelos discos, liga para Rob oferecendo a coleção do cara para ele. 

Nosso herói dá de cara com uma coleção repleta de itens de cair o queixo, onde o principal destaque são centenas, milhares de singles de 7 polegadas de época, que por si só já contam a história do rock em suas faixas, além de valerem uma pequena fortuna. Rob fica tentadíssimo a levar tudo, ainda mais quando pergunta à vendedora quanto ela quer e ela responde que o preço não importa, que ele pode pagar a quantia que quiser e levar tudo. Gordon respira fundo, coloca na balança o seu desejo de ter aqueles itens e uma espécie de solidariedade entre os colecinadores - já que não gostaria que fizessem aquilo com ele - e acaba levando apenas alguns discos. O legal é que no livro Nick Hornby cita, nominalmente, vários dos títulos que Rob encontra nessa mina de ouro. Realmente de dar água na boca.


Outro momento antológico se dá lá pela metade de "Alta Fidelidade", quando Gordon ensina como gravar um fita - hoje CD - para alguém. Segundo ele, o legal é começar com uma faixa de alto impacto, cativante, depois baixar um pouco o ritmo, encaixando canções despretenciosas no meio da compilação, e retornar com força total no final, acabando em alto estilo. Querem saber?  Fiz o teste e funciona.


Ainda há a infinita e eterna arrumação dos discos, que Rob vai empurrando com a barriga o filme todo, até chegar a uma configuração que demonstra o quão grande é o seu amor pela música: ele organiza sua coleção por ordem cronológica, mas não partindo da data em que cada álbum foi lançado, mas sim do momento em que cada um daqueles milhares de títulos entrou em sua vida. Confesso que já tentei fazer algo similar, mas me faltou memória no meio do caminho.

Enfim, "Alta Fidelidade" é um filme delicioso para quem ama a música como a gente. Já o assisti uma dezena de vezes, e volta e meia coloco de novo o DVD no player e passo momentos agradáveis ao lado de Rob, Laura, Dick e Barry, encontrando novos detalhes que tornam o filme cada vez melhor. 

Encerrando, uma frase de nosso amigo Rob Gordon que sintetiza bem essa nossa paixão eterna pela música: "não confie em ninguém com menos de 500 discos" ...


Comentários

  1. boa dica, vou procurar esse filme pra ssistir o quanto antes.

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  2. Ramon, vale a pena comprar o DVD, porque o filme é bem legal. Té mais.

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  3. Esse é um grande filme sobre amor e discos.Jack Black rouba a cena com suas confusões e piadas bem sacadas.O dvd é ótimo e tem alguns extras...

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  4. Pois é Fábio, diria que é um grande filme sobre amor, discos e amor aos discos. Um dos meus filmes favoritos, desde sempre. Tenho o DVD e o livro, só me falta o CD com a trilha. Té mais.

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  5. Tenho o cd também, fundamental para o cd e o livro (esse eu não tenho).Tenho o "Fever Pitch" ("Febre de Bola") do Hornby, excelente leitura...

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  6. "O que veio primeiro: a música ou a infidelidade?"

    O personagem do Cusack, de tanto trair a namorada, leva um belo par de chifres no meio do filme... e ainda por cima a culpa. Cara de pau!
    Se não me engano, dirigido pelo Stephen Frears. Bom, agradável, mas um filme menor. Cusack e J. Black são ótimos.

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  7. Muito bom!
    Um filme muito legal, como foi descrito, agradável e, pra quem tem a música como paixão, é maravilhoso.
    Altamente recomendado!

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  8. Tb tenho o DVD. A organizãção dos discos de forma "autobiográfica" é que é um grande desafio. hehehe. Grande história, grande livro, grande trilha.. ótimo filme

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  9. Pois é Fábio, diria que é um grande filme sobre amor, discos e amor aos discos. Um dos meus filmes favoritos, desde sempre. Tenho o DVD e o livro, só me falta o CD com a trilha.

    isso que é em exemplo de colecionador hein!! :)

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  10. Eu diria que é o filme da minha vida ...

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